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TV A LENHA
Circo de cavalinho
MARCELO MANSFIELD
especial para a Folha
Antes da TV, quem queria se divertir tinha de se
deslocar um bocado. Em
um fim de semana, por
exemplo, uma simples tarde de domingo era dedicada ao circo.
No picadeiro, palhaços
faziam suas micagens e cachorros vestidos para festa
subiam em tamboretes.
Havia também números de
mágica e as aberrações de
sempre: mulher barbada,
gêmeos xipófagos, Monga,
a mulher que virava gorila,
e, entre uma bobagem e
outra, meia dúzia de bailarinas gordinhas com pouca
roupa.
À noite, quando as crianças iam dormir, os pais se
dirigiam ao teatro, para assistir Dulcina de Moraes
em "Chuva", Cacilda
Becker em "Pega Fogo" e
Maria Della Costa em
"Depois da Queda".
Com a TV, tudo mudou.
Não se ia mais ao circo nas
tardes de domingo, porque
o circo vinha até em casa. O
"Circo do Arrelia" dominava a tarde, pois, de manhã, Fuzarca e Torresmo já
tinham esquentado a
criançada.
Vicente Leporace comandava, com os alunos
de sapateado do professor
Ascot, seu programa infantil, onde, entre outros,
apresentava-se o hoje diretor de TV e então garoto
Roberto Talma. À noite, o
teatro legítimo chegava
com o elenco da Tupi e seu
"TV de Comédia" ou
"TV de Vanguarda".
Cacilda Lanuza estrelava
"Cala a Boca, Etelvina",
enquanto Elias Gleizer e
Lisa Negri aterrorizavam
em "Cuidado, o Terceiro
Degrau da Escada Está
Quebrado".
O circo de cavalinho,
com suas Mongas e mulheres barbadas, ficou para
trás. Pelo menos, parecia
ter ficado.
Hoje, quando assistimos
a TV num domingo qualquer, vemos que elas estão
de volta, as curiosidades
absurdas, os sapos que latem, os cachorros que botam ovo, os jumentos que
dançam na garrafa. As tortas na cara dos palhaços
agora vêm embrulhadas
em sensuais banheiras, onde o pastelão é constrangedor. Só ficaria pior se fossem duas pessoas do mesmo sexo tentando catar sabonete num vestiário de
clube.
O teatro das Cacildas, Nidias, Sergios e Walmores
deu lugar à comédia rasa,
anteriormente reservada
aos pulgueiros do teatro
rebolado, onde um homem de família não levaria
sua esposa.
Mas o que se pode fazer?
Eu sei: controle remoto neles!! Mude de canal, vá procurar um bom filme. É só
sentar e relaxar.
Domingo passado, por
exemplo, foi um bom dia
para ficar em frente à TV.
Chuvinha, pipoca no colo e
Mazzaroppi e Odete Lara
em "O Gato da Madame",
na Bravo Brasil.
Levem minha casa, mas
me deixem o controle remoto.
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