São Paulo, domingo, 14 de outubro de 2001 |
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CONCORRÊNCIA ANIMADA Canais infantis fazem de tudo para atrair as crianças, capazes de gerar audiências tão altas quanto as dos noticiários sobre o terrorismo Desenhos ameaçam até o ibope da guerra
MARCELO MIGLIACCIO DA REDAÇÃO
UM GRANDE consumidor, pequeno apenas no tamanho, está provocando uma das maiores disputas dos últimos tempos na televisão brasileira. De
olho no público infantil, os seis canais de
TV paga voltados para crianças e pré-adolescentes travam uma batalha ferrenha por uma audiência que, até por falta
de opções, se revela a mais fiel do meio
televisivo.
No time que não acredita nos efeitos nocivos de socos, tiros e pontapés sobre a mente infantil joga, entre outros, a pedagoga e psicóloga Elza Dias Pacheco, que há 20 anos pesquisa a relação entre o público infantil e a TV. "A criança reelabora o que vê e distingue ficção de realidade, como quando brinca de boneca ou de bandido e mocinho." Para a pesquisadora, entretanto, os pais devem acompanhar o que a criança assiste. Elza diz que a programação infantil tem um papel importante no desenvolvimento cognitivo e de vocabulário. "Através de desenhos que duram em média 375 segundos, a criança aprende a estruturar e a contar uma história. É um veículo que deveria ser mais utilizado pelos professores nas escolas." "Acho que não existe um canal 100% vida cor-de-rosa. Dependendo do contexto, a violência pode levar a criança a uma resolução catártica", afirma a diretora de programação e produção do Discovery Kids na América Latina, Beth Carmona. O canal centra seu foco no público pré-escolar e consegue bons índices exibindo o inocente "Teletubbies" e o educativo "Bob, o Construtor". Publicidade É bom lembrar que o Ibope começou a medir a audiência da TV paga este ano e o bom desempenho dos canais infantis deve atrair mais verbas de publicidade nos próximos meses. Entre janeiro e junho de 2001, ainda de acordo com o Ibope, Cartoon, Fox Kids e Nickelodeon ficaram com pouco mais de 6% do montante investido pelos anunciantes em 22 canais de TV paga pesquisados. "Na primeira infância, com os pais ausentes por longos períodos, a publicidade insere produtos que, simbolicamente, vão representar o afeto materno. Quando cresce mais um pouco, a criança fixa a idéia do consumo como algo que supre uma falta, um desejo", afirma o professor Alexandre Dias Paza, do Laboratório de Pesquisa sobre Infância, Imaginário e Comunicação, da ECA-USP. Ele, no entanto, não vê a publicidade como única vilã. "Ela é um espelho cruel da nossa sociedade e do fascismo da linguagem." E não são só os fabricantes de biscoitos, iogurtes, sorvetes e brinquedos que incluíram os canais infantis em seus planos de mídia. Até fabricas de automóveis aderiram. "Alguns anunciantes percebem que as crianças exercem grande influência na decisão de compra dos pais", diz Tatiana Rodríguez, diretora de Programação e Aquisições do Nickelodeon. Mas muitos adultos assistem sozinhos ao canal infantil. Desenhos e séries antigas são a isca. O Boomerang, especializado em clássicos, quer atrair não só crianças na primeira infância como os saudosos da inocência perdida. E a faixa "Insomnia", do Fox Kids, exibida diariamente a partir de 0h, cativa adultos que adoram os velhos "Batman" e "Picapau". Texto Anterior: Isabelle Drummond revive a boneca Emília Próximo Texto: Brasileira recria "Show de Calouros" Índice |
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