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São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 2003

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Emissoras alugam horários a produtoras pequenas, e a programação ganha atrações curiosas e quase artesanais

TV de baixo custo

Fabiana Beltramin 24.nov.2002/Folha Imagem
Pedro De Lara, aos 77 anos, tornou-se apresentador do "Calouros em Delírios"


JEFFERSON ALVES DE LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

LONGE dos R$ 200 mil que a TV Globo anuncia investir em cada capítulo da minissérie "A Casa das Sete Mulheres", programas quase artesanais ocupam horários menos concorridos graças a pequenas produtoras que conseguem gastar muito pouco por semana para veicular suas atrações. "Só preciso de um câmera, um iluminador e um carro. Gasto R$ 4 mil semanalmente, incluindo a compra do espaço na emissora", diz Fausto Bessa, 39, que apresenta o "Pirata Urbano" (Canal 21, sábado e domingo, 1h30). "Saio de carro, procuro um lugar inusitado e gravo", diz ele, que segue a linha de Amaury Jr., cobrindo festas, e tem uma equipe de quatro pessoas que se revezam em diferentes funções. Sua prima, Luciana Sanches, por exemplo, é diretora, produtora e secretária. "Pirata" não é um iniciante: por três meses exibiu sua atração na Rede TV!, ano passado. "Saí de lá por conta dos altos custos de produção", diz Bessa. "Com o dinheiro que produzia quatro programas lá, produzo 16 aqui", afirma. À frente do "Calouros em Delírios" (CNT, sábado, 12h30, canal 26 do UHF), Pedro De Lara, 77, não é tão despojado quanto o colega. Ele trabalha num cenário montado num salão de festas na zona norte de São Paulo, o "Rebecca Club" -uma ex-borracharia, nos anos 80-, cujo proprietário é o próprio idealizador, produtor e diretor do programa, o ex-locutor da Tupi AM, Dario Costenaro, 52. Antes de gravar, a produção varre as batatinhas amolecidas no vinagrete -vestígios da noite anterior- e prepara a lona com o logotipo do programa, de 6m x 3,5m. Entre os jurados, o fotógrafo oficial do programa "Hebe Camargo", no SBT, Marinho, premia os calouros com o conselho de insistir na carreira. Enquanto Costenaro afirma gastar R$ 17 mil por semana com o aluguel de horário e equipamentos, orquestra e corpo de baile, Pedro De Lara, com um buquê de lírios artificiais nas mãos, diz, confiante à platéia de 50 pessoas: "Aqui o povão tem chance. Aprendi a fazer assim com Chacrinha e Silvio Santos".

Escambo
No Canal 21, Costenaro veicula o "Show de Trocas" (domingo, 7h) e o "CD na TV" (domingo, 2h30), no estilo "canal de vendas": no primeiro, durante uma hora um apresentador anuncia objetos que os telespectadores, cadastrados previamente, desejam trocar. "Já apareceu gente trocando de eletrodoméstico a jazigo", diz o diretor. No segundo, Caio Marcelus e Regina Lorenzeti, oriundos de programas de telemarketing, vendem, por meia hora, CDs de repertório brega e sertanejo.
Em fevereiro, o ex-radialista, que viabiliza seus programas através de permutas e festas no "Rebecca", pretende estrear, na CNT, "Carlinhos Aguiar de Portas Abertas", no qual Aguiar, ex-ator de pegadinhas do "Topa Tudo por Dinheiro", dará uma de Silvio Santos numa competição de estudantes.
Na Rede TV!, o exemplar é o musical "Rodeio Sertanejo" (sábado, 14h15), apresentado pela ex-cantora da noite Eliane Camargo, 36.
Nascido no Canal do Boi (641 da Directv), o programa chegou à TV aberta graças a um fabricante de ração animal, que paga R$ 100 mil mensais à Rede TV!, segundo Renato Silveira, o diretor. A emissora não confirma o valor.
As gravações, ao ar livre, num clube de pesca em Campinas, várias vezes foram interrompidas pela chuva. Mas os convidados comem e dormem lá. "E ainda ganham um saco de ração", diz Silveira, que gasta R$ 12 mil por edição.
Desde setembro, o Canal 21 tem o "Passarela do Samba" (segundas e quintas,1h30), apresentado pelo presidente da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, Robson de Oliveira, 39, que diz pagar R$ 10 mil mensais pelo horário. O Canal 21 não confirma o valor.
A atração, de meia hora, já foi gravada no Sambódromo e hoje é num estúdio alugado por R$ 300. No cenário, montado com restos de carros alegóricos, Oliveira conduz entrevistas e musicais com personagens do samba. "Minha entrada na mídia ainda é modesta", diz ele. "Mas é só o começo."


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