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PERFIL / CID MOREIRA
Ele apresentou por 27 anos o "Jornal Nacional", o telejornal mais influente do país. Em 1996, após sair do "JN", Cid Moreira, 72, um
dos rostos mais conhecidos do país, se reinventou lançando uma série de CDs com trechos bíblicos e salmos.
Nos últimos tempos, ele faz sucesso no "Fantástico" com sua mistura de humor e emoção ao narrar quadros como o do padre Quevedo
e o do mágico Mister M.
Narrador quer lançar íntegra da Bíblia em CD
ALEXANDRE MARON
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de 26 anos no sisudo "Jornal Nacional", o senhor agora aparece no "Fantástico" sempre com muito bom humor.
Por que essa mudança?
Quando comecei em Taubaté, na década de 40, se impunha o profissional mais
formal. O "Jornal Nacional" é também
muito formal, não se admite erro. Agora
faço essa participação no "Fantástico".
Um diretor me deu a idéia de gesticular
mais. Usar mais as mãos. Isso era incomum, porque no "Jornal Nacional" eu só
aparecia do peito para cima. As mãos
não podiam ser mostradas.
Qual a sua opinião a respeito da maior
coloquialidade nos telejornais?
Acho que o ideal é isso. Tem de ser coloquial. Você entra na casa dos outros,
então, tem de imaginar que vai estar falando com uma única pessoa, que está
em casa sozinho com a TV.
Depois da saída do "JN", em 96, o que
mudou em sua vida?
Fiquei quase 30 anos naquele horário,
indo para a Globo às 17h e chegando em
casa às 21h30. De repente, não fazer mais
aquilo deixou um vácuo. Fiquei pensando no que fazer. Resolvi malhar. Montei
uma academia em casa e malho todos os
dias naquele horário, por volta das 18h.
Quando dá 20h, janto vendo o "JN".
Essa quebra na rotina foi complicada?
Eu sabia que sairia um dia, não ia ficar
naquele horário o resto da vida. Quando
aconteceu, fiquei sem saber como aproveitar o tempo. Assim que saí do "JN",
comecei a gravar o "Novo Testamento".
Malhava e gastava seis horas por dia estudando a "Bíblia" e gravando.
Durante os anos que trabalhou no "JN",
o sr. sentiu falta da possibilidade de entrevistar pessoas, fato comum hoje principalmente nos noticiários locais?
Seria ótimo. Eu gostaria de ter vivido
isso. De poder perguntar a um político
como foi que aconteceu determinado
desvio de verba. Mas teria que ser algo
bem coloquial, bem humano.
Quando e onde o sr. começou a carreira
de locutor?
Eu trabalhava na rádio Difusora lá em
Taubaté e havia um correspondente que
fazia reportagens sobre política para a
rádio Bandeirantes, da capital. Um dia,
ele ficou afônico e pediu que eu falasse
em seu lugar. Estremeci, mas fui e fiz. O
diretor-geral da rádio gostou e me chamou para trabalhar. Vim para o Rio na
década de 50 para ajudar a revigorar a rádio Mayrink Veiga. Um pouco antes de
1964, o grupo político de Leonel Brizola
assumiu o controle. Ele tinha o apresentador dele. Um dia, o cara adoeceu e me
pediram para apresentar o programa do
Brizola. Eu falei que não, porque não
gosto de política. Na época, eu já estava
fazendo comerciais para a TV. De lá, passei pelas TVs Rio, Excelsior, Tupi e Globo
até chegar ao "Jornal Nacional", em 1969.
Por que o senhor não discute política?
Acompanho o noticiário político, mas
não me envolvo. Não gosto de política.
Algumas pessoas dizem que, se eu me
candidatasse, me elegeria facilmente.
O sr. já gravou mais de 30 CDs com temas bíblicos. Qual é a sua religião?
Fui criado na religião católica, mas me
defino simplesmente como cristão. Acima de tudo, procuro exercitar o cristianismo. Não ter inveja e não desejar o mal
às pessoas. Eu procuro fazer com que a
mensagem de Deus chegue a todos de
uma forma que seja de agrado geral. Sou
a favor da divulgação da "Bíblia" em linguagem atual. Porque a linguagem clássica fica distante das pessoas.
Há alguma técnica vocal específica para
os CDs bíblicos?
Não, nada de especial. Mas estou cansado de ver nos noticiários de telejornal
uma falha que eu não cometia: a mudança de assunto sem mudar o tom de voz.
Nos CDs, usando a trilha e alterações do
tom, eu tento mudar os personagens do
texto. Faço a coisa ter fluência de um jeito que o camarada pode até dormir ouvindo as mensagens. Minha meta é convencer as pessoas a mudar a sua forma
de pensar.
O sr. tem algum novo projeto?
Tenho um sonho que, pelos meus cálculos, consumirá oito anos de trabalho.
Gravar a bíblia na íntegra. Tenho uma
gravação em inglês. São quase 70 CDs.
Mas o locutor fala como se fosse uma
corrida de cavalos, sem sentimento nenhum. O Deus dessa Bíblia parece um
robô. O meu Deus é diferente.
O senhor pensa em parar?
O dr. Roberto Marinho é dono de todo
esse império, tem mais de 90 e está trabalhando. Meu pai fez 97, está lá em Taubaté. Eu gosto de trabalhar. Não éramos
pobres nem ricos, mas sempre trabalhei,
desde garoto. Juntava ferro velho e fiz até
uma montanha de estrume para vender.
BLITZ
Nome: Cid Moreira
Nascido em: 29 de setembro de 1927, em Taubaté (SP)
Passatempo favorito: jogar tênis
Livro predileto: diversas versões da Bíblia
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