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CRÍTICA
``A Indomada'' devolve a novela a seu lugar
FERNANDO DE BARROS E SILVA
especial para a Folha
"A Indomada" já nasce embalada no formato dois em um -é
transmitida às 20h30, mas tem o
sabor do ``vale a pena ver de novo''. Nunca uma novela abusou
tanto do direito de copiar, ou
``reciclar'', como querem seus
autores, novelas do passado.
Trata-se do primeiro clone da
TV brasileira. Mas não seria o caso de falar em ``empulhação'', já
que a estratégia é deliberada e reconhecida em público até pela
Globo.
A cidadezinha fictícia no interior do nordeste funcionando
como alegoria do Brasil; a rivalidade das famílias que se alternam no poder municipal; a paixão proibida entre os herdeiros
rivais; as figuras complementares da prostituta e da vilã casta ou
beata; o político canalha; a juíza
incorruptível; o forasteiro que
chega para abalar uma rotina secular; a heroína que volta do exílio para acertar as contas com o
passado -tudo, enfim, nos remete imediatamente para um
ambiente familiar e repisado.
O que acontece? Crise criativa
na Globo? Ocaso da telenovela?
Nada disso. Que o gênero está esgotado, nós todos já estamos esgotados de saber, mas seria preciso inverter a análise e dizer que
a Globo sabe o que está fazendo
quando põe no ar uma novela
que mais parece uma ruína das
novelas do passado.
As pessoas querem isso mesmo: personagens conhecidos,
emoções baratas, casos melados
de amor, risadas fáceis, enredos
óbvios e lineares, além de um
pouco de suspense ou desconforto afetivo só para preparar o
momento da reconciliação feliz
-que sempre vem no final, certa
como a morte.
Novela é hábito, como o jantar
em família que ela, a novela, contribui muitas vezes para tornar
menos insuportável, já que a rotina dos outros geralmente é
mais divertida que a nossa.
Se a arte de modo geral inviabilizou a representação realista há
mais ou menos um século, o gosto médio do público, do qual a
novela é hoje o maior termômetro, não acompanhou essa reviravolta histórica. O horizonte
das pessoas continua refém dos
estereótipos realistas.
Em ``O Rei do Gado'', essa vocação das novelas para o realismo ultrapassou a barreira da ficção e fez da própria realidade um
dramalhão com verniz político e
intenções supostamente sociais.
Senadores caíram na cilada e se
misturaram a atores profissionais fazendo os papéis de si mesmos. Foi regressivo, para ser
educado.
Agora, sem a pretensão de concorrer com o ``Jornal Nacional'',
assumindo-se como mero entretenimento de massa, o que de fato é, "A Indomada'' devolve a
novela ao seu lugar de origem,
do qual aliás ela nunca saiu.
E, de quebra, ainda há Eva Wilma, dando aula; Ary Fontoura,
excelente como sempre; Renata
Sorrah, num grande papel; e
Adriana Esteves, que já cansou
de morrer na cruz da crítica e
responde mais uma vez mostrando que é uma das melhores
atrizes da sua geração.
Jô Soares
Peço licença para registrar as
cartas que recebi a respeito do
artigo sobre o programa de Jô
Soares, publicado no dia 9 deste
mês. Além das três cartas já publicadas (duas no Painel do Leitor, dia 14, e uma na seção de cartas do TV Folha, dia 16), gostaria
de agradecer as cartas de Sonia
Meirelles, Mônica Bacellar Tomaselli, Francisco de Andrade,
Moisés Levy, Raul Moler, Claudinei de Moraes, Annamaria
Brollo e M.S.L., de Curitiba, que
assina só com as iniciais. As sete
primeiras cartas elogiam o texto;
a última protesta, diz que ``apenas o autor concorda com o que
está escrito'' e pergunta ``em que
se baseou para escrever tanta
coisa ridícula''. Como o espaço é
exíguo demais para todas as cartas, fica aqui registrado o protesto.
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