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MAKING OF
"Silvia Poppovic" revela seu manancial de personagens
Produtores contam como conseguem achar pais travestis, mulheres seviciadas
e casais homossexuais
DA REPORTAGEM LOCAL
NÃO É todo dia que se vê travestis falando sobre seus filhos ou mulheres
indo a público relatar casos de abuso sexual que sofreram. Mas a produção do
"Programa Silvia Poppovic" parece não
ter problemas para encontrar personagens como esses. A atração consegue
constantemente fazer de tais assuntos temas de seus debates, todos ilustrados
com declarações sinceras, segundo a
produção, feitas na primeira pessoa.
Para a diretora do programa, Adriana
Caldas, "muitas vezes é mais fácil se abrir
diante das câmeras do que numa conversa reservada". No entender de Rose Favero, produtora-executiva da atração, a
empatia da apresentadora Silvia Poppovic contribui para que as confissões surjam até espontaneamente: "As pessoas
vêem a Silvia como uma amiga íntima,
que as trata com respeito".
Os entrevistados também citam a confiabilidade como um dos fatores que
contam a favor da entrevistadora. "Ela é
muito sensível, você sente que a Silvia se
envolve. É natural desabafar com as pessoas em quem confiamos", diz Marisa
Mello Martins, presidente da ONG Parábola, que atende a crianças vítimas de
abuso e, ela própria, vítima de violência
sexual na infância. "Nunca tinha falado
tão claramente sobre o que sofri antes de
ir ao programa dela", conta.
Casos como o de Marisa estão entre os
mais difíceis de serem transformados em
tema do programa. "Já aconteceu de
convencermos pais cujos filhos sofreram
violência sexual a falarem no ar. É um assunto dramático, que muitos evitam.
Mas alguns sentem necessidade de desabafar", diz Silvia Poppovic.
"Dependendo do tema que iremos tratar, buscamos entidades de direitos da
mulher ou de assistência a menores, por
exemplo. Mas, muitas vezes, nós é que
somos procurados", diz Rose Favero.
Quando isso acontece, conta ela, certos
procedimentos são seguidos. "Se alguém
que assistiu a uma edição do programa
nos procura para dizer que viveu algo
parecido, anoto nome e telefone em um
caderno em que guardo também um resumo da história. Quando decidimos
abordar um tema próximo ao do relato,
ligamos para a pessoa. Se a história não é
real, não resiste ao segundo telefonema."
Mas há também entrevistados que resistem a mais de um telefonema e até a
mais de um programa. É o caso da auditora fiscal Sarandah Villas-Bôas, 55. Homossexual assumida, após aparecer juntamente com sua companheira em uma
edição da atração -cujo tema era "Sou
Mulher que Gosta de Mulher"-, Sarandah despertou a atenção de Lúcia Santos,
casada e mãe de um filho.
"Ela, que morava em Goiânia, me viu
no ar e se apaixonou. Soube que eu residia no Rio e obteve meu telefone. Começamos a conversar, e ela me enviou fotos
e fitas de vídeo com imagens suas. Até
que ela resolveu me visitar, e estamos
juntas até hoje. Graças ao programa, ganhei um presentão."
Não só ganhou uma nova companheira, 27 anos mais nova que ela, como apareceu em uma nova edição do programa.
Desta vez, o tema parecia ter sido escolhido sob medida para a entrevistada:
"Larguei Tudo para Ficar com Ela".
(BRUNO GARCEZ)
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