São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2000


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AUDIÊNCIA
Devido a derrotas para a concorrência e já se preparando para Sydney, Globo substitui "Muvuca", "Garotas do Programa" e "Você Decide" por macrossérie de época
"Aquarela" é arma contra filmes e Olimpíada

Zulmair Rocha/Folha Imagem
Os atores Thiago Lacerda e Maria Fernanda Cândido, protagonistas da macrossérie "Aquarela do Brasil"


ERIKA SALLUM
DA REPORTAGEM LOCAL

A FÓRMULA pode ser velha, mas o impacto é novo. Quando a macrossérie "Aquarela do Brasil" estrear nesta terça-feira, às 22h45, na Globo, não será apenas mais uma superprodução de época que passará a fazer parte das atrações da emissora. Por trás dela, esconde-se a consolidação de uma maciça mudança na programação do canal, visando em especial dois objetivos: fazer frente a um semestre complicado, com eleições e Olimpíada, e tentar reconquistar a audiência em um horário em que há tempos vem perdendo para a concorrência.
Na semana passada, a Globo tirou do ar "Muvuca", "Garotas do Programa" e "Você Decide", divulgando como motivo o horário eleitoral gratuito, que começou a ser exibido no último dia 15, diariamente, às 13h e às 20h30. Coincidentemente ou não, os programas extintos vinham levando um verdadeiro banho das emissoras concorrentes, desde que a Globo instaurou este ano, no lugar de seu "Intercine", um segundo horário de shows, exibidos após atrações como "Casseta & Planeta" e "Globo Repórter".
O caso mais sintomático é, sem dúvida, o do programa de Regina Casé, que estava sendo apresentado às terças, após "Casseta". Desde que Silvio Santos gastou US$ 200 milhões na compra de um pacote de filmes dos estúdios Disney e Warner e passou a exibi-los no mesmo horário, "Muvuca" se acostumou a ver o SBT virar líder de audiência.
No dia 11 de abril, por exemplo, o humorístico amargou 18 pontos no Ibope (cada ponto equivale a 80 mil telespectadores na Grande São Paulo), contra 30 pontos do SBT, que transmitia "Duro de Matar 3". No dia 2 do mês seguinte, mesmo com participações especiais de Marcelo Tas e Pedro Cardoso, o programa levou outra lavada: teve 15 pontos, contra 33 pontos da concorrência, que, no mesmo horário, mostrava Demi Moore seminua em "Striptease".
Apesar de a Globo divulgar que todos esses programas voltam ao ar com o fim do horário político, nos corredores da emissora o que se comenta é que as eleições foram, na realidade, um pretexto para uma série de ajustes na programação. Assim, "Garotas do Programa" -que, exibido às sextas-feiras, definitivamente não emplacou- acaba de vez, e, provavelmente, Regina Casé ganhará uma nova atração no próximo ano. Já o futuro do "Você Decide" é incerto.
Além de Silvio Santos e seus campeões de bilheteria, a Globo tem também pela frente outro obstáculo: a Olimpíada. A partir de setembro, começa uma enorme batalha entre os canais para ver quem atrai mais telespectadores com os Jogos de Sydney -com a Bandeirantes na dianteira, prometendo uma cobertura de dez a 12 horas por dia, sempre ao vivo.
Se a Band anuncia que suas transmissões da Austrália, durante a semana, terão início a partir das 22h -com um jornalístico comandado por Márcia Peltier, de Sydney-, a Globo contra-ataca com "Aquarela do Brasil", na tentativa de prender a atenção da audiência até o "Jornal da Globo" e o "Programa do Jô", que também serão feitos na Austrália.
Como a maior emissora do país pretende conseguir isso? Fácil: trazendo para a tela nada menos que uma superprodução de época, que já provou ser do agrado do público -recentemente, "A Muralha" conseguiu manter uma média de 29 pontos, considerada bastante alta para o horário.
Outras armas poderosas na nova série: Thiago Lacerda e Maria Fernanda Cândido, o casal sensação que virou estrela com "Terra Nostra", um dos grandes acertos da emissora nos últimos tempos. Com 68 capítulos e ambientada nos anos 40, "Aquarela" traz ainda mais trunfos. Também de "Terra Nostra", vêm o diretor Jayme Monjardim e mais sete atores, entre eles até André Luiz Miranda, que na trama italiana interpretava o menino Tiziu (veja texto na página ao lado).
"Aquarela do Brasil", escrita por Lauro César Muniz -parceiro de Monjardim em "Chiquinha Gonzaga", outra série de sucesso-, conta a saga de uma jovem do interior (Maria Fernanda) que sonha em ser cantora de rádio. Em seu caminho, surgem os galãs Mário (Lacerda) e Hélio (Edson Celulari), que se apaixonarão por ela. Tudo muito diferente de "Terra Nostra", mas, ironicamente, com o mesmo ar nostálgico e romântico que elevou o ibope da novela das oito.
"Não acho que há tantos atores de "Terra Nostra" assim. Escolhi o elenco por causa de seu talento. E, além do mais, Thiago e Maria Fernanda não estão com suas imagens desgastadas ou saturadas. Pelo contrário. São artistas que já vinham sendo preparados para protagonizarem futuras tramas", diz Monjardim, responsável pela descoberta do casal.
Segundo Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, a emissora decidiu estrear "Aquarela do Brasil" e tirar do ar "Muvuca", "Garotas" e "Você Decide" porque "é muito mais fácil manobrar uma série do que um programa".
"O horário político, somado ao restante de nossa programação, causa muitas variações, ainda mais em dias de jogos de futebol. No caso de uma série, é possível aumentar ou diminuir capítulos sem maiores problemas. Haverá dias em que, por exemplo, "Aquarela" terá dois blocos e apenas um intervalo comercial. Já imaginou um "Você Decide" com apenas dois blocos? Teríamos de apresentar a história no primeiro e a decisão do público no segundo", explica Erlanger.
Sobre "Muvuca", "Garotas" e "Você Decide", ele afirma que essas atrações voltam ao ar com certeza: "Isso já aconteceu no passado com vários programas (inclusive com "Muvuca" e "Você Decide'). As produções vão aproveitar essas férias para serem reformuladas e depois retornarão".
Ainda de acordo com o diretor da Central Globo de Comunicação, a estréia de "Aquarela do Brasil" nada tem a ver com a Olimpíada de Sydney: "Não estaríamos lançando uma superprodução apenas para alavancar outros programas. Sem contar que tanto o "Jornal da Globo" quanto o "Programa do Jô" têm ótimos índices, e a tendência é que eles cresçam com os Jogos".



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