São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2000

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VÍDEO
"Antes da Revolução", clássico de 64, é relançado em vídeo pela Cult Filmes
A pré-revolução de Bertolucci

TIAGO MATA MACHADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O NOME dos personagens vem de um romance de Stendhal ("A Cartuxa de Parma") e o título do filme, de uma frase de Tayllerand ("Quem não viveu os anos antes da revolução não pode compreender o que é a doçura da vida."), mas a grande influência deste clássico pré-68 de Bernardo Bertolucci é Godard e a nouvelle vague francesa.
Se, em seu belíssimo longa de estréia, "La Commare Secca", Bertolucci rendia homenagem a Pasolini, mergulhando no universo marginal suburbano de seu mestre, em "Antes da Revolução" (1964), ele se filia à inquietação estético-existencial dos franceses -a repercussão das inovações godardianas é tão evidente por aqui que os próprios personagens do filme, cinéfilos engajados, não se furtam de comentá-las abertamente. Pode-se dizer, ao mesmo tempo, que Fabrizio, o alter ego de Bertolucci em "Antes da Revolução", antecipa a febre romântico-marxista que tomaria conta de Godard a partir de 1964. Ele é um jovem intelectual de Parma que só consegue dar vazão a seu ódio pela burguesia local ao romper um noivado com uma moça de boa família e iniciando um caso incestuoso com a tia, Gina. Personagem fascinante, histérica e depressiva, Gina é a origem de um dos temas mais recorrentes e subliminares da obra de Bertolucci: o incesto. É a partir desse tema que Bertolucci desenvolve seu estilo próprio, uma estética de índole inequivocamente erótica e uterina. Gina funciona, portanto, como uma espécie de matriz para a obra de Bertolucci. Ao se deixar envolver pela personagem estético-hedonista da tia, Fabrizio compreenderá que ele ainda está longe de viver sua "idade da razão". Perto da tia maluquinha, ele não passa de um chato. A prevalência da personagem em "Antes da Revolução", relançado agora pela Cult Filmes, assinala a vitória da estética sobre a ética em Bertolucci -afinal, entre a ética e a estética, é preciso escolher, mas é não menos verdade que, escolhendo uma a fundo, encontra-se a outra no fim no caminho, como costumava dizer Godard.

ANTES DA REVOLUÇÃO
Cult Filmes    
(Prima della Revoluzione). Itália, 1964. Direção: Bernardo Bertolucci. Com Francesco Barilli, Adriana Asti, Allen Midgette. 115 min. Drama.

ILUSÕES DE ÓRBITA
Cult Filmes    
(Orbis Pictus, Eslováquia/ República Tcheca, 1997). Direção: Martin Sulik. Com Dototka Nvotová, Marinán Labuda, Bozidara Turzonovová. 105 minutos. Drama.
Garota de 16 anos sai de um internato portando apenas uma mensagem endereçada à sua mãe. A carta diz que a jovem não possui condições de cuidar de si mesma por ter uma visão ingênua e infantil do mundo. Sem a proteção da instituição, é forçada a encontrar a mãe sozinha, viajando pelo país com um mapa tirado de um livro qualquer. O diretor pincela esta tragicomédia com toques surrealistas e muitas vezes são perdidos os limites da realidade -como durante um diálogo entre a menina e sua mãe em versão microscópica. Pelo caminho, ela vai encontrar personagens estranhos e seu próprio destino. Prêmio especial do júri no Festival de Karlovy Vary, na República Tcheca.

TRILOGIA STAR WARS
Fox    
("Guerra nas Estrelas", "O Império Contra-Ataca" e "O Retorno de Jedi"). Direção: George Lucas. Com Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher. Aventura.
Fora dos catálogos por três anos, a trilogia dos últimos episódios da série "Star Wars" está de volta em promoção limitada. O pacote é acompanhado por um documentário de dez minutos de duração sobre a próxima saga, que tem lançamento previsto para 2002, com entrevistas com o diretor, George Lucas, e o novo elenco. A série tem preço sugerido de R$ 54,90. Paralelamente, "A Ameaça Fantasma" também ganha cópias extras a R$ 19,90.



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