São Paulo, domingo, 21 de abril de 2002

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"O CLONE"

Solange Couto fala da cena inesquecível

Sargentelli queria morrer num bar

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

IMAGINE a situação: você encontra um velho amigo depois de muitos anos. No reencontro, emocionado, ele se sente mal, aperta sua mão, tem um infarto e morre horas depois.
Solange Couto, 45, a dona Jura de "O Clone", passou por isso no último dia 13, com Oswaldo Sargentelli, que morreu aos 78 anos. Tudo aconteceu durante a gravação de uma cena que iria ao ar ontem, escrita pela autora, Glória Perez, a pedido da própria atriz.
"Sabe como me sinto? Feliz por ter realizado seu último desejo. Ele sempre me dizia que queria morrer no palco, trabalhando, ou num botequim tocando samba numa caixa de fósforo, cercado de mulatas e de amigos", disse Solange ao TV Folha. "Ele estava trabalhando na mesa de um bar. Era cenográfico, mas era um bar [o da dona Jura". E lá estavam seus amigos, como o Roberto Bonfim [o Edvaldo, na novela", eu e outras mulatas."
Os dois se conheceram em 1972, quando, aos 16 anos, Solange, que sempre sonhou ser atriz, foi apresentada a Sargentelli. Ele já era famoso por seus programas na TV e estava emplacando como produtor de shows com mulatas. De modelo, ela passou a dançarina e foi talvez a predileta do patrão. Trabalhou com ele por três anos, mas teve de parar quando se casou com o cantor Sidney Magal. "Ciúme...", diz.
Mas o casamento acabou e, em 1980, ela voltou aos shows de Sargentelli, até ser convidada, poucos meses depois, para um teste na TV, pelo diretor Walter Avancini (morto em 2001). Começou em "Os Imigrantes", na Band, e passou a atuar em várias minisséries e novelas.
Mas a dona Jura de "O Clone", acredita Solange, é seu papel mais famoso e ficará marcado pelo bordão: "Não é brinquedo não!". "Quando peguei a sinopse, fiquei tentando criar algo que marcasse. Estava no carro, rezando por uma boa idéia, até que tomei uma fechada no trânsito e gritei essa frase, que nunca tinha escutado."
Com o sucesso da personagem, ela virou reportagem do "Vídeo Show". A pedido da produção, Solange mandou seu secretário procurar Sargentelli e pedir umas fotos antigas para o programa. Com as fotografias, veio um bilhete que dizia: "Querida Solange, que tal o seu velho sargento indo visitar o bar da dona Jura? Que presentão você me daria, heim?! Seu paizão, Oswaldo Sargentelli".



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