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TV NO MUNDO
EUA e França têm produtoras estatais
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
Nos dias 21, 22 e 23 de setembro vi ao ar "The Farmer"s Wife" (A Mulher
do Fazendeiro), um documentário sobre três anos
de crise na vida de uma família de fazendeiros do
Nebraska. O documentário é mais uma produção
do Serviço de Televisão Independente dos EUA.
O ITVS foi criado há dez
anos para energizar a TV
pública norte-americana,
custeando produções independentes e inovadoras.
Séries, programas de ficção e documentários produzidos com ajuda do
ITVS não têm veiculação
garantida, mas são oferecidos às estações públicas de
TV dos EUA.
A marca ITVS circula
nos circuitos dos festivais e
em circuitos comunitários.
Vários programas que comentei nesta coluna receberam fundos do ITVS,
como a série "Foto-Novelas", ou o vídeo "Greetings From Out Here" de
Ellen Spiro. Em meio ao
tom convencional da TV
norte-americana, o ITVS
consegue apresentar resultados interessantes.
O ITVS é uma produtora
de televisão de um tipo híbrido -é pública, mas independente. O serviço foi
criado pelo Congresso para garantir que algum recurso do Estado seja aplicado em projetos experimentais e/ou dirigidos a
segmentos minoritários do
público televisivo.
Na França, essa função é
cumprida pelo Instituto
Nacional do Audiovisual
(INA), órgão bastante ousado nas suas escolhas.
Talvez um pouco mais
aberto do que o ITVS, que,
seguindo a tônica do momento nos EUA, prioriza
temas e abordagens politicamente corretos.
O ITVS e o INA garantem a produção de documentários e programas de
ficção que de outra forma
não obteriam financiamento. A idéia é que, em
meio a um sistema de mercado, exista um espaço
desburocratizado e aberto
à experimentação.
O ITVS é também um
dos órgãos responsáveis
por participar da especulação sobre a regulamentação e as consequências da
implantação da televisão
digital, que diversificará
ainda mais o já variado
menu de canais segmentados da TV paga.
Algo semelhante ao ITVS
e ao INA poderia ser pensado para o Brasil, em que
o baixo nível vem ganhando espaço no feijão-com-arroz televisivo.
Talvez um organismo como esse viesse a preencher
um pouco do vazio de instituições dedicadas a testar
padrões de qualidade.
O argumento de que o
mercado leva a uma corrida pelo sensacionalismo
fica difícil de ser desmentido quando há poucas alternativas. E, no círculo vicioso que se forma, a censura vez por outra aparece
aos olhos de muitos como
única solução possível.
Estruturas flexíveis que
valorizam a criatividade
poderiam arejar o ambiente sem recorrer a mecanismos, de resto sempre arbitrários, de cerceamento da
livre expressão.
E-mail: ehamb@uol.com.br
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