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ENTREVISTA - LUIZ THUNDERBIRD
'A verdade tem de ser dita'
Sexo, drogas e televisão. Essa é a promessa da
autobiografia de Luiz Fernando Duarte, 40,
mais conhecido como Thunderbird . Afastado voluntariamente da MTV para contar em
livro a sua história, ele volta à emissora em
junho, para comandar o "VJ Search". Patrimônio do canal musical -empresta seu codinome a uma peça ("Éramos Todos Thunderbirds", em cartaz no Espaço Cultura Inglesa, Vila Mariana, São Paulo), que fala da
MTV-, Thunder deu entrevista ao TV Folha sobre sua vida e a incursão literária.
RODRIGO DIONISIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Qual é a idéia do livro?
É falar de televisão. Na verdade, vou começar nos meus seis anos de idade. Já
tem o primeiro capítulo pronto, que vai
até o começo da banda Devotos de Nossa
Senhora Aparecida. É o introdutório, até
1986. Depois, o segundo, vai de 86 até
1990, quando entrei na MTV. Aí tem a fase MTV, de 90 a 93; a fase da Globo, de 94
a 95; mais MTV, em 96, 97; a TV Manchete; outro retorno à MTV; e chegamos
aos dias de hoje.
Mas o enfoque são os bastidores das
emissoras pelas quais você passou?
Claro. Tenho histórias para contar.
Vou falar da minha carreira e, é óbvio, da
MTV, porque eu estive presente em todos os momentos da emissora. São histórias que ninguém sabe, interessantes, bizarras. Tem histórias de corredores, de
banheiros, de festas. Tem um monte de
coisas nesse livro, frustrações, vitórias. É
óbvio que eu vou ser o personagem central, mas há coadjuvantes sensacionais.
São as "histórias proibidas da MTV"?
Ah, devem rolar algumas histórias
proibidas, lógico. Vou procurar preservar a integridade moral das pessoas, na
medida do possível. Mas a verdade tem
de ser dita. Doa a quem doer (risos).
No livro, você trata do seu envolvimento
com drogas? Foi a parte mais "negra" da
sua carreira?
Na verdade, o final foi. Perdi realmente
o controle. Percebi que estava em maus
lençóis, pois usar drogas era a única prioridade, a única coisa que fazia. Não estava mais conseguindo trabalhar muito e
foi aí que me internei em uma clínica.
Consegui ficar lá e me entreguei ao processo de recuperação. Se não tivesse feito
isso, acho que não estaria mais aqui. Na
época, cheguei a me conformar com isso:
"Ah, eu vou morrer mesmo. Então foda-se". Depois, foi a fase da Manchete de trabalhar em parceria com Jota Silvestre. Ele
era sensacional, não é? Bom velhinho.
Existem poucos bons velhinhos que eu
conheço: Papai Noel, Karl Marx, Groucho Marx e, puxa, o Jota Silvestre. E eu tive o prazer inusitado de trabalhar com
ele. Além disso, eu estava falido, absolutamente falido, e era uma oportunidade
de trabalhar careta. Essa oportunidade
veio uma semana depois que eu saí da
clínica. Pude trabalhar careta e com pessoas que não usavam drogas. Tentar voltar ao trabalho, sabe? Tentar voltar de
uma forma segura.
Já sua ida para Globo não foi tão boa...
O que aconteceu na Globo é que eu fui
para lá na seguinte situação: não estava
muito feliz na MTV, queria fazer uma
coisa diferente. Também queria mudar
de cidade. Ver se mudando dava uma parada com as drogas. Achei que essa fuga
geográfica ia ser positiva, e não foi; imagina, lá tem droga também. Pensava: "Lá não conheço nenhum traficante". Mas,
puxa, isso é muito fácil de descobrir. Enfim, o convite era ótimo. Era para fazer o
Hollywood Rock, o Carnaval, o "Fantástico", o "TVZona", que era meu projeto.
Era um programa de música ao vivo. Na
MTV, não tinha como fazer isso. Na
época, não existia essa possibilidade, e a
Globo falou: "Venha. Quanto você quer
para fazer o programa? Quarenta mil
dólares? Está aqui". Lembro que o Zeca
Camargo comentou comigo: "Mas,
Thunder, você vai aparecer no "Fantástico'? Você vai fazer parte daquilo?", com
um sorriso irônico. É... o mundo dá muitas voltas, se é que você me entende.
O seu programa foi ao ar, mas durou
pouco tempo, certo?
Foi ao ar durante oito semanas. As oito
semanas mais divertidas que passei em
toda a minha vida. Ganhava muito bem,
trabalhava com pessoas ótimas, usava
muita droga e estava extremamente popular. Então, todo vazio que a droga me
dava, as pessoas preenchiam na rua, nos
corredores. Ao entrar em crise por usar
drogas, tudo o que você precisa é de acalanto. É alguém te pegar no colo e falar
que não é nada, que está tudo bem. Nesse sentido, foi ótimo. Quando eu soube
que o programa tinha acabado, e essa é
uma das histórias bem interessantes... a
forma como eu soube. Isso vai estar no
livro. É bombástico, até.
Você era visto como uma "figura estranha" na emissora?
Sim. Lembro que poucas pessoas se
aproximavam de mim. Tive a simpatia
de alguns. De outros, a indiferença.
Chegou até a ter
uma certa animosidade por parte
de uma estrela da
Globo. Eu fui até a
gravação do programa dela oferecer uma música,
com um algodão-doce numa mão e
um girassol em
outra. A resposta
que tive foi a força
e o poder dos seguranças dela. Isso
vai estar no livro com detalhes. Fiquei
muito decepcionado com essa pessoa,
por sinal.
Quem foi?
Não posso dizer. Só no livro. Se meu
editor sabe que estou falando essas coisas para você, ele vai ficar puto (risos).
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