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PERFIL
HANS DONNER
Desde 1974, suas vinhetas e aberturas respondem pela identidade visual da Globo.
Nascido na Alemanha e criado na Áustria,
foi no Brasil que Hans Donner, 52, ganhou a
fama de "mago da computação gráfica". Sua
sala, porém, não tem computador. É cheia de
maquetes, suvenires e relógios, uma obsessão que lhe custou críticas quando a Globo
espalhou pelo país relógios em contagem regressiva para os 500 anos do Descobrimento.
BLITZ
Nome completo: Hans Donner
Local de nascimento: Wuppertal, Alemanha
Idade: 52
Passatempo: esquiar na Áustria
DA SUCURSAL DO RIO
Como você decidiu vir ao Brasil?
Eu estudava design em Viena. Li numa
revista sobre o nível da propaganda no
Brasil. Comprei bilhete de ida e volta, para 21 dias (de permanência). Cheguei
sem conhecer ninguém.
Onde você procurou emprego?
Fui de porta em porta, em agência de
propaganda, em estúdio de design. Todo
mundo me elogiava e dizia: "Você é gênio", mas todos me despachavam porque os diretores de arte tinham medo e
não me apresentavam para o dono da
agência. Eu estava decepcionado porque
já era o 20º dia, e eu ia voltar.
O que mudou o rumo da história?
Eu encontrei um cara no elevador,
saindo da DPZ. É o Arlindo de Castro,
que morreu há três anos. Ele era redator,
e nós dois dançamos quando procuramos emprego na agência. Entramos no
elevador. Eu não falava uma palavra de
português e achava que ele não falava inglês. Ele me apresentou a um fotógrafo, o
David Drew Zingg, que me trouxe para a
sala do Walter Clark (diretor da Globo),
no último dia de viagem.
Como foi a conversa com o Walter Clark?
Ele falou que seria bom eu ir trabalhar
fora da Globo, com Cyro Del Nero, o cara
que fazia todas as aberturas e vinhetas da
emissora. Eu voltaria da Áustria para trabalhar para o cara, não para a Globo. Retornei para Viena, crente que o contrato
que eu consegui aqui era válido. Quando
cheguei à embaixada, o pessoal me despachou dizendo que eu nunca mais poderia voltar ao Brasil.
Por quê?
Assinei um contrato que não era legal.
O Cyro Del Nero me deu um contrato para eu me afastar do país.
Como você conseguiu voltar?
Pedi dinheiro emprestado ao meu irmão para vir para cá mais uma vez. Ida
sem volta, uma maluquice. Procurei o
David Drew Zingg, mostrei o que eu tinha feito na Áustria, e no dia seguinte ele
botou em todos os jornais, (nas colunas
do) Ibrahim Sued, Zózimo: "O jovem famoso designer austríaco". A Globo leu
no dia seguinte e foi me procurar.
Como você criou o logotipo da Globo?
Já tinha feito o logotipo durante a viagem para a Áustria, logo após encontrar
o Walter pela primeira vez. Ele tinha sugerido que, pelo meu estilo, eu poderia
fazer a nova marca da Globo. Rabisquei
o logo num guardanapo da Swissair, que
guardo comigo até hoje.
Como foi sua formação?
Estudei na escola de design Hohere
Graphische Bundeslehr-und-Versuchsanstalt, em Viena. O meu design nasceu
da vontade de fazer coisas que saíssem
do papel.
Você não tem computador na sua sala.
Por quê?
Nunca gostei, nunca tive computador
na minha mesa. Não falo com máquina.
Eu tenho meus gênios que adoram
aprender nos softwares.
Que aberturas de programas você considera as mais bem realizadas?
As duas aberturas do "Fantástico", a
de 83 e a de 86, e das novelas "Ti-Ti-Ti",
"Tieta", "Laços de Família" e "Deus Nos
Acuda". As pessoas pensam que a gente
faz tudo com computador. Mas naquela
época não tinha nada de computador.
Era cenário. Na abertura de "Selva de
Pedra", quem imaginava que aquele
rosto do Tony Ramos era feito com
2.800 prediozinhos? Em "Deus nos Acuda", para fazer o Brasil sendo roubado,
foi usado um guindaste que pegava uma
sala de sete toneladas, onde estavam os
figurantes, e afundava numa piscina de
220 mil litros de água.
Como você encarou as críticas feitas ao
seu relógio dos 500 anos?
No relógio, o Brasil aparece no centro
do mapa. Queria fazer uma coisa para
retribuir tudo o que ganhei de paraíso
aqui. Se eu pudesse tirar um pouco do
sentimento de inferioridade dos brasileiros em relação ao Primeiro Mundo,
eu seria feliz. (CRISTIAN KLEIN)
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