São Paulo, Domingo, 21 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sitcom "That '70s Show", que satiriza os adolescentes da década de 70, se revela a surpresa da última temporada de seriados dos EUA, marcada por fracassos, e mostra fôlego para se tornar uma nova mania
Jovens, chapados e cultuados

Divulgação
O elenco do seriado 'That´s '70s Show'


ALEXANDRE MARON
da Reportagem Local

Em uma temporada marcada por fracassos e cancelamentos dos novos seriados norte-americanos, um único programa desponta como promessa: "That '70s Show".
O sucesso alcançado pelo seriado em sua primeira temporada motivou uma versão que será produzida na Inglaterra, mostrando como era a década de 70 por lá. Mais versões locais podem aparecer em outros lugares do mundo.
A sitcom (comédia de costumes) é exibida no Brasil pela Sony todas as segundas, às 20h30, e já é cultuada por personalidades da TV e música brasileiras, como a apresentadora Lorena Calabria e o músico Beto Lee.
A história começa no ano de 1976 e conta as descobertas do protagonista, Eric Foreman (Topher Grace), um adolescente de 17 anos, e de seus amigos, que se reúnem em um porão de uma casa, no interior do Estado de Wisconsin (EUA), às vezes para fumar maconha.
Entediados, morando longe de tudo e dispostos a descobrir o mundo, os adolescentes tentam se divertir. Suas empreitadas geram piadas sobre situações como comprar cervejas ilegalmente, pegar o carro do pai emprestado e fugir da proteção materna.
O pai de Eric é um operário que trabalhava numa montadora de automóveis e que se vê desempregado após a crise que se abateu sobre o setor na época. Ele é obrigado a trabalhar como vendedor numa loja de departamentos que pertence ao seu vizinho.
A mãe é uma típica mulher dos anos 70, tentando ajudar o marido e procurando emprego. A vizinha e amiga de infância, Donna Pinciotti (Laura Prepon), está tentando se tornar sua namorada, mas esbarra na timidez de Eric.
A relação do casal de adolescentes se torna mais séria e, no episódio que será exibido hoje nos EUA e em março no Brasil, chamado "The Pill" ("A Pílula"), Donna começa a tomar pílulas anticoncepcionais escondida de Eric.
Ela se prepara para o momento em que, junto com ele, perderá a virgindade. O que deve acontecer num dos próximos episódios.
Há ainda no grupo o bonitão e limitado intelectualmente Michael Kelso (Ashton Kutcher), o rebelde Stephen Hyde (Danny Masterson) e o estudante de intercâmbio Fez (Wilmer Walderrama), que tenta entender o modo de vida norte-americano.
A rica e mimada Jackie Burckhardt (Mila Kunis) completa o grupo. Jackie só é aceita por Eric, Donna, Hyde e Fez porque é a namorada de Kelso.
O programa usa esses personagens para fazer piadas sobre diversos aspectos da sociedade da época, como as roupas e a música, a liberação da mulher e o uso de drogas por adolescentes.
No primeiro episódio, os jovens chegam a aparecer consumindo maconha. A cena gerou polêmica e os produtores foram advertidos pela rede Fox, dos EUA, que exibe o seriado.
Nos capítulos seguintes, são satirizadas situações como o desemprego do pai de Eric, a alienação política, o fanatismo religioso e a guerra dos sexos (leia quadro ao lado).
O seriado também ficou conhecido pelas cenas que mostram o que os personagens imaginam em contraste com a realidade. Outra técnica usada na série mostra diálogos em que a câmera gira 360 graus enquanto mostra o que cada um tem a dizer.
Desde sua estréia, em agosto na rede Fox, nos EUA, o seriado vem ganhando críticas positivas e uma audiência estável, em torno de 11,5 milhões de telespectadores. "Plantão Médico", por exemplo, que é o líder de audiência, é assistido por 25 milhões de pessoas.
Das cinco séries lançadas pela Fox no ano passado -entre elas "Brimstone" (exibido aqui pelo canal pago Warner) e "Costello" (já mostrada aqui pela Sony)-, só "That '70s Show" sobreviveu. As outras foram canceladas.
A outra medida da popularidade de um programa de televisão é a quantidade de sites na Internet que são criados por fãs.
Uma central de sites da série (www.geocities.com/ Hollywood/Theater/7186) lista pelo menos 32. Há, também, home pages para todos os personagens principais do seriado (leia texto na página ao lado).
No Brasil, exibida pela TV paga desde outubro de 98, a série já conquistou fãs. Lorena Calabria, 34, apresentadora do "Metrópolis", da TV Cultura, e do "Cinema Motion", do canal pago USA, acha que o programa é a melhor sitcom no momento.
"Os personagens são engraçados e não ficam presos a estereótipos. A série não se resume a roupas e à moda das discotecas. Mostra rock progressivo e os costumes de uma forma universal", analisa.
Beto Lee, 21, músico e filho de Rita Lee, um ícone pop dos anos 70 no Brasil, também tem o programa como sua série predileta. Para ele, a caracterização da época é muito parecida com sua concepção do que aconteceu. "Eles retratam as roupas, cortes de cabelo e as músicas com autenticidade", diz.
A suposta autenticidade é tanta que Maurício Arruda, 34, roteirista do "Turma da Cultura", da TV Cultura, chegou a achar que era uma atração produzida nos anos 70. "A direção de arte é muito boa, e os assuntos abordados mostram o comportamento da época", avalia.
Já o artista plástico Fernando Zarif, 38, diz que a série é mesmo engraçada, mas que há algo errado. "Quem passou por essa década sabe que, na verdade, os anos 70 foram muito mais divertidos do que a série mostra", afirma.
O criador e roteirista de "O Belo e as Feras", exibido pela Rede Globo, Bruno Mazzeo, 21, também acha "That '70s Show" a melhor sitcom do momento.
"Os personagens agem como adolescentes de verdade e suas personalidades são muito bem delineadas. Além disso, o humor visual do seriado é muito bem feito", conclui.


Texto Anterior: Documentário: Cultura mostra Brasil que dá certo
Próximo Texto: Fãs homenageiam atores
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.