São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2000

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'LAÇOS DE FAMÍLIA'
Liminar que proíbe a participação de menores na novela obriga a Globo a regravar cenas apenas com adultos
Pais querem os filhos no elenco

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os pais das crianças e adolescentes que trabalham em "Laços de Família", da Globo, dizem que a decisão de deixar ou não os filhos participarem da novela deveria ser deles, e não da Justiça. Na semana passada, a 1ª Vara da Infância e Juventude concedeu uma liminar que proíbe a participação de menores na novela e determina sua exibição após as 21h.

A Globo recorreu da decisão, mas seu recurso foi negado na terça, o que obrigou a emissora a regravar várias cenas, sem a participação dos menores.
Sandro Monteiro Beltrão, 28, pai dos gêmeos Natã e Andrey, que se revezam no papel de Bruninho, filho da Capitu (Giovanna Antonelli), não concorda com a determinação. "Eu e minha mulher demos autorização para as crianças participarem. Estamos conscientes do trabalho", disse. Ele afirma que a participação não traz nenhum prejuízo aos meninos, que têm 1 ano e 3 meses. "Eles são muito pequenos para serem influenciados pela história. E na Globo dão toda a assistência possível. Os dois se revezam, e o trabalho não é cansativo para eles."
Sandro, que é militar, diz que o trabalho dos filhos é importante, inclusive financeiramente para sua família. "Cada um ganha R$ 600 mais benefícios. Juntos, recebem mais do que eu", afirma.
O pai de Júlia Maggessi, que faz o papel de Nina, neta de Helena (Vera Fischer), também discorda da proibição da Justiça. "Com certeza absoluta, os pais devem decidir o que é melhor para os filhos", afirma Sérgio, 24, pai da menina.
Dentre os pais de atores menores de idade, o que certamente ficou mais revoltado com a determinação da Justiça foi o autor da trama, Manoel Carlos. Ele é pai de Júlia Almeida, 17, que interpreta Estela, irmã de Edu (Reynaldo Gianecchini) e vinha ampliando a participação da personagem nos últimos capítulos.
"Fiquei estarrecido com a medida, que, além de tudo, é atrevida, porque se infiltra numa família, a pretexto de protegê-la, mas que na verdade só causa revolta e sofrimento", afirmou o autor.
"Não reconheço em ninguém autoridade moral maior do que a nossa (dele e da mãe de Júlia) para a educação da nossa filha. E repudio essa pretensão ridícula e grotesca. Andando nas ruas, lendo os jornais, vemos diariamente, atiradas no maior abandono, as crianças e os adolescentes que deveriam estar merecendo essa proteção. Nossa filha estuda e trabalha, num lugar saudável e limpo, ganha dignamente um salário, está desde logo sabendo como enfrentar a vida. Que bom seria se todos os adolescentes do nosso país estivessem nessas condições."
Júlia fará 18 anos no dia 5 de janeiro.


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