São Paulo, Domingo, 20 de Junho de 1999
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Oito projetos para humorísticos -alguns com idéias novas, outros baseados em velhas fórmulas- disputam uma vaga na grade de programação das emissoras
Vale a pena rir de novo?

Alexandre Campbell/Folha Imagem
Roteiristas do grupo Grelo Falante, que desenvolvem projeto para a Rede Globo


ALINE SORDILI
da Reportagem Local

Se você acha que a TV aberta está sem graça, prepare-se: mais oito programas humorísticos estão sendo produzidos, a maioria com estréia prevista para o segundo semestre deste ano ou no início de 2000. Em diferentes fases de desenvolvimento, eles podem ser produções das próprias emissoras -como o "Megatom", na Globo- ou iniciativa de produtoras -como a "Família Buscapé", da BCM Produções e Merchandising.
Os humorísticos têm sido vistos pelas emissoras como a "tábua de salvação". Normalmente, são produções baratas e que dão audiência -o que significa retorno rápido. De um modo geral, o que vem por aí não vai criar fórmulas inovadoras. São programas inspirados em sucessos do passado, como "Planeta dos Homens", "Balança, Mas Não Cai" e o formato já consagrado da escolinha, além das comédias de costumes.
Na Globo, a novidade mais recente é o grupo de roteiristas Grelo Falante, tido como a versão feminina do "Casseta & Planeta". O grupo existe há um ano e tem como principal atividade um "jornal-humor".
Recentemente, suas integrantes foram convidadas por José Lavigne e Cláudio Manoel, diretor e roteirista do "Casseta", respectivamente, para montar um programa, cujo piloto será produzido pela Globo.
"É um humor baseado na visão feminina do mundo: cuidar da casa, trabalhar fora, cuidar dos filhos etc. Mas isso não quer dizer que será um programa só para mulheres. Vamos atingir os homens também. É para todas as pessoas que curtem humor", afirma Cláudia Vale, diretora de teatro que resolveu montar o grupo. As outras integrantes, Cláudia Ventura, Suzana Abranches, Lucília Assis e Carmen Frenzel, são atrizes, mas não vão atuar na Globo.
A Folha apurou que algumas atrizes estão sendo cotadas para o humorístico: Marieta Severo, Fernanda Torres, Cláudia Gimenez e Andréa Beltrão.
O programa será baseado em esquetes -pequenos quadros cômicos-, com cenas em estúdio e externas. "Somos como afilhadas do "Casseta", mas nosso humor é diferente", diz Lucília Assis, 38.
Outro projeto que voltou a andar na emissora é o "Megatom", protagonizado por Tom Cavalcante, ex-"Sai de Baixo". A direção do programa ficará a cargo de Aloysio Legey.
Recentemente, o projeto foi suspenso pela emissora após o humorista ter deixado as gravações do humorístico dominical, em São Paulo, avisando que não voltaria mais.
Depois de ter se explicado com a direção da Globo, o piloto voltará a ser produzido para, futuramente, disputar uma vaga no horário nobre da emissora.
Em "Megatom", o humorista terá todo o espaço que sempre quis para criar e exibir seus tipos. "Vamos manter basicamente a mesma fórmula do "Sai de Baixo", gravado com platéia. Teremos cerca de 10% de cenas externas e vamos gravar algumas cenas sem a presença do público para dar mais qualidade, diferentemente do que fizemos no primeiro piloto. Nessa semana, retomaremos o projeto", garante Tom.
Para ele, humorísticos são como "pão doce". "Hoje, até gente das classes sociais mais baixas tem aparelho de TV. É o rádio AM dos anos 90. É preciso investir nisso". Quanto ao "Sai de Baixo", afirma: "É só saudades. O Ribamar poderá voltar rico e famoso, numa participação especial".

De casa nova
Depois de 12 anos na Globo, que lhe renderam dois especiais, e de uma recente e breve passagem pelo SBT, o humorista João Kléber passa a ter um espaço fixo no ar. A Folha apurou que ele está em negociações finais com a Rede TV! (ex-Manchete) para ter um programa só seu.
A cada passagem sua pelos programas do Gugu e do Ratinho, ambos no SBT, a audiência chega a subir seis pontos. Com esses resultados, João Kléber recebeu recentemente um convite da Globo, mas declinou. "Não quero ficar escravo da audiência. No SBT e na Globo, querem resultados imediatos."
"Vou fazer um programa popular, sem ser popularesco. Para dar certo, o humor tem de ser popular."
João Kléber acredita, porém, que faltam bons redatores que segurem os humorísticos. "O bordão sumiu da TV. As cenas de rua, que fazem com que as pessoas se identifiquem, também. É isso que precisa voltar, como no "Planeta dos Homens.'" Segundo ele, é isso que faz com que os quadros não se sustentem, e os programas mudem de horário sempre.
Apesar do sucesso fácil, alguns programas precisam de algumas manobras para emplacar. Para não mais brigar de frente com "Ô..., Coitado!", para o qual vinha perdendo no ibope, a Globo decidiu mudar de dia o "Zorra Total".
Antes às quintas-feiras, o "Zorra Total" enfrenta agora, aos sábados, "A Praça é Nossa", que dá em média 26 pontos -cada ponto equivale a cerca de 80 mil pessoas na Grande São Paulo. No início, a troca de horário deu certo, mas "Zorra" voltou a perder nas últimas semanas.
"O Belo e as Feras", de Chico Anysio, teve um final mais trágico. O humorístico está fora do ar, mas pode voltar, apesar de sua equipe de produção ter sido desativada.
"Não houve justificativa da Globo para o cancelamento de "O Belo e as Feras", que dava média de 26 pontos. O "Zorra Total" dá menos", afirma Bruno Mazzeo, criador e roteirista do programa e filho de Chico Anysio.
Para Mazzeo, "o problema não é a quantidade de humorísticos, é a qualidade". Depois da saída brusca de "O Belo...", alguns humoristas temem perder sua vaga no ar.
Na semana passada, após um seminário para o mercado publicitário, Marluce Dias da Silva, diretora-geral da Globo, resumiu a origem desse temor.
"A estrutura da Globo é constante, e é fundamental que as coisas de qualidade sejam mantidas. Isso sem perder a coragem de arriscar, sem perder a coragem de botar no ar e tirar se não ficou bom. Sem perder a coragem de ousar, fazendo coisas diferentes. Põe no ar e, se não foi a melhor coisa, com a mesma velocidade que você põe, você tira", disse.


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