São Paulo, domingo, 15 de julho de 2001

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PÁRA-QUEDISTAS

Canais abertos e pagos têm apresentadores sem afinidade com os assuntos abordados, às vezes escolhidos pelo sucesso obtido em outras áreas

TV não requer prática, tampouco habilidade

Socialites fazem entrevistas, modelos comandam programas de variedades e atores cozinham no "pára- quedismo" televisivo

Divulgação/MTV
Max Fivelinha, ex-maquiador, caracterizado para quadro da programação de verão da MTV


RODRIGO DIONISIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O QUE é preciso para ganhar um programa na televisão? Ficar grávida de um "pop-star", tocar guitarra em uma banda de sucesso, ser ator da Globo ou ganhar as manchetes dos jornais dando festa para cachorro parecem ser passaportes para o estrelato televisivo.
Mas muitas vezes esses "novos astros" não têm preparação ou perfis adequados para as atrações que comandam, "caindo de pára-quedas" na programação.
Claro, há exemplos interessantes e divertidos, como o bom programa sobre língua portuguesa ("Afinando a Língua") comandado pelo titã Tony Belotto, no canal Futura. Ou o impagável "Gordo a Go-Go", de João Gordo, na MTV.
Agora, o que falar sobre o "Programa Vera Loyola", na CNT? A "entrevistadora" fica em um sofá, cercada pelos "entrevistados", que conversam entre si. Limita-se a comentários do tipo: "É super normal comer comida de cachorro", sobre um convidado que disse ter feito isso.
O "Superpop", da Rede TV!, virou piada pelos erros de português de Luciana Gimenez. A apresentadora, modelo brasileira mãe de um filho do roqueiro Mick Jagger, afirmava publicamente que só conseguia pensar em inglês e chegou a fazer aulas particulares de português para comandar a atração.
"Fico horrorizado com a baixa qualidade da TV." A frase é daquele que pode ser qualificado como o "pára-quedista" mais antigo ainda em atividade, Ronnie Von, 56. Cantor, estreou na apresentação de programas em 1966, com "O Pequeno Mundo de Ronnie Von"; em 1999, levou ao ar o "Mãe de Gravata", a 11ª atração sob seu comando, e na qual está até hoje.
"Nunca fui respeitado como cantor. Os programas eram para mostrar que tinha algo a dizer, e hoje estou realizado, sou reconhecido como apresentador", diz.
Mas, se não chegarem a horrorizar, certas "mancadas" são até positivas. Pelo menos Rodolfo Bottino, 42, acredita nisso. Afastado da teledramaturgia desde 1995, quando trabalhou na novela "Pátria Minha", da Globo, o ator apresenta dois programas de culinária, o "UD Gourmet", no canal Shoptime, e o "GemaBrasil", na Rede Brasil.
E o próprio Bottino se define como "atrapalhado e meio enrolado" ao lidar com comidas e panelas. O apresentador já se queimou, se confundiu com ingredientes de receitas e, volta e meia, reclama no ar das calças (largas) que veste, e teimam em ficar caindo.
"Mas isso é bom. O normal para o público não é ser como o Olivier [Anquier, que apresenta o programa culinário "Diário do Olivier" na GNT", mas como o Rodolfo", afirma o mestre-cuca.

Quase famosos
O "pára-quedismo" televisivo não vive só de famosos. Há quem apenas tenha ficado conhecido por ter um programa, mesmo que a atração não tenha relação direta com seu passado profissional.
É o caso do músico Márcio Werneck, 30, líder do grupo paulistano Caboclada. Após dois anos como "o rosto" do canal de programação da TVA, ele comanda "O Brasil É Aqui", programa de turismo do GNT. E diz que isso gera confusão.
"Um monte de gente acha estranho o apresentador ter uma banda, e quem me conhece como músico se espanta, diz que eu não tenho capacidade para ser apresentador", diverte-se
A opção pela TV tem explicação simples: "Músico tem de sobreviver. Às vezes, a gente começa um trabalho pelo dinheiro, mas depois acaba achando legal", afirma Werneck.



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