São Paulo, domingo, 11 de março de 2001

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MAKING OF

"Silvia Poppovic" revela seu manancial de personagens

Produtores contam como conseguem achar pais travestis, mulheres seviciadas e casais homossexuais

DA REPORTAGEM LOCAL

NÃO É todo dia que se vê travestis falando sobre seus filhos ou mulheres indo a público relatar casos de abuso sexual que sofreram. Mas a produção do "Programa Silvia Poppovic" parece não ter problemas para encontrar personagens como esses. A atração consegue constantemente fazer de tais assuntos temas de seus debates, todos ilustrados com declarações sinceras, segundo a produção, feitas na primeira pessoa.
Para a diretora do programa, Adriana Caldas, "muitas vezes é mais fácil se abrir diante das câmeras do que numa conversa reservada". No entender de Rose Favero, produtora-executiva da atração, a empatia da apresentadora Silvia Poppovic contribui para que as confissões surjam até espontaneamente: "As pessoas vêem a Silvia como uma amiga íntima, que as trata com respeito".
Os entrevistados também citam a confiabilidade como um dos fatores que contam a favor da entrevistadora. "Ela é muito sensível, você sente que a Silvia se envolve. É natural desabafar com as pessoas em quem confiamos", diz Marisa Mello Martins, presidente da ONG Parábola, que atende a crianças vítimas de abuso e, ela própria, vítima de violência sexual na infância. "Nunca tinha falado tão claramente sobre o que sofri antes de ir ao programa dela", conta.
Casos como o de Marisa estão entre os mais difíceis de serem transformados em tema do programa. "Já aconteceu de convencermos pais cujos filhos sofreram violência sexual a falarem no ar. É um assunto dramático, que muitos evitam. Mas alguns sentem necessidade de desabafar", diz Silvia Poppovic.
"Dependendo do tema que iremos tratar, buscamos entidades de direitos da mulher ou de assistência a menores, por exemplo. Mas, muitas vezes, nós é que somos procurados", diz Rose Favero.
Quando isso acontece, conta ela, certos procedimentos são seguidos. "Se alguém que assistiu a uma edição do programa nos procura para dizer que viveu algo parecido, anoto nome e telefone em um caderno em que guardo também um resumo da história. Quando decidimos abordar um tema próximo ao do relato, ligamos para a pessoa. Se a história não é real, não resiste ao segundo telefonema."
Mas há também entrevistados que resistem a mais de um telefonema e até a mais de um programa. É o caso da auditora fiscal Sarandah Villas-Bôas, 55. Homossexual assumida, após aparecer juntamente com sua companheira em uma edição da atração -cujo tema era "Sou Mulher que Gosta de Mulher"-, Sarandah despertou a atenção de Lúcia Santos, casada e mãe de um filho.
"Ela, que morava em Goiânia, me viu no ar e se apaixonou. Soube que eu residia no Rio e obteve meu telefone. Começamos a conversar, e ela me enviou fotos e fitas de vídeo com imagens suas. Até que ela resolveu me visitar, e estamos juntas até hoje. Graças ao programa, ganhei um presentão."
Não só ganhou uma nova companheira, 27 anos mais nova que ela, como apareceu em uma nova edição do programa. Desta vez, o tema parecia ter sido escolhido sob medida para a entrevistada: "Larguei Tudo para Ficar com Ela". (BRUNO GARCEZ)

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