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TV NO MUNDO
Sucesso de 'Teletubbies' é mistério
ESTHER HAMBURGER
em Austin
Amanhã, às 8h30, estréia "Teletubbies" na
Globo. O inusitado seriado
inglês é um dos fenômenos
recentes da TV mundial.
Em 1998, por ocasião da estréia americana na PBS,
meu comentário apontava
uma certa letargia que o
programa me inspirou.
Mas o sucesso da co-produção da BBC de Londres
com a Ragdoll, uma produtora independente, é tal
que já inspira cópias em
outras estações dos EUA.
O canal da Disney apresenta "Rolie Polie Olie",
um desenho animado de
figurinhas também balbuciantes, que, em vez de
monitores de TV na barriga, têm antenas na cabeça.
"Teletubbies" faz sucesso indiscutível de público
nos mais diversos países.
Vende milhares de bonecos. Como ocorre com frequência, o sucesso inesperado é difícil de explicar e
provoca polêmica.
As críticas usuais a programas de televisão não se
aplicam a este caso. Aqui
não há excesso de violência, sexo, ou qualquer outra apelação ao gosto sensacionalista.
Ao contrário, "Teletubbies" é produto de um
projeto cuidado com preocupações educacionais.
Questiona-se então a coerência de uma proposta
educacional desinteressada que vem acompanhada
pelo comércio dos produtos relacionados aos personagens.
Ou o suposto efeito negativo no desenvolvimento
fonoaudiológico das crianças telespectadoras. As reclamações me parecem
ranzinzas em tempos de
tanta coisa muito pior.
Mas se essas críticas não
me convencem, e o fascínio do programa tampouco me sensibiliza. Para
mim, o sucesso permanece
um mistério.
O radicalismo formal da
proposta gera interesse. Na
sua busca de, em vez de
trazer a criança de 1 ano de
idade para o universo do
adulto, trazer o veículo
adulto para o universo infantil, "Teletubbies" procura se aproximar do que
poderia ser identificado
como tal.
O ritmo lento e literalmente repetitivo se soma a
um cenário que a estética
inglesa imagina como onírico infantil. Sons desconexos e meias palavras procuram mimetizar os ruídos
dos primeiros meses da infância.
Curiosamente, o programa que se tornou mania
nacional na Inglaterra e
fascina crianças de 1 e 2
anos também desperta o
interesse de crianças mais
velhas e adolescentes.
Talvez a falta de ousadia e
inovação de grande parte
da produção televisiva seja
tal que as novidades de forma já justificam a assistência. Talvez "Teletubbies"
fascine justamente porque
desafia pouco.
"Teletubbies" não procura convencer ninguém
de nada. Não apresenta
blocos de informações essenciais à compreensão de
sequências seguintes.
A estréia do programa
inglês que vai encurtar o
auditório da Angélica promete polarizar.
E-mail: ehamb@uol.com.br
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