São Paulo, Domingo, 22 de Agosto de 1999
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POR TRÁS DA CÂMERA
Paulo Zero, ex-câmera da Rede Globo nos EUA e em conflitos da América Central, vem trabalhar em São Paulo
Cinegrafista troca guerras e NY por SP

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
O cinegrafista Paulo Zero, que trabalha agora na Globo de SP


da Reportagem Local

Depois de trabalhar na Globo nos EUA durante 21 anos, o cinegrafista Paulo Zero mudou-se em maio para São Paulo e vem dando assistência aos câmeras dos telejornais da emissora.
Casado com a também repórter Sônia Bridi, Zero cobriu os conflitos políticos na América Central, como em Nicarágua e El Salvador, nos anos 70 e 80.
Com a equipe brasileira da Globo, já produziu dois "Globo Repórter", um explorando os desertos e mares de corais da Austrália e outro sobre Indonésia e Bali, com destaque para o exótico dragão de Komodo, animal nativo da ilha de mesmo nome.
Em entrevista, ele fala sobre seu trabalho. (THIAGO STIVALETTI)

Folha - Qual é a principal diferença entre o trabalho de cinegrafista no Brasil e nos EUA?
Paulo Zero -
Aqui, a maioria das equipes de filmagem dos telejornais, além do repórter, conta com um cinegrafista e o chamado "pejoteiro" -jargão para operador de unidade portátil-, que cuida da iluminação.
Já nos EUA, os equipamentos permitem que o cinegrafista seja o próprio diretor de fotografia e cuide da luz. O pejoteiro fica encarregado apenas do áudio da filmagem, o que dá maior qualidade ao resultado final.

Folha - Como deve agir o cinegrafista em situações diferentes, como uma eleição, uma queimada e uma guerra?
Zero -
Em qualquer ocasião, o câmera deve sempre buscar o detalhe, o inusitado. Mas o grau de influência do trabalho do cinegrafista varia de acordo com o que está sendo tratado. No caso de uma eleição (situação das mais chatas), talvez o melhor seja buscar rostos e posturas engraçados entre os presentes, mas o que acaba contando é o trabalho do repórter e do editor. Já em uma reportagem sobre natureza, o trabalho do câmera é 99% do resultado final. Em uma guerra, temos que nos preocupar muito com a segurança. Se não há possibilidade de chegar muito perto do conflito, também podemos mostrar o lado humano, o medo no rosto das pessoas e o cotidiano delas em uma situação extrema como essa.

Folha - Qual a receita de uma boa reportagem de TV?
Zero -
O movimento da câmera e a montagem não podem tirar a atenção do entrevistado, regra que muitos cinegrafistas desrespeitam. Odeio, por exemplo, as edições muito picotadas da MTV. Quando fazem isso, é porque não devem ter um bom material.

Folha - O que mais te incomoda nos telejornais brasileiros?
Zero -
Os microfones em cima de um entrevistado como o presidente da República. O espectador presta mais atenção neles do que no entrevistado. Nos EUA, a assessoria do presidente providencia um parlatório e a iluminação. Dou um prêmio para quem achar um microfone na TV de lá.


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