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POLÊMICA
Amor 'atropela' ética em novela
Para médicos, troca de bebês
em "Por Amor" é criminosa e
pode gerar pânico em gestantes
CRISTIANA COUTO
da Reportagem Local
A troca de bebês tramada
por Helena (Regina Duarte) e César (Marcelo Serrado) na novela "Por
Amor", da Rede Globo, é
considerada "um caso de
polícia" pelos médicos.
No capítulo, que foi ao ar
na quinta-feira, Helena
convence o médico e amigo César a "trocar" seu filho pelo de Eduarda, que
morreu subitamente durante a noite.
"A novela mostra um
médico ilícito e antiético,
um mau exemplo para a
classe, mesmo que ele tenha agido com as melhores
intenções", opina o obstetra Pedro Paulo Monteleone, 56, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.
Monteleone diz que a
troca é um caso de polícia e
vai além do código de ética
médica. "Só pelo código, o
personagem feriu dois
princípios: expedir boletim médico falso e deixar
de zelar pelo prestígio da
profissão", diz.
Para Carlos Eduardo
Czeresnia, 47, responsável
pelo setor de obstetrícia do
Hospital Albert Einstein,
de São Paulo, o episódio
criminoso pode gerar pânico, pois os pais têm medo de que seus filhos sejam
trocados. "Os hospitais
hoje têm seguranças com o
único intuito de evitar a
'fuga' dos bebês", diz.
A trama, porém, foi bem
armada. Para Monteleone,
a ação seguiu preceitos médicos possíveis, ainda que
raros e 'exóticos'. "Não se
fornece atestado de óbito
sem que se saiba a causa da
morte de uma criança que
nasce saudável", diz.
"Mas, se a família não permitir a necrópsia, é possível fornecer o atestado de
morte por causa desconhecida."
Segundo Paulo Gomes,
40, enfermeiro e professor
de ética da Universidade de
Guarulhos, a trama deslizou em situações de conduta dos enfermeiros:
"Está errado levar a criança para a mãe (Eduarda)
desacordada, ainda mais
depois de um pós-operatório, quando ela ainda está
sedada", diz.
O autor Manoel Carlos
diz que quer polemizar
mais em torno do gesto de
amor "tresloucado" do
que da ética médica. "Trato os médicos com ética,
mas, por amor, alguém pode faltar com ela."
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