São Paulo, domingo, 22 de março de 1998

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TV NO MUNDO
Local se impõe sobre o global

ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha, em Austin

O programa "Ratinho Livre" tem registrado maiores audiências que a Rede Globo sempre às quintas-feiras, único dia da semana em que a emissora exibe um enlatado para fechar o horário nobre. O público paulistano tem preferido o calor das aberrações locais ao colorido tímido e gelado do hospital estrangeiro.
Não se trata de qualquer enlatado. "Plantão Médico" é o programa de maior audiência da televisão norte-americana, chegando a atingir 40 milhões de telespectadores a cada semana, segundo dados do Nielsen Media Research. Mas é americano.
Isso, que para muitos seria um elogio, uma qualidade, acaba tendo o efeito inverso. A preferência do público está de acordo com as tendências contemporâneas no mundo. Pode parecer surpreendente, mas depois de tanto alarde sobre as consequências arrasadoras da globalização, o local é a palavra de ordem das empresas de comunicação nos Estados Unidos, na Europa, na Ásia e no Brasil.
A nova ênfase televisiva em programações locais foi o assunto da conferência do professor Joseph Straubhaar, proferida recentemente na Universidade do Texas. Especialista em comunicações, Straubhaar defendeu no início os anos 80 uma tese polêmica para a época: a de que o caso brasileiro demonstrava que era possível uma televisão genuinamente nacional na órbita do imperialismo norte-americano.
Com uma grande quantidade de informações e dados acumulados sobre a televisão na Ásia, o professor volta ao tema 15 anos depois em um livro a ser publicado em breve. As empresas de mídia que entraram no mercado asiático apostando na uniformidade e na globalização tiveram de rever suas estratégias para sobreviver e agradar seu público.
Os tailandeses preferem programas produzidos pelos chineses aos programas dos canais ligados às grandes redes internacionais, como Turner e Fox. Os japoneses fazem sucesso em todo o Oriente com programas que expressam uma versão asiática da modernidade ocidental.
Apoiado nas teorias da complexidade, o comunicólogo substitui a noção de "homogeneização" pela idéia de "hibridização". Essa nova tendência seria capaz de dar conta da multiplicidade de injunções históricas específicas do local e, ao mesmo tempo, do global -econômica e culturalmente.
O novo enfoque desfaz o temor da uniformidade totalitária sem cair no outro extremo, o da romantização de uma suposta autenticidade das manifestações locais, que casos como o de Ratinho desmentem de saída.


E-mail: ehamb@uol.com.br



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