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DUELO DE TITÃS
O programa "Gigantes do Ringue - Nova Geração", com jovens atletas, desperta a ira de veteranos, que foram excluídos da atração
Volta do "telecatch" à TV oculta luta nos bastidores
DA REPORTAGEM LOCAL
QUEM vê as cenas de luta travadas
no "Gigantes do Ringue - Nova Geração", exibido dentro do "Comando da
Madrugada" (Gazeta, sábado, 0h), mal
imagina que a verdadeira briga do programa está sendo travada nos bastidores.
"Eles estão pegando um pessoal não
treinado para a luta livre e desmerecendo
o restante. O "telecatch" pode perder a
credibilidade", diz Aparecido da Hora
Freitas, o Motoqueiro Trovão, 43, sobre a
atração exibida pela Gazeta.
Trovão é integrante da velha guarda da
luta livre e membro da Associação Brasileira de Luta Livre, cujos integrantes se
apresentavam no "Campeões do Ringue", exibido pela Record nos anos 80.
Juntamente com Michel Serdan, 57,
que atualmente é o responsável pelo novo "Gigantes do Ringue", Trovão era um
dos participantes de velhos programas
de luta livre, mas rompeu com o antigo
companheiro de ringues.
"Hoje, tudo mudou. Barbado e gordo
aqui não tem vez. O que atrai atualmente
é o corpo, estou apostando nisso. Os participantes são todos novos atletas. A
maioria, além de fisiculturismo, faz alguma outra luta", afirma Michel Serdan,
que diz se inspirar no estilo "pirotécnico"
das lutas exibidas na TV norte-americana pela WWF (World Wrestling Federation), farta em humor, encenações e efeitos visuais e sonoros.
"A nossa diferença em relação aos
americanos é que o público daqui gosta
mais de porrada. A WWF está muito
evoluída. Tem muito efeito, fumaça, jogo
de luz. Mas o que é bom para os EUA é
bom para o Brasil. Não somos uma colônia?", pergunta Serdan.
O estilo irreverente da luta livre americana é reproduzido com a inclusão de
personagens como Luca, o Stripper, que,
ao pisar no ringue, é "atacado" por um
grupo de mulheres, antes mesmo de encarar seu adversário. Há também Black
Star, um personagem gay que distribui
florzinhas para os demais lutadores.
No entender de Trovão, que se diz um
nacionalista, a escola norte-americana
na qual se inspira Serdan e os fisicultores
que integram seu programa não representam a legítima luta livre brasileira.
"O programa deles é cheio de robô.
Eles treinam luta livre por uma semana e
entram no ringue. Mas eles ainda aproveitam os personagens que já criamos
para fazer os deles", afirma o veterano.
Segundo Trovão, até mesmo o projeto
de criar o novo programa foi roubado
dos veteranos. "Entramos em contato
com Goulart de Andrade, mas, no dia de
assinar o contrato, lá estava o Toni Auad
(empresário do pugilista Popó e do grupo ligado a Serdan). Queriam que ele tomasse conta de tudo e que nós apenas
tomássemos parte", diz.
A versão de Michel Serdan é diferente.
"O Toni não furou ninguém. Ele foi chamado pela equipe do "Comando" para
dirigir o departamento comercial do
"Gigantes do Ringue". Demorei dez anos
para voltar às TVs porque não contava
com um responsável pela área comercial. Já o Trovão disse não querer passar
de patrão a empregado. Ele fez a opção
dele", afirma.
Auad está investindo em produtos ligados ao "Gigantes do Ringue". "Fechei
acordo para criar as figurinhas dos lutadores, que serão vendidas em chicletes, e
vamos comercializar dez fitas de VHS
com as lutas", diz o empresário.
Enquanto isso, os veteranos fazem
aparições em programas como "Silvio
Santos", do SBT, "Turma do Didi" e
"Programa do Jô", na Globo, e "Mulheres", na Gazeta. "Um programa surgirá
naturalmente, graças à nossa irmandade
e humildade", diz o Motoqueiro. "Se estou certo ou não, o tempo vai dizer",
contra-ataca Serdan. (BRUNO GARCEZ)
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