São Paulo, domingo, 15 de março de 1998

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DISQUE MARCELINHO
E o bebê vai para...

Enquanto o autor Manoel Carlos faz suspense sobre o final da novela "Por Amor", o TV Folha promove enquête para saber a opinião do leitor quanto ao destino do bebê Marcelinho, filho de Helena (Regina Duarte) e Atílio (Antônio Fagundes) que foi trocado na maternidade pelo de Eduarda (Gabriela Duarte) e Marcelo (Fábio Assunção)

Folha Imagem
A atriz Gabriela Duarte, que prefere ver Marcelinho nos braços de Eduarda no final da trama


ELAINE GUERINI
da Reportagem Local

Depois de um festival de tapas, beijos, choradeiras e arrependimentos provocados pela troca de bebês em "Por Amor", o que vai acontecer com Marcelinho? Quem merece vencer a provável disputa entre os pais biológicos e os "adotivos"?
A dez semanas do final da novela escrita por Manoel Carlos, o TV Folha promove uma enquête para saber a opinião do leitor quanto ao desfecho da trama central: o destino do bebê após a revelação de que Helena (Regina Duarte) deu o próprio filho a Eduarda (Gabriela Duarte), no momento em que ela perdeu a criança e o útero na maternidade.
O autor diz que ainda não decidiu quem vai ficar com o bebê depois que o segredo for desvendado na trama das 20h na Globo. "Gosto de ouvir a opinião das pessoas nas ruas. Atualmente elas estão mais preocupadas com o que Atílio (Antônio Fagundes) vai fazer ao descobrir que Marcelinho é seu filho. Algumas acham que ele deve se conformar com a situação. Outras querem que ele lute até o fim pela guarda da criança."
Manoel Carlos promete segurar o momento da revelação até a última semana -o final da novela está previsto para o dia 22 de maio, quando a trama chega ao capítulo 191. "Não desperdiçaria esse elemento de grande apelo antes da hora."
Seguindo a linha "tudo acaba em pizza", que costuma marcar os desfechos dos folhetins da Globo, é provável que Atílio, apresentado sempre como um homem muito generoso, acabe aceitando a situação -por mais que não concorde com isso. Ele assume sua paternidade biológica, mas deixa o casal Eduarda e Marcelo (Fábio Assunção) criar o bebê.
"O que Helena deu está dado", afirma a atriz Regina Duarte, reforçando a posição de sua personagem que insiste em dizer a César (Marcelo Serrado) e a Virgínia (Ângela Vieira) que "esse caminho não tem volta".
Ela destaca, porém, que o destino de Marcelinho só pertence ao autor. "Eu me submeto ao que o Maneco decidir. Desde o início, eu me entreguei à personagem, e isso também não tem volta."
Gabriela Duarte, 23, acredita no caráter irreversível da situação. "No início, Helena deixava transparecer que o filho era dela, o que foi normal, mas isso já passou. Agora, por mais que eu sinta pena de Atílio, não dá para desfazer a troca."
Mas há quem prefira ver Marcelinho nos braços de Helena no final da trama. "Eduarda deve continuar amando o bebê, que é seu irmão, mas deve devolvê-lo aos pais verdadeiros. Se quiser mesmo ter um filho, ela pode facilmente adotar uma criança", diz Helena Ribeiro de Lima Campos, 36, mãe de Marcos (de quatro meses) que faz o papel do bebê Marcelinho na novela.
Psicologicamente falando, a melhor opção para o nenê seria continuar sob a guarda de Eduarda -desde que a mãe adotiva fosse aos poucos contando a verdade.
"A criança fatalmente percebe o mistério no ar, e esse clima de desconfiança pode até limitá-la em seu aprendizado. Inconscientemente, ela assume que existe algo que ela não pode e não deve saber", comenta a psicóloga e psicanalista Maria Antonieta Pisano Motta, 43.
Presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Interdisciplinares de Direito de Família, ela destaca o aspecto inverossímil da trama. "Se a situação fosse real, a mãe inevitavelmente ficaria com ciúmes ao ver a filha com o seu bebê nos braços. Isso começou a ser explorado na época da amamentação, quando Helena se realizava ao alimentar a criança, mas o autor acabou deixando esse elemento de lado. O que foi uma pena."

Aspecto jurídico
Se o caso fosse levado à Justiça, as chances de Marcelinho continuar sob a guarda de Eduarda possivelmente seriam maiores. "Nesses casos, principalmente quando a criança já entende, os vínculos afetivos costumam falar mais alto que os biológicos", comenta Ricardo Penteado, 36, advogado especialista em direito de família.
O desembargador Antônio Cezar Peluso, 55, complementa: "Mudar as referências vitais pode ter consequências desastrosas no processo de desenvolvimento. É preciso escolher a melhor situação do ponto de vista emocional e moral da criança".
Na opinião do padre Júlio Lancelotti, 49, a situação apresentada na novela não é tão grave, já que a disputa ficará entre mãe e filha -ou seja, em família. "Em um caso como esse, mesmo que a criança tome conhecimento da verdade já na fase adulta, não há um grande trauma. O pior mesmo aconteceu na Argentina, onde filhos de presos políticos assassinados descobriram que foram criados pelos algozes de seus pais."
O padre prefere não dar sua opinião sobre o destino de Marcelinho, mas frisa que Helena não queria o filho desde o início da gravidez. "Só não entendo como o autor consegue vender essa troca de bebês como um ato de amor. Quem tem noção do que isso significa, sabe que muitos sentimentos provocam atitudes vergonhosas como essa. Menos amor."



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