São Paulo, domingo, 17 de março de 2002

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ENTREVISTA - LUIZ THUNDERBIRD

'A verdade tem de ser dita'

Sexo, drogas e televisão. Essa é a promessa da autobiografia de Luiz Fernando Duarte, 40, mais conhecido como Thunderbird . Afastado voluntariamente da MTV para contar em livro a sua história, ele volta à emissora em junho, para comandar o "VJ Search". Patrimônio do canal musical -empresta seu codinome a uma peça ("Éramos Todos Thunderbirds", em cartaz no Espaço Cultura Inglesa, Vila Mariana, São Paulo), que fala da MTV-, Thunder deu entrevista ao TV Folha sobre sua vida e a incursão literária.

RODRIGO DIONISIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Qual é a idéia do livro?
É falar de televisão. Na verdade, vou começar nos meus seis anos de idade. Já tem o primeiro capítulo pronto, que vai até o começo da banda Devotos de Nossa Senhora Aparecida. É o introdutório, até 1986. Depois, o segundo, vai de 86 até 1990, quando entrei na MTV. Aí tem a fase MTV, de 90 a 93; a fase da Globo, de 94 a 95; mais MTV, em 96, 97; a TV Manchete; outro retorno à MTV; e chegamos aos dias de hoje.
Mas o enfoque são os bastidores das emissoras pelas quais você passou?
Claro. Tenho histórias para contar. Vou falar da minha carreira e, é óbvio, da MTV, porque eu estive presente em todos os momentos da emissora. São histórias que ninguém sabe, interessantes, bizarras. Tem histórias de corredores, de banheiros, de festas. Tem um monte de coisas nesse livro, frustrações, vitórias. É óbvio que eu vou ser o personagem central, mas há coadjuvantes sensacionais.
São as "histórias proibidas da MTV"?
Ah, devem rolar algumas histórias proibidas, lógico. Vou procurar preservar a integridade moral das pessoas, na medida do possível. Mas a verdade tem de ser dita. Doa a quem doer (risos).
No livro, você trata do seu envolvimento com drogas? Foi a parte mais "negra" da sua carreira?
Na verdade, o final foi. Perdi realmente o controle. Percebi que estava em maus lençóis, pois usar drogas era a única prioridade, a única coisa que fazia. Não estava mais conseguindo trabalhar muito e foi aí que me internei em uma clínica. Consegui ficar lá e me entreguei ao processo de recuperação. Se não tivesse feito isso, acho que não estaria mais aqui. Na época, cheguei a me conformar com isso: "Ah, eu vou morrer mesmo. Então foda-se". Depois, foi a fase da Manchete de trabalhar em parceria com Jota Silvestre. Ele era sensacional, não é? Bom velhinho. Existem poucos bons velhinhos que eu conheço: Papai Noel, Karl Marx, Groucho Marx e, puxa, o Jota Silvestre. E eu tive o prazer inusitado de trabalhar com ele. Além disso, eu estava falido, absolutamente falido, e era uma oportunidade de trabalhar careta. Essa oportunidade veio uma semana depois que eu saí da clínica. Pude trabalhar careta e com pessoas que não usavam drogas. Tentar voltar ao trabalho, sabe? Tentar voltar de uma forma segura.
Já sua ida para Globo não foi tão boa...
O que aconteceu na Globo é que eu fui para lá na seguinte situação: não estava muito feliz na MTV, queria fazer uma coisa diferente. Também queria mudar de cidade. Ver se mudando dava uma parada com as drogas. Achei que essa fuga geográfica ia ser positiva, e não foi; imagina, lá tem droga também. Pensava: "Lá não conheço nenhum traficante". Mas, puxa, isso é muito fácil de descobrir. Enfim, o convite era ótimo. Era para fazer o Hollywood Rock, o Carnaval, o "Fantástico", o "TVZona", que era meu projeto. Era um programa de música ao vivo. Na MTV, não tinha como fazer isso. Na época, não existia essa possibilidade, e a Globo falou: "Venha. Quanto você quer para fazer o programa? Quarenta mil dólares? Está aqui". Lembro que o Zeca Camargo comentou comigo: "Mas, Thunder, você vai aparecer no "Fantástico'? Você vai fazer parte daquilo?", com um sorriso irônico. É... o mundo dá muitas voltas, se é que você me entende.
O seu programa foi ao ar, mas durou pouco tempo, certo?
Foi ao ar durante oito semanas. As oito semanas mais divertidas que passei em toda a minha vida. Ganhava muito bem, trabalhava com pessoas ótimas, usava muita droga e estava extremamente popular. Então, todo vazio que a droga me dava, as pessoas preenchiam na rua, nos corredores. Ao entrar em crise por usar drogas, tudo o que você precisa é de acalanto. É alguém te pegar no colo e falar que não é nada, que está tudo bem. Nesse sentido, foi ótimo. Quando eu soube que o programa tinha acabado, e essa é uma das histórias bem interessantes... a forma como eu soube. Isso vai estar no livro. É bombástico, até.
Você era visto como uma "figura estranha" na emissora?
Sim. Lembro que poucas pessoas se aproximavam de mim. Tive a simpatia de alguns. De outros, a indiferença. Chegou até a ter uma certa animosidade por parte de uma estrela da Globo. Eu fui até a gravação do programa dela oferecer uma música, com um algodão-doce numa mão e um girassol em outra. A resposta que tive foi a força e o poder dos seguranças dela. Isso vai estar no livro com detalhes. Fiquei muito decepcionado com essa pessoa, por sinal.
Quem foi?
Não posso dizer. Só no livro. Se meu editor sabe que estou falando essas coisas para você, ele vai ficar puto (risos).



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