São Paulo, domingo, 19 de março de 2000


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PERFIL / CLÁUDIO CAVALCANTI
Foram 33 anos na Globo, fazendo trabalhos marcantes como "Irmãos Coragem" (70/71) e "O Feijão e o Sonho" (76). Longe das novelas desde "Salsa e Merengue" (96), o ator Cláudio Cavalcanti acaba de se mudar para a Record, onde volta aos folhetins com "Laços de Família". Eterno galã, já fez par romântico até com Leila Diniz. Com 43 anos de carreira, também é pré-candidato a vereador no Rio. "Quero defender os animais", afirma.
Ator sai da Globo depois de mais de 30 anos

ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL

Como será seu papel na novela "Laços de Família" (título provisório)?
O que posso dizer é que, nos primeiros capítulos, meu personagem, um juiz chamado dr. Djalma, é um homem muito bem de vida, realizado. Mas, logo no início, ele leva uma paulada da vida que faz com que tudo mude. Ele sai em busca de seu filho, que vai viajar e se perde, e, nessa procura, se mete em aventuras que nunca imaginou para essa fase de sua vida. A partir daí, a Solange de Castro Neves, autora da novela, me pediu para dizer que meu personagem é um grande mistério. Mas posso falar que Djalma é um homem incorruptível, uma definição que gosto muito. É um homem em busca da verdade, procurando-a onde quer que ela esteja.
Por que você resolveu sair da Globo após tantos anos na emissora?
Entrei na Globo em 1967 e nunca tinha saído de lá. Fui convidado para trabalhar em muitos outros lugares, mas não eram propostas que me interessavam. Acho que existe na cabeça das pessoas uma idéia de segurança, de estabilidade. No meu caso, estava em uma emissora que ajudei a construir, ao lado de Tarcísio Meira, Regina Duarte, Glória Menezes. Até que o diretor Atílio Riccó e a Record surgiram com uma proposta irrecusável, em termos de papel, de tudo. Valeu a pena. Não dava para ficar pensando em segurança. Estou começando uma fase nova e estimulante em minha vida. Além da Record, sou pré-candidato a vereador pelo PTB no Rio, porque o César Maia me prometeu a primeira secretaria municipal de defesa dos animais. Tenho duas paixões na minha vida: meu trabalho e os bichos.
Mas não houve receio de deixar a maior emissora do país?
A Globo tem um monopólio e um know-how extraordinários para fazer telenovelas. Mas ir para a Record é uma oportunidade única de arregaçar as mangas e formar um novo núcleo de teledramaturgia. E tenho essa ligação com a Solange, que escreveu para mim um dos melhores papéis que eu já fiz, que foi o dr. Alberto, da novela "A Viagem".
Você fica na Record até quando?
Em princípio, meu contrato com a Record seria apenas para "Laços de Família". Mas, como a emissora está implantando um núcleo de dramaturgia, pode ser que eu fique mais, inclusive eventualmente dirigindo uma das novelas.
Durante muito tempo você foi considerado um galã das telenovelas...
Sem dúvida meus papéis eram de galã. Se eu parar para pensar, por exemplo, no Jerônimo Coragem, de "Irmãos Coragem" (70/71)... O que acontece é que todo mundo que ganha papel de galã já entra na novela ressabiado, porque papel de galã é sempre muito ruim. Ele é sempre o bobo, o ingênuo, o apaixonado. Por isso que, na minha carreira, mesmo fazendo galãs, procurei complicar o papel, dar-lhe cores. Meu galã nunca era um cara sem medo ou mácula. Também procurei sempre colocar humor em meus personagens, coisa que geralmente o galã tem pouco.
A Lolita Rodrigues disse recentemente que não há bons papéis na TV para o ator que envelhece. Você concorda?
Não concordo de maneira alguma. A magia da profissão do ator é que sempre haverá um papel de uma bruxa velha para ser feito. A TV não dá nada para ninguém. O esquema de televisão é frio e desumano, como tem de ser. Se alguém procura na TV um ombro amigo, não vai encontrar. Ela é uma máquina. A TV não vai parar para pensar em um papel especial para a Lolita, mas sempre precisará de uma Lolita Rodrigues, de um Claudio Marzo, de um Antônio Fagundes. E sempre haverá papéis para nós. A vida tem pessoas de 50 anos, de 60 anos, não termina aos 40. Sendo assim, a TV precisa de atores -principalmente atores. Porque modelos e gente jovem sempre existirão, com seus 15 minutos de carreira, interessados apenas em trabalhar em novelas e bailes de debutantes.
Como e quando você começou na TV?
Comecei minha carreira no teatro, em 1956, nas produções do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), no Rio. Tinha 16 anos. Trabalhei com a fina flor do teatro, entre eles Fernanda Montenegro, Natália Thimberg. No mesmo ano, no dia 30 de dezembro de 56, estreei na TV Tupi, em uma peça infantil, "João e Maria". Eu fazia o João, e a bruxa má era a Fernanda Montenegro. Em 1967, fiz minha primeira novela na Globo: "Anastácia, a Mulher sem Destino". Foi a primeira novela que a Janete Clair escreveu para a Globo.



BLITZ
Nome completo: Cláudio Murillo Cavalcanti
Data e local de nascimento: 24 de dezembro de 1940; Rio de Janeiro
Estado civil: casado
Principais novelas: "Irmãos Coragem" (70/71), "O Feijão e o Sonho" (76), "Dona Xepa" (77), "Maria, Maria" (78) e "Roque Santeiro" (85/86)




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