São Paulo, Domingo, 19 de Dezembro de 1999


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CLUBE DO BOLINHA
Programas de culinária com apresentadores tentam fugir às fórmulas tradicionais, oferecendo na televisão algo mais do que receitas manjadas
Homens de avental propõem ceia "diferente"

Dado Junqueira/Folha Imagem
Olivier Anquier, que apresenta o "Diário do Olivier", no canal GNT


BRUNO GARCEZ
da reportagem local

Q UEM está sem idéias de receitas para a ceia de Natal pode "roubar" algumas nos muitos programas de culinária que são exibidos na TV-vários deles, vale frisar- apresentados por homens. Alguns buscam o formato tradicional, consagrado por veteranos como a saudosa Ofélia, em que o apresentador prepara quitutes em uma cozinha montada em um estúdio de TV. É o caso do "Bom Apetite", apresentado por Luiz Cintra, que vai ao ar na Bandeirantes, aos sábados, às 12h45.
Já outros, como Olivier Anquier, do "Diário do Olivier", exibido no canal GNT, querem inovar. Anquier já levou seu programa para diferentes pontos do Brasil, exibindo pratos típicos capixabas, em Vitória (ES), botequins tradicionais do Rio -na companhia do cantor Ed Motta- e até chegou a preparar pão em uma aldeia indígena no Araguaia.
"Sou curioso por natureza e passo isso para o espectador. Quero que meu programa abranja aventura, humor e comportamento", diz Anquier.
No próximo ano, Anquier pretende continuar viajando com o seu "Diário". O apresentador pretende, inclusive, no futuro, fazer incursões pelo exterior. "Gostaria de exibir a culinária de origem africana da Bahia e mostrar suas semelhanças com a de Cuba", afirma.
Além disso, ele também dará continuidade a séries que o "Diário" já vem exibindo, como a da cozinha elaborada por "mammas", de diferentes origens, como a italiana, a judaica e a libanesa, por exemplo. Outra prática que terá continuidade é a visita regular de chefs ao programa, como no especial rodado no Araguaia, que recebeu Alex Atala, chef e proprietário dos restaurantes paulistanos Namesa e Dom.
O ator Rodolfo Bottino, apresentador do "UD Gourmet", no canal Shoptime, não costuma levar chefs ao seu programa, mas ele próprio já foi dono de um restaurante, no Rio, onde preparava vários pratos. Bottino está há quatro anos à frente do "UD Gourmet", mesmo período em que está sem gravar novelas. A última foi "Pátria Minha". "Elas consumiam todo o meu tempo. Não digo que não volte a fazer, mas hoje me sinto melhor apresentando um programa de gastronomia. As pessoas na rua não me pedem mais autógrafos, mas sim receitas."
No início, a atração comandada por Bottino era gravada, mas há dois anos passou a ser transmitida ao vivo. "Não é fácil. Vivi muitas enrascadas. Certa vez preparei uma sopa de feijão e o fundo do liquidificador caiu e eu sujei a cozinha toda. Noutra, escorri um macarrão, ele caiu na pia, me queimei, mas tive de ficar quietinho. Depois, peguei jogo de cintura. Preparei uma mousse numa forma errada e ela não saiu inteira. Fui tirando-a com colheradas e disse que não se usa mais forma para se preparar certos pratos e depois decorei tudo com presunto."
O ator e apresentador tem planos de construir uma "pensão chique", como define, em Ipanema (zona sul do Rio) e irá montar, em janeiro, a peça "Risoto", exibida no andar de cima de um restaurante na hora do almoço. No espetáculo, um monólogo, Bottino além de atuar vai preparar um risoto para a platéia. O "UD Gourmet" exibirá na próxima semana pratos natalinos. Haverá desde os habituais peru e tender até doces, como pudim de nozes e rocambole de Nutella (ver receita ao lado).
Os demais programas de culinária não enfrentam tantos riscos como o de Bottino, uma vez que são gravados e seguem o formato clássico. Luiz Cintra, do "Bom Apetite", afirma não se sentir à vontade fazendo piadinhas e contando histórias. "Acho legal, mas não é o meu estilo", comenta o apresentador.

'Boca de marmanjo, não'
É bem verdade que a despeito de seu estilo seco, Cintra se permite vez por outra alguns toques de humor. Em programa exibido na semana retrasada, Cintra, após provar o prato que havia feito, ofereceu um pouco para o cameraman, mas fez uma ressalva: "Pega no garfo que eu não vou ficar dando comida na boquinha de marmanjo".
Cintra diz buscar um meio termo entre a descontração e a informação. "O ideal é oferecer um pouco de cultura, história da gastronomia e dados sobre os ingredientes de um prato. Já que me proponho a dar aula de gastronomia, não vou fazer algo jocoso", afirma o apresentador, que há 18 anos dá consultoria para restaurantes.
A seriedade de Cintra parece estar dando resultados, tanto assim que o seu site, www.luizcintra.com.br, chegou a receber neste mês 1 milhão e 300 mil visitantes.
Quem também aposta na linha clássica é Allan Vila Espejo, cujo título de seu programa, "Mestre Cuca", não é em vão, uma vez que é esse o traje que ele ostenta quando vai ao ar.
Espejo, assim como Cintra, também tem experiência no ramo de restaurantes. É um dos donos da rede paulistana Don Pepe di Napoli há 15 anos. Ainda assim, prefere não usar ingredientes que fujam ao dia-a-dia ou que pesem no bolso do telespectador. "É fácil para um amazonense encontrar tucupi, mas não para um paulistano", diz.
A preocupação de Espejo em economizar poderá ser conferida nos próximos dias, quando ele apresentará diferentes receitas feitas com apenas um chester natalino, entre elas maionese (ver receita ao lado) e espaguete.


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