No ar há mais de 30 anos, o jurado mais nervoso do Brasil já entrou para a história da TV. Nascido em 1925, em Pernambuco, hoje é jurado no "Programa do Ratinho", no SBT. Recentemente lançou o "Livro da Sabedoria", com pensamentos como "valente que é valente não tem medo de apanhar". Eleito um dos homens menos sexies do século pelos leitores da "Revista da Folha", ele se defende: "Nasci feio, cresci feio, venci feio".

ERIKA SALLUM
da reportagem local

Como você acabou se tornando jurado de programa de auditório?
Meu primeiro programa de rádio, há mais de 40 anos, foi "O Sonho É um Aviso", no qual interpretava sonhos, na pequena rádio Rio de Janeiro. Depois fui sendo convidado para decifrar sonhos em outras rádios, como a Globo, até que ingressei na TV Tupi, no programa da Cidinha Campos. Escrevi em revistas como "Amiga" e "Sétimo Céu" e acabei parando no programa do Chacrinha, onde fui contratado como jurado em 1964 e fiquei seis anos. Aí comecei a trabalhar com o Silvio Santos, com quem fiquei direto, de 1970 a 1997. Conheci o Silvio há tanto tempo. Como é a vida, né? Agora ele é um dos homens mais ricos do mundo e eu, um dos mais pobres da classe artística...
Por que você sempre foi um jurado tão ranzinza?
Sou um conservador, um defensor dos princípios da família e da moral. Nunca aceitei que ninguém cantasse sem sutiã, nem com minissaia, que se tornou coqueluche anos atrás. Sempre tomei medidas enérgicas contra isso, até ameaçando me retirar quando o candidato era muito acintoso.
Mas, se você defende a moral e a tradição, como explica este cabelo comprido?
Eu acabei concluindo que cabelo comprido no homem é um sinal de sabedoria, tradição e respeito. Só os grandes homens da história é que mantiveram longos cabelos, inclusive Jesus e Tiradentes. A mulher é que imita o homem, deixando o cabelo crescer (risos). A mulher tem de pedir licença para o homem quando quiser falar. Caso contrário, estará cometendo um erro. A palavra é para o homem, ele é a decisão. Ele pode até dar a chance para ela discutir o assunto, mas quem define é ele, nunca ela (risos).
Você é um pouco machista, não?
Um pouco, não. Pouco é pouco para mim: eu sou é muito machista, totalmente. Porque o homem é a cabeça da mulher. Minha mulher manda aqui em casa até certo ponto -e se não fosse assim ela não gostaria de mim, porque mulher gosta de ser mandada pelo homem que ela ama. É uma tendência natural do sexo feminino. Tanto é que a leoa é que caça para o leão, ele não faz nada.
Fora da TV, você era muito vaiado?
Sempre fui muito vaiado, porque, naquela época, o povo queria se libertar, principalmente as mulheres. E eu trancava a porta delas. Mas, quanto mais vaiado, mais notado eu era. A vaia, em certas circunstâncias, passa a ser consagração. Muitos quiseram me agredir na rua, e eu, para manter minha postura, tinha de ir para a praia de calça comprida -jamais mostrei minhas pernas, já que sou contra a mulher expor as suas.
Quando e por que surgiu seu nome artístico, Pedro de Lara?
Lara significa "ideal acima de tudo", segundo os espanhóis. É um nome que já adoto desde antes de você nascer multiplicado por dois, há 44 anos. Grandes figuras, como dom Pedro de Lara, me inspiraram a ter esse nome, porque Ferreira dos Santos, meu nome de batismo, não tem ênfase. Não é aquela coisa artística... Imagine: "Agora, com vocês, Pedro Ferreira dos Santos", não dá.
Você lançou este ano o "Livro da Sabedoria" (editora Madras), com pensamentos que reuniu nestes mais de 40 anos de carreira. De onde tira inspiração para essas frases?
De tanto viver e sofrer, tem de saber escrever... Se um dia você está preocupado, é só abrir meu livro e botar o dedo em uma frase. Todos nós temos nosso dom espiritual. Se ele vem para você, não se queixe do que Deus lhe deu. Esse livro será ampliado brevemente, terá mais umas 40 páginas. Hoje mesmo escrevi uma coisa: "Quanto mais altura, mais curvatura, todo alto é curvo".
Você sabia que foi eleito um dos homens menos sexies pelos leitores da "Revista da Folha", no domingo passado?
Sempre fui vítima do despeito. Nunca mostrei minhas pernas para ninguém, nunca participei de qualquer show de exibição erótica, então é difícil ser entendido pelos expoentes do erotismo. Mas afirmo que sou casado com uma das mulheres mais bonitas do Brasil e ela não cairia nas mãos de um Frankenstein. Sou bonito e gostoso. E, aos que me elegeram o menos sexy, lembrem-se de que sou casado. No entanto, onde passo as mulheres correm atrás de mim, com abraços e beijos. Boa sorte aos despeitados!