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TV NO MUNDO
Caso Lewinsky funde realidade e ficção na TV
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
Sempre foi difícil avaliar
mudanças no calor da conjuntura em que elas se
anunciam. No mundo da
comunicação eletrônica,
fica mais difícil ainda delinear o que é fato inquestionável e o que é mero sensacionalismo e especulação
sem maiores consequências.
No caso Mônica Lewinsky, o descompasso
entre o crescimento econômico, os índices de
aprovação da opinião pública ao presidente, os rumos das investigações do
promotor Kenneth Starr e
a cobertura televisiva reforçam a dificuldade em se
distinguir o que é fato do
que é ficção.
Há sete meses o envolvimento do presidente americano com a ex-estagiária
da Casa Branca é pauta recorrente de programas televisivos os mais variados.
Por mais que o público
americano tenha, de maneira surpreendente e consistente, manifestado seu
desagrado com as proporções assumidas tanto pelas
investigações, quanto pela
cobertura da mídia, não
foi capaz de deter o promotor, que continuou a
alimentar os veículos de
comunicação e o discurso
oportunista da oposição
republicana com informações novas sobre o caso.
Ainda que muitas vezes
para afirmar constrangimento com a irrelevância
do assunto, os inúmeros
talk-shows noturnos, do
alternativo "Politically Incorrect" ao clássico David
Letterman, mantiveram o
debate aceso. Inúmeros
jornalistas de órgãos menores como o liberal "The
Nation" foram a esses
talk-shows levar sua noção
iluminista da separação
entre os domínios do público e do privado.
O excesso de apelo ficcional do evento, no entanto, não lhe retira no entanto a efetividade. Na segunda-feira, o presidente
Bill Clinton fez sua confissão de frente. Seu olhar dirigido diretamente aos espectadores, contrasta com
a postura enviezada com
que evitou olhar para as
câmeras em seu enfático
desmentido de janeiro.
A enxurrada de informação e fofoca não se reduz a
mero acontecimento virtual. O FBI, que já se dedicou a causas secretas de relevância estratégica e planetária, agora empenha
seu saber técnico na investigação do sêmen do presidente. A instituição da presidência foi enfraquecida
com a perda de privilégios
como o que garantia a privacidade dos advogados
do presidente, o direito de
obstrução de alguns inquéritos e o direito do sigilo dos funcionários do serviço secreto.
De certo modo o caso
Mônica Lewinsky está para
os EUA assim como a queda do muro de Berlim está
para o mundo soviético.
De certo modo porque essa visão não encontra correspondência na economia.
Carcomido por dentro, o
império socialista desmoronou por ineficiência
econômica, excesso de burocracia e corrupção. Mas
a economia americana vai
muito bem e a sociedade
de consumo daquele país é
acessível a um número cada vez maior de pessoas. O
que está em questão aqui é
o significado dos fatos
simbólicos, a capacidade
que a representação televisiva possivelmente tenha
de mudar o rumo das estruturas em direções inesperadas.
E-mail: ehamb@uol.com.br
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