São Paulo, domingo, 20 de setembro de 1998

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TV NO MUNDO

Série teen dos EUA é 'Malhação' sutil

ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha

No dia 7 de outubro estréia a nova temporada do seriado "Dawson's Creek" na rede Warner, nos EUA. No Brasil, o canal Sony exibirá os episódios a partir do dia 19 do mês que vem. James Van Der Beek e Kathie Holmes representam Dawson e Joey, o charmoso casal de adolescentes cabeça do seriado, que juntamente com "Buffy, a Caça-Vampiros" faz o sucesso da Warner, a emissora que sintoniza a angústia moderna teen nos EUA.
Lançado em uma temporada piloto em 1996, "Dawson's Creek" já gerou protesto em segmentos puritanos do público da América do Norte porque mostrou um envolvimento sexual e afetivo entre uma professora e um aluno de segundo grau. A polêmica rendeu visibilidade ao seriado de inspiração autobiográfica escrito por Kevin Williamson, autor do roteiro do filme "Pânico" que, na esteira do sucesso televisivo, se prepara para lançar seu primeiro filme como diretor, com a participação de Kathie Holmes.
O escândalo não se justifica. Ao contrário de algum excesso de sexualidade, o encanto de "Dawson's Creek", está justamente em sua habilidade de representar a relação amorosa com rara ambivalência e sutileza.
Dawson e Joey vivem um intenso envolvimento cotidiano às margens de um riacho, o "creek" que dá acesso de barco a várias habitações de uma cidade fictícia do estado da Carolina do Norte. Dawson e Joey são meio irmãos, meio amigos, meio namorados. Os dois personagens compartilham um fascínio pela coisa séria. Cada um a seu modo procura ser analítico e profundo na medida contemporânea. Longe da tabacaria na literatura de um Fernando Pessoa, o ideal de Dawson é o cinema e o herói é Steven Spielberg.
"Dawson's Creek" sugere que é possível recuperar uma sensualidade sutil distante do excesso de exibição que retira o mistério das relações amorosas. Os personagens se movem e se encontram com delicadeza. Deslizam de barco remando no rio. Ela entra no quarto dele pela janela. Seu exercício diário está muito longe da exibição forçada de "Malhação".
O charme dos personagens não está centrado na exibição de seus músculos. Van Der Beek é careta. Dorme com Joey, mas hesita em transar com ela. O figurino é discreto. O personagem central é até mesmo quase vesgo. Dawson atrai porque é denso, sincero e encanado. Joey encanta porque é direta, independente e corajosa. Seus amigos Pacey e Jen acrescentam instabilidade.
O que nos Estados Unidos pode às vezes causar escândalo, aqui aparece como um seriado inofensivo. A graça de "Dawson's Creek" está justamente na delicadeza com que trata da ambivalência das emoções românticas.


E-mail: ehamb@uol.com.br



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