São Paulo, domingo, 19 de março de 2000


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DOCUMENTÁRIO
Equipe do programa, que estréia nesta sexta-feira, percorreu 80 mil km do país pesquisando festas e sons regionais
Série "Música do Brasil" leva ritmos do país à MTV

DA REPORTAGEM LOCAL

N O ex-quilombo de Miribó, comunidade localizada em Amarante (Piauí), as festas são embaladas pelo som do gafanhoto, uma espécie de castanhola. Já em Varginha, no Mato Grosso, um tamborim que mais parece um tamborete -o mocho- serve para alegrar o siriri, gênero musical tocado no Carnaval do lugarejo, próximo ao rio Cuiabá.
Durante um ano, cerca de 15 pessoas percorreram o Brasil em busca dos sons, instrumentos, músicos e festas do país. Ao fim da jornada, o grupo havia rodado mais de 80 mil quilômetros, conseguindo catalogar por volta de cem estilos musicais, documentados em 160 horas de filmagem e 40 mil fotos.
Intitulado "Música do Brasil", o projeto, inédito em sua dimensão, poderá ser visto a partir desta sexta-feira, às 22h, na MTV. Em 15 programas semanais de 30 minutos de duração, será mostrado um pouco da formação musical brasileira, um verdadeiro banco de dados da nossa cultura.
Orçado em R$ 4 milhões, bancados pela Abril Entretenimento, "Música do Brasil" foi idealizado pelo antropólogo Hermano Vianna. Além da série para a TV, o projeto ainda envolve uma caixa com quatro CDs, um livro com 183 fotografias de Ernesto Baldan e um website que contará com tecnologia de áudio MP3. Os CDs serão lançados no dia 17 de abril e poderão ser adquiridos no site www.musicabr.com.br, que entra no ar também em 24 de março. Já o livro deve estar à disposição do público no final do próximo mês.
"Nossa intenção foi registrar o maior número possível de estilos musicais. Conseguimos levantar ritmos nunca gravados, sem nenhum registro, que somam 70% do nosso material", afirma Vianna.
A viagem teve início em maio de 98, na Festa do Divino, em Macapá (Amapá), e terminou no Carnaval mato-grossense, em 99. Foram 82 cidades e 80 festas, época ideal para se conhecer os sons do Brasil.
Iniciativas semelhantes só foram realizadas poucas vezes na história do país, precisamente nos anos 30, pela Missão de Pesquisas Folclóricas, de Mario de Andrade, nos anos 40, por Luís Heitor Corrêa de Azevedo, nos anos 70, por Marcus Pereira, e nas décadas de 70 e 80, pela Funarte. Mas nenhum desses esforços chegou ao nível de complexidade de "Música do Brasil". Todas as imagens foram captadas em película e com áudio digital de 16 canais.
"Foi muito difícil selecionar tanto material. No documentário, optamos por um roteiro temático, não geográfico, usando como narrador Gilberto Gil, um mestre com uma vivência espetacular da música brasileira", disse o diretor de filmagem Belisário Franca.
O primeiro programa da série, por exemplo, enfoca a presença do batuque na música nacional. "Música para Bater" vai mostrar histórias e personagens até então anônimos, como o "heavy metal" do sul da Bahia -em uma festa da região, os astros são os tocadores de enxadas, ao lado de tocadores de búzios.
Intercalando carnavais, reizados e congos, Gilberto Gil explica um pouco da história dos instrumentos e dos festejos. Entre os moradores de comunidades distantes dos grandes centros, "Música do Brasil" também traz a participação de personalidades como Carlinhos Brown, João Bosco, Milton Nascimento, Fernanda Abreu e outros já consagrados.
No dia 31, é a vez de "Música para Cordas Elétricas e Acústicas", provando que o país está "com a corda toda", como diz Gil na introdução do programa. Além de nomes conhecidos, como Armandinho e Moraes Moreira, o documentário apresentará ao público o guitarrista Vieira, inventor da "surf music da pororoca".
Outro "pop star" da região Norte é Wanderlei de Andrade, um cantor de roupas extravagantes que agita o público com seus casais de dançarinos. Detalhe: as roupas da trupe são confeccionadas na vizinha Guiana Francesa.
Segundo Victor Civita Neto, produtor-executivo do projeto, os CDs e o livro serão distribuídos para escolas associadas à Fundação Victor Civita e universidades. "Também vamos colocar esse material à disposição do público na sede da Abril, em São Paulo", afirmou. De acordo com ele, há a intenção de transformar o material filmado em um longa-metragem. (ERIKA SALLUM)




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