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"Não fiz nada por dinheiro", diz Mister M
Folha - Como toda essa
história começou?
Leonard Montano - Foi
uma idéia da rede da Fox
dos EUA. Eles tinham os
produtores, diretores e até
a data em que o especial
iria ao ar. Tudo o que eles
precisavam era de um mágico. Procuraram em todo
o país e acharam que o meu
trabalho era o melhor.
Eles me disseram que
iam revelar truques mágicos e eu disse que não estava interessado, a não ser
que mostrássemos apenas
ilusões antigas, e de forma
diferente da que os mágicos fazem hoje em dia.
Folha - O que o levou a
concordar em expor os truques, rompendo o código
de ética dos mágicos?
Montano - Para promover a arte mágica. Há muitos mágicos que acham
que não podem se desvincular dos velhos truques
do passado, das velhas ilusões. Agora, com o meu
programa, eles terão de
pensar em novas idéias.
Uma nova mágica para o
século 21.
Folha - O sr. não teve medo de prejudicar os pequenos mágicos, sem muito dinheiro, que tiveram alguns
dos truques de seus repertórios revelados?
Montano - Não, eu não
acho. A mágica não está ligada à quantidade de dinheiro do mágico e sim à
sua imaginação.
Folha - O sr. recebeu muitas ameaças quando o
show foi lançado?
Montano - Muitos mágicos ficaram irritados e
reagiram de forma exagerada, mandando mensagens para a Fox. Eles não
conseguiam entender que
o meu trabalho estava na
verdade promovendo as
artes mágicas.
Folha - O sr. foi banido de
organizações mágicas?
Montano - Sim. Fui banido de todas as organizações mágicas e fiquei muito triste, é claro, porque
amo a arte. Sinto que tomei
a decisão certa. A Fox ia fazer o programa de qualquer forma, comigo ou
com outro mágico. Senti
que estando lá poderia
proteger alguns dos novos
segredos. Em essência,
protegi a mágica fazendo o
programa.
Folha - Mas não seria o
contrário?
Montano - Não. Há diversos mágicos aqui nos
EUA que me entenderam.
Eles estão renovando as
velhas ilusões usando novas tecnologias. Dessa forma, se alguém cortar uma
mulher ao meio, você não
vai saber como, mesmo
que tenha visto o meu programa. Fiz a coisa certa.
Protegi os novos segredos,
convenci a Fox a mostrar
apenas velhos truques e
promovi a mágica.
Folha - Quanto dinheiro
o sr. ganhou com os programas? Fala-se em US$
15 milhões.
Montano - Não, isso é
besteira. Trabalho o ano
todo, e estou sempre muito ocupado, seja em cassinos, em meus shows ou em
apresentações em empresas. Quando a Fox fez a
oferta inicial, recusei, porque ganho bastante dinheiro. E não aceitei enquanto eles não concordaram em apenas mostrar
truques ultrapassados.
Com o primeiro programa, eu ganhei menos do
que nas minhas performances regulares. Só com
os outros três eu posso dizer que ganhei mais do que
o normal.
Mas dizer que eu fiz isso
por dinheiro é uma besteira, porque quando assinei
para fazer o primeiro programa eu não sabia que ia
ser um sucesso.
Folha - Por que o sr. está
usando o personagem Mister M ("Mágico Mascarado", nos EUA) mesmo depois de ter revelado o seu
rosto?
Montano - Porque o
personagem é muito popular aqui nos EUA. Os
mágicos não gostam de
mim, mas as pessoas comuns me adoram. E agora
o mascarado não revelará
truques, vai fazer mágica.
Folha - Então o sr. acha
que o Mister M seria interessante porque não pode
mostrar truques velhos?
Montano - É verdade.
Nos meus próximos especiais de TV vamos mostrar
novos truques e não os velhos. Será na Fox ou em alguma outra rede de TV.
Folha - O sr. fará mais
shows revelando mágicas?
Montano - Não. Se o
meu show era sobre expor
segredos, por que eu não
revelaria minha identidade? Eu seria um hipócrita.
Revelei minha identidade
porque o Mister M não
mostrará mais segredos.
Folha - Então o sr. não
vai mais expor truques.
Montano - Fiz aquilo
para promover a mágica,
torná-la mais popular. E
esse trabalho já está feito.
Agora é a vez de seguir em
frente. Chegou a hora de
mostrar as novas ilusões
que criei junto com um
grupo de mágicos jovens.
Folha - Muitas pessoas
dizem que o sr. usou uma
máscara no programa porque não é capaz de criar
seus próprios truques. Como se sente a respeito?
Montano - Eu ainda
não tive a oportunidade de
mostrar meu trabalho,
mas vou mostrar.
Folha - Como o sr. se sentiria se, após desenvolver
os seus novos truques, alguém os revelasse num
programa de TV?
Montano - Não sei por
quê alguém faria isso. Seriam novas idéias. Como já
disse, no programa eu só
mostrei ilusões velhas. Ele
estaria revelando os truques errados.
Folha - Então o que é um
truque velho? Quantos
anos ou décadas ele tem
que ter para se enquadrar
nessa definição?
Montano - Qualquer
um dos truques que eu
mostrei no programa é antigo e, feito hoje com novas técnicas, ainda engana
a audiência, parecendo
exatamente o mesmo.
Vou provar isso em meu
novo especial. Vou mostrar truques semelhantes e
não vou fazê-los da forma
que os exibi no programa.
Vou provar que os mágicos são melhores hoje do
que eram no passado.
Folha - Alguns dos truques que o sr. mostra nos
shows são perigosos, como
pegar uma bala com os
dentes. O sr. concorda?
Montano - Sim. Os truques de Houdini, por
exemplo, eram muito perigosos, mas dublês pulando sobre carros com motocicletas também são
mostrados na TV, e isso
não significa que as pessoas vão até lá fazer. Mas
quando essas façanhas são
mostradas, as pessoas
vêem que o mágico não é
louco e que há um truque.
Folha - O sr. chegou a ser
processado?
Montano - Tentaram,
mas os juízes barraram os
processos. Disseram que
era besteira se preocupar
com isso, porque são apenas truques.
Assim, eu nunca fui a julgamento. Essa polêmica é
uma besteira, porque o
programa não prejudicou
ninguém. Só promoveu a
mágica.
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