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São Paulo, domingo, 13 de abril de 2003

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CRÍTICA

O nada, o nada

BIA ABRAMO

AINDA o "Big Brother".
Então, o Dhomini ganhou os R$ 500 mil de prêmio e sua primeira aquisição será, se é que já não foi, um jet-ski. O que significa isso? Assim como no primeiro "Big Brother" em relação a Kléber Bam Bam, essa terceira edição do "reality show" criou uma espécie de temor coletivo de que a vitória de Dhomini fosse o fim da picada, pois significaria que forças do obscurantismo, da imbecilidade, da falta de vergonha na cara, da arrogância ignorante do brasileiro médio típico também venceriam. E, nesse caso, tais personagens passariam a representar, de alguma forma, o brasileiro médio ou aquilo que o brasileiro médio admira e até almeja.
Assim, no primeiro "Big Brother", dar o prêmio a Kléber Bam Bam seria também uma maneira de o público autocongratular-se pela sua própria estupidez e simploriedade intelectual. Até mesmo Kléber Bam Bam justificava sua popularidade, falando em "identificação" do público, embora dê para apostar que ele repetia a palavra sem estar lá muito seguro de seu significado. Por onde se dava essa "identificação", entretanto, não ficou nunca muito claro.
Segundo o mesmo raciocínio, o fato de Dhomini sair vencedor simbolizaria o estado calamitoso em que se encontram os parâmetros éticos dos brasileiros, portanto premiá-lo seria recompensar, e mesmo admitir como válidos, o machismo, a duplicidade, a corrupção, a violência. Com o final da terceira edição do "Big Brother", o frágil sentido ético brasileiro teria sofrido mais uma derrota, pois o público teria considerado merecedor do prêmio um símbolo da falta de ética em vários âmbitos: na política (o sujeito trabalha para um parlamentar, e todos os parlamentares são corruptos; logo, ele é corrupto, ou, no mínimo, conivente com a corrupção), nas relações sociais (de fato e de boato, Dhomini está envolvido em processos por agressão) e no trato com as mulheres (nesse ponto, nada foi subtraído às câmeras).
Contrapondo-se a essas possibilidades, uma torcida contra os dois espertalhões, a favor de antagonistas ligeira e aparentemente mais "do bem" -a professorinha baiana agora, a moça negra na versão anterior-, se formou e firmou nas semanas que antecederam o desfecho. E, desta vez, com a ajuda bastante consciente do apresentador Pedro Bial, que de tolo e ignorante não tem nada e foi sugerindo ao público essa "leitura" dos simbolismos do programa.
Será mesmo que o "Big Brother" tem esse poder de representar o caráter nacional? Antes de qualquer coisa, "Big Brother" é um programa de televisão, não um experimento sociológico. Antes ainda de qualquer outra consideração, o "reality show", como definiu com precisão o professor da ECA-USP Roberto Moreira em reportagem publicada na revista eletrônica "Trópico" , é aparentado da fofoca, agora produzida e consumida em escala industrial.
Na contracorrente de uma idéia que se alastra como mato, a vitória de Dhomini, assim como a de qualquer outro participante do "Big Brother", talvez signifique rigorosamente nada. Para o bem e para o mal, talvez Dhomini não represente coisíssima nenhuma e seja só mais um tolo endinheirado entre tantos outros cuja cara e presença na TV e nas revistas de celebridades teremos que aturar nos próximos (poucos) meses.

E-mail: biabramo.tv@uol.com.br


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