São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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TV NO MUNDO

EUA e França têm produtoras estatais

ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha

Nos dias 21, 22 e 23 de setembro vi ao ar "The Farmer"s Wife" (A Mulher do Fazendeiro), um documentário sobre três anos de crise na vida de uma família de fazendeiros do Nebraska. O documentário é mais uma produção do Serviço de Televisão Independente dos EUA.
O ITVS foi criado há dez anos para energizar a TV pública norte-americana, custeando produções independentes e inovadoras. Séries, programas de ficção e documentários produzidos com ajuda do ITVS não têm veiculação garantida, mas são oferecidos às estações públicas de TV dos EUA.
A marca ITVS circula nos circuitos dos festivais e em circuitos comunitários. Vários programas que comentei nesta coluna receberam fundos do ITVS, como a série "Foto-Novelas", ou o vídeo "Greetings From Out Here" de Ellen Spiro. Em meio ao tom convencional da TV norte-americana, o ITVS consegue apresentar resultados interessantes.
O ITVS é uma produtora de televisão de um tipo híbrido -é pública, mas independente. O serviço foi criado pelo Congresso para garantir que algum recurso do Estado seja aplicado em projetos experimentais e/ou dirigidos a segmentos minoritários do público televisivo.
Na França, essa função é cumprida pelo Instituto Nacional do Audiovisual (INA), órgão bastante ousado nas suas escolhas. Talvez um pouco mais aberto do que o ITVS, que, seguindo a tônica do momento nos EUA, prioriza temas e abordagens politicamente corretos.
O ITVS e o INA garantem a produção de documentários e programas de ficção que de outra forma não obteriam financiamento. A idéia é que, em meio a um sistema de mercado, exista um espaço desburocratizado e aberto à experimentação.
O ITVS é também um dos órgãos responsáveis por participar da especulação sobre a regulamentação e as consequências da implantação da televisão digital, que diversificará ainda mais o já variado menu de canais segmentados da TV paga.
Algo semelhante ao ITVS e ao INA poderia ser pensado para o Brasil, em que o baixo nível vem ganhando espaço no feijão-com-arroz televisivo. Talvez um organismo como esse viesse a preencher um pouco do vazio de instituições dedicadas a testar padrões de qualidade.
O argumento de que o mercado leva a uma corrida pelo sensacionalismo fica difícil de ser desmentido quando há poucas alternativas. E, no círculo vicioso que se forma, a censura vez por outra aparece aos olhos de muitos como única solução possível.
Estruturas flexíveis que valorizam a criatividade poderiam arejar o ambiente sem recorrer a mecanismos, de resto sempre arbitrários, de cerceamento da livre expressão.


E-mail: ehamb@uol.com.br



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