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TV NO MUNDO
"Truman Show' discute o fascínio
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha, em Austin
"The Truman Show" acaba de entrar em cartaz nos
EUA com estardalhaço. O
filme, que traz um hilariante Jim Carrey no papel
de estrela de uma novela
-que vai ao ar todos os
dias, 24 horas por dia, em
transmissão direta, em
tempo real e em canal de
TV exclusivo-, é divertido e intrigante.
O filme discute o fascínio
do público pela intimidade
alheia, ao mesmo tempo
em que nota a torcida do
mesmo público para que o
personagem consiga se livrar do jugo das câmeras.
Uma referência clara
aqui é a morte da princesa
Diana e a reflexão sobre os
limites da intrusão das câmeras que ela provocou.
O sucesso da novela dentro do filme se deve ao fato
de que Truman (Jim Carrey), o personagem principal, não sabe que sua vida
está sendo registrada minuto a minuto, a partir dos
mais variados ângulos, por
5.000 câmeras disfarçadas,
cujas imagens são transmitidas pela televisão para
uma audiência fiel e consumidora de produtos relacionados à marca do
programa.
A ignorância do personagem supostamente garante a autenticidade de
seu comportamento. Mas
também o faz prisioneiro.
Truman não pode sair do
alcance das luzes. Ele é cativo do estúdio. Vive em
uma ilha-cenário inventada e isolada. Seus amigos e
parentes são atores contratados. Seu cotidiano consiste em contracenar involuntariamente.
O que torna "The Truman Show" um bom filme
é a reflexão sobre o embaralhamento de diversos níveis de realidade, o da pessoa-personagem, o dos
amigos-profissionais, o do
criador do programa, o
dos fãs em casa assistindo e
consumindo, o da platéia
no cinema. E o de Jim Carrey, que anuncia logo no
início que está fazendo um
filme sobre si mesmo.
À primeira vista, "The
Truman Show" é mais
uma história a la "Admirável Mundo Novo" ou
"1984", fábulas sobre a
falta de liberdade e a pasteurização do mundo tecnologizado e impessoal
deste final de século. Mas
essa impressão de que a
narrativa vai simplesmente reproduzir os surrados
presságios do fatalismo futurista, da falta de subjetividade, do controle quase
remoto da maioria dos seres pelos poucos que possuem acesso à inteligência
e aos recursos do espetáculo, como que se desvanece
no decorrer do percurso.
Ao final, a torcida é para
que Truman consiga se libertar dos holofotes.
"The Truman Show"
representa a primeira incursão do prestigiado Peter Weir pelo terreno do
cinema comercial. O resultado combina a densidade
do diretor australiano com
o humor escancarado, a la
Jerry Lewis, de Jim Carrey,
em um filme ao mesmo
tempo horripilante e leve,
como convém a um lançamento de férias.
E-mail: ehamb@uol.com.br
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