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NOVELAS
Escritores buscam em livros, filmes, parentes e outras novelas inspiração
para batizar mais de 40 personagens
Autores abusam de nomes estranhos
THIAGO STIVALETTI
da Reportagem Local
Uálber, Adelmo, Gylvânia, Renildo, Alceste, Gonçala, Oneide,
Higino, Idalina. Onde os autores
de novelas vão buscar nomes tão
estranhos para batizar mais de 40
personagens? Na maior parte das
vezes, em parentes e conhecidos.
"Sou um colecionador de nomes exóticos", diz Aguinaldo Silva, autor da novela das oito da
Globo, "Suave Veneno". Ele afirma que Uálber (o guru interpretado por Diogo Vilela) não foi inspirado no místico Walter Mercado,
mas em um primo seu, assim como Adelmo (Ângelo Antônio).
Maria do Carmo (Eva Todor) é
o nome da mãe de Aguinaldo, e
Alceste (Sergio Viotti), de um jornalista carioca amigo seu.
Na sinopse original, Maria Regina (Letícia Spiller) se chamaria
Maria Elizabeth. Aguinaldo resolveu trocar o nome da personagem quando soube que seu colega
Euclydes Marinho havia batizado
de Elizabeth a personagem de Viviane Pasmanter em "Andando
nas Nuvens". "O importante é
que o nome da personagem de
Letícia passasse uma idéia de realeza, e consegui manter isso."
Para Renildo (Rodrigo Faro),
Aguinaldo diz que usou um nome
muito comum em Pernambuco,
mas confessa que pensou no nome do craque Ronaldo, no qual é
inspirado o personagem. "Pensei
em todos esses garotos que sonham em ficar ricos e famosos jogando futebol."
Com Gylvânia (Samara Felippo), o autor atendeu o pedido de
uma vendedora de um shopping
em São Conrado, no Rio. "Ela
sempre me pedia para colocar o
nome dela na próxima novela."
Como os nomes são muitos,
ainda sobra espaço para referências ao cinema e à própria TV.
Carlota Valdez (Betty Faria) é o
nome da personagem de Kim Novak em "Um Corpo Que Cai", de
Alfred Hitchcock. E Waldomiro
(José Wilker) é referência a Waldomiro Pena, personagem de Hugo Carvana no primeiro trabalho
de Aguinaldo na Globo, a série
"Plantão de Polícia" (79).
Em sua primeira novela como
autor principal, Euclydes Marinho resolveu homenagear todo
mundo à sua volta em "Andando
nas Nuvens", trama das 19h.
Sua mulher, a socialite Lilibeth
Monteiro de Carvalho (ex-mulher do ex-presidente Collor) foi
homenageada com o nome das
três filhas de Otávio (Marco Nanini): seus três primeiros nomes de
batismo são Celi (Mariana Ximenes), Elizabeth (Viviane Pasmanter) e Júlia (Débora Bloch).
Thiago (Caio Blat) é o nome de
seu filho. Gonçala (Suzana Vieira)
e Oneide (Isabela Garcia) são pessoas que trabalham com Euclydes.
Segundo o autor, o nome mais
original que inventou foi Zelda
Scott para a personagem de Andréa Beltrão na série "Armação
Ilimitada". "Peguei da mulher do
escritor Scott Fitzgerald (autor de
"O Grande Gatsby')".
Gilberto Braga, autor de "Força
de um Desejo", novela das 18h,
diz que deixa a escolha dos nomes
para os colegas. "Os nomes que
acho bonitos ou coloridos se esgotaram há décadas."
Ele batizou de Agenor o personagem de Mário Lago na novela
"Louco Amor" (83) por ser o primeiro nome do roqueiro Cazuza,
filho de seus amigos João e Lucinha Araújo.
Para "Força de um Desejo",
coube ao co-autor Alcides Nogueira a pesquisa em romances
do século 18. "Higino e Idalina
eram comuns na época", diz.
Esther (Malu Mader) e Trajano
(André Barros) foram tirados do
romance "A Morte de Trajano",
do Visconde de Taunay.
Inácio (Fábio Assunção) é um
personagem de "O Moço Loiro",
de Joaquim Manoel de Macedo, e
uma referência ao personagem de
Dênis Carvalho em "Brilhante"
(81), também de Gilberto Braga.
Em "Brilhante", Gilberto criou
seu nome mais ousado: Chica
Newman, personagem de Fernanda Montenegro. "A Fernanda
me pediu para trocar, e eu bati o
pé; com um mês de novela, o nome pegou, e ela me deu razão."
O autor brincou com o assunto
em "Vale Tudo" (88). Em uma cena, a ambiciosa Maria de Fátima
(Glória Pires) dizia à vilã Odete
Roitman (Beatriz Segall) que
odiava seu nome. Odete respondia:
-Você está errada. Maria de
Fátima é nome de princesa.
-É. Dito por você é nome de
princesa, mas dito pela minha
mãe é nome de pobre.
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