São Paulo, domingo, 17 de maio de 1998

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TV NO MUNDO
Videoarte se contrapõe à TV

ESTHER HAMBURGER
em Austin

Está a caminho de Amsterdã, e depois Frankfurt, a maior retrospectiva já organizada do trabalho do videoartista norte-americano Bill Viola.
A exposição, que é de uma força sem igual no gênero, pode ser lida como contraponto à TV. Aqui o suporte eletrônico inspira a busca radical do sublime em vez da apelação ao sensacionalismo fácil em que a TV brasileira vem se especializando ultimamente.
As instalações de Viola estiveram expostas até o último domingo no Whitney Museum of American Art, em Nova York.
São trabalhos que utilizam o vídeo e manipulam aparelhos e partes de televisão para produzir uma rara experiência espiritual transcendente inspirada em temas caros à filosofia oriental e ao budismo.
O ambiente contínuo e escuro da retrospectiva sugere ruptura com o cotidiano. Livre da moldura do aparelho televisivo, do ritmo acelerado de edição, das interrupções constantes que caracterizam a programação diária, a obra de Bill Viola produz uma sensação de estranhamento, exige contemplação, estimula o exame filosófico das artimanhas da representação "realista".
A TV, ao contrário, reforça nossa conexão com o mundo. A TV traz informação sobre os acontecimentos do dia. Ela é aquela janelinha que permite olhar para fora e apreender os parâmetros sempre em transformação da violência, da moda, do gesto, do beijo, da política.
Ela oferece esse show de atualidades profanas de maneira fragmentada, bem de acordo com a rotina cheia de interrupções da vida doméstica.
O desafio à história linear se manifesta na viagem para lugares distantes como o Himalaia. Se manifesta também em uma viagem no tempo.
No catálogo da exposição, Viola se refere à Idade Média, quando a escolha da cor dourada para o céu não representava uma abstração, mas a busca de um realismo que incorporava o divino como realidade difundida por todo o mundo físico.
Bill Viola faz parte da geração de artistas pioneiros na arte do vídeo. Tal como John Cage na música, Viola expressa um interesse profundo pelo Oriente, especialmente pelo trabalho de D.T. Suzuki e A.K. Coomaraswamy, filósofos radicados no Ocidente.
O show de Bill Viola convida a uma pausa sadia com o materialismo televisivo. Sem abrir mão de um domínio perfeito da tecnologia, chama a atenção para elementos básicos da natureza, como o tempo, o fogo, a água, o ar e os animais.
Longe de sugerir aquela velha sensação de coisa hermética e chata, a exposição sugere a sensação de libertação dos templos sagrados.

E-mail: ehamb@uol.com.br



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