São Paulo, Domingo, 19 de Dezembro de 1999


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POPULARIZAÇÃO
Para o diretor da Globo, produções sofisticadas seriam "destroçadas" pelos programas populares da concorrência
"TV de hoje não favorece a ousadia", diz Daniel Filho

ALEXANDRE MARON
da sucursal do Rio

E MBORA seja um dos diretores responsáveis por algumas das atrações mais inovadoras já produzidas pela Rede Globo em toda sua história, Daniel Filho, 62, diretor de criação da emissora, acha que certas ousadias seriam impossíveis atualmente. Projetos como as séries brasileiras, que a Globo exibiu no final da década de 70 e início da de 80, novelas clássicas como "Dancin" Days", as minisséries "Luna Caliente" e "Auto da Compadecida", os contos de Nelson Rodrigues em "A Vida como Ela É" e o seriado "Mulher" são resultado da ousadia do diretor. "Não é novidade nenhuma, mas, com a mudança do perfil da audiência causada pela explosão do consumo de televisores desde o início do Plano Real, a TV não pode mais apostar somente em programas de prestígio", analisa. Como exemplo, ele cita o programa "Chico & Caetano", que fez sucesso na Globo, na década de 80. "Há dez ou 15 anos, a audiência era classe A e B. Hoje, o "Chico & Caetano" seria destroçado por um desses programas populares. Não daria certo. O público hoje não é o ideal para experimentações." De forma aparentemente contraditória, ele acha que seu novo lançamento, a minissérie de romance e aventura "A Muralha", também é um grande risco e, mesmo assim, a coloca no ar. "É porque a emissora está investindo no lançamento de produtos inéditos para os meses de janeiro a março e sabe que o resultado disso não é imediato. É o momento de fazer testes." Para ele, o risco é parte integrante do trabalho com TV. "Ninguém tem uma fórmula. Eu prefiro quebrar a cara com um projeto ousado do que me dar mal com um trabalho convencional." A nova trama das seis, escrita por Ana Maria Moretzsohn e ainda sem nome definitivo, será também uma experiência. "Servirá para que descubramos se é possível fazer uma novela curta de forma rentável."

Nostalgia
A visão quase nostálgica de Daniel Filho, apontando a TV do passado como mais experimental e aberta à inovações, talvez tenha alguma ligação com seu isolamento na Rede Globo. O ator e diretor trabalhou na emissora de 1968 a 1991, quando entrou no mercado de produção independente e levou ao ar a série "Confissões de Adolescente". Em 1995 teve uma passagem rápida pela Bandeirantes, mas voltou à Globo em seguida. Logo após sua volta, foi ganhando poder e chegou a ser visto como o novo possível todo-poderoso da emissora no setor criativo, após a saída de Boni. Mas os choques internos foram esvaziando a sua força. A principal atração da emissora, a novela "Terra Nostra", não é supervisionada por ele, porque Benedito Ruy Barbosa, o autor da trama, não se dá bem com Daniel Filho e prefere trabalhar com Mario Lúcio Vaz, diretor da Central Globo de Qualidade, braço-direito de Boni nos tempos de "O Rei do Gado". Vaz também supervisionará a próxima novela do horário, escrita por Manoel Carlos. "Eu não sei por que o Manoel Carlos não quer trabalhar comigo. Talvez ele ache que o diálogo com o Mário Lúcio é mais produtivo ou mais criativo do que comigo", elucubra Daniel Filho. Seu volume de trabalho diminuiu com o fim de "Mulher" e o abandono do projeto de novos seriados. No lançamento da minissérie "A Muralha", que aconteceu nesta semana no Rio, o diretor afirmou: "O seriado "Mar Aberto" (que iria substituir o "Mulher" na grade da Globo no ano que vem) dançou. O projeto das outras séries também dançou. Só quem não dançou, ainda, fui eu". Segundo o diretor, atualmente ele é mais um consultor do que um criador. "Tenho menos trabalho hoje do que tinha há seis meses", afirma. Mas talvez a diminuição no ritmo de trabalho o ajude a concretizar o projeto de filmar "A Partilha" no próximo ano. A peça de Miguel Falabellla deve ser produzida pela Globo Filmes no ano 2000. "É um projeto antigo, e acho que poderei tocá-lo no ano que vem", conclui.



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