São Paulo, domingo, 23 de junho de 2002

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BARRACO NO ESPAÇO

Enterprise ficou pequena demais para Chekov e Kirk

No Brasil para uma convenção de fãs da série "Jornada nas Estrelas", Walter Koenig fala do clima tenso nas cenas com William Shatner

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

SE A BORDO da nave Enterprise, a tripulação era como uma grande família, o mesmo não acontecia entre os atores da versão original de "Jornada nas Estrelas". Em visita a São Paulo para participar de uma convenção de fãs do seriado e divulgar o lançamento do DVD do primeiro filme da série, o ator Walter Koenig (que interpreta o alferes Pavel Chekov) contou que trabalhar com o astro do programa, William Shatner (alter ego do capitão James Kirk), não foi uma experiência fácil.
"Foi muito frustrante passar por aquilo", conta. "Quando começamos a fazer os filmes, ele pedia mudanças nas cenas durante as filmagens. Se houvesse uma única tomada enfocando outro ator e Bill achasse que havia como fazer diferente, destacando-o, ele falava com o diretor e eles mudavam tudo. Ele queria destaque em todas as cenas. E isso causou muito ressentimento." O ator, entretanto, está tão chateado com o Shatner quanto consigo mesmo. "Minha raiva tem muito a ver com minha intimidação, que me impediu de levantar e dizer: "Respeite os outros atores". Nenhum de nós disse isso a ele." Koenig tinha medo de perder o emprego numa queda de braço com a estrela da série. "Ele poderia dizer que, seu eu fizesse o filme seguinte, ele estaria fora." Apesar do conflito com o colega, o ator considera positiva sua participação em "Jornada nas Estrelas". "Estar envolvido com "Jornada" tornou possível que eu me mantivesse nos últimos 35 anos", diz. "Minha imagem está nas mentes das pessoas até hoje."

Planos
Graças a "Jornada", Koenig pôde se envolver em vários projetos de ficção científica. Além de ter vivido o personagem Bester em "Babylon 5", ele agora se aventura por mares nunca antes navegados na ficção. "Estou dirigindo adaptações teatrais de dois episódios de "The Twilight Zone" ["Além da Imaginação'" em Los Angeles. Devem ser muito bem-sucedidas", afirma. "Houve um artigo de três páginas no "Los Angeles Times" sobre o projeto. Nunca teria saído algo desse tamanho se fosse outro dirigindo. Então, mesmo de maneira tangencial, tudo volta a "Jornada'".

Derrubando o mito
Diz a lenda que o criador de "Jornada", Gene Roddenberry, decidiu incluir o personagem Chekov na série depois de saber que o jornal soviético "Pravda" acusava a série de parcialidade por não haver nenhum russo na tripulação, embora os russos tenham sido os pioneiros da exploração espacial.
Koenig, porém, conta uma história bem diferente. "Na verdade, eles queriam alguém que atraísse as fãs da mesma maneira que Dave Jones, dos Monkees, atraía", diz. "Chekov era um ursinho de pelúcia. Ele dizia "Oh, não é desse jeito que se faz na Rússia", mas ninguém o levava a sério."
Koenig, 66, diz que aceitaria voltar a "Jornada" numa participação especial em "Enterprise", a nova série da franquia. "Faria pela diversão da coisa, mas não é um de meus objetivos."
"Não penso em "Jornada nas Estrelas" como sendo uma parte importante do meu futuro. Sinto que posso crescer como artista e como ser humano encontrando novas aventuras. É o princípio de "Jornada" afinal, não? Ainda estou tentando audaciosamente ir onde jamais estive. E já estive em "Jornada"."



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