São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 1999

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Programas infantis apresentados por loiras perdem o primeiro posto na audiência do público de crianças para a novela "Chiquititas", que será protagonizada, em sua nova fase, por uma garota negra
Beijinho, beijinho, tchau, tchau

Folha Imagem
Aretha Oliveira, a Pata de 'Chiquititas', novela que conquistou em 98 o primeiro lugar na audiência entre crianças de 2 a 9 anos em SP


RUI DANTAS
da Reportagem Local

Foi-se o tempo em que os programas infantis apresentados por loiras ocupavam o primeiro posto na audiência entre crianças de 2 a 9 anos na Grande SP.
Levantamento feito pela Folha junto ao Ibope mostra que, desde 95, a audiência desse tipo de programa em seu público-alvo (as crianças) vem caindo.
Se em 1995 os programas de Xuxa, Angélica e Eliana, somados, atingiam pouco mais de 500 mil crianças, de um total de cerca de 2,5 milhões na Grande São Paulo, esse número, em 98, despencou para cerca de 430 mil.
Os dados foram fornecidos pelo Ibope. Como comparação, foram analisadas as audiências dos meses de outubro de cada ano (1995, 96, 97 e 98), já que o instituto não dispunha de dados completos de anos passados.
A escolha desse mês se deve à constatação, pelo Ibope, de que outubro é o "mês-referência", pois é a época do ano com menor influência externa -não há férias, nem eventos que modifiquem o perfil do público, como Copa do Mundo. O período, assim, reflete a audiência média do ano inteiro.
Em 1995, o programa líder entre crianças era "Xuxa Park" (Globo), visto por 275 mil pessoas ou 11% do total do público infantil (veja quadro abaixo). Em 1996, os programas de Angélica ocuparam a primeira posição, atingindo 217 mil crianças ou 8% do total desse público.
Já em 97, veio a derrocada. "Disney Club" (SBT) passou a ocupar a primeira posição do ranking de programas mais vistos entre as crianças (210 mil).
No ano passado, a liderança passou a ser da novela infantil "Chiquititas" (SBT), que obteve sozinha uma audiência média diária de 375 mil crianças -16% do total.
A próxima temporada da novela será inicialmente protagonizada pela atriz negra Aretha Oliveira, 14, a personagem Pata.
"Quando chegamos à Argentina, pensamos que sofreríamos preconceito. Não aconteceu. O preconceito racial acontece muito mais no Brasil", afirma Fátima Oliveira, 43, mãe da atriz.
Aretha conta que recebe uma média semanal de 200 cartas, o que denota a boa aceitação que seu personagem tem junto ao público.
"Eles me elogiam, perguntam o que eu faço para deixar o meu cabelo mais bonito (ela faz relaxamento). E, principalmente, que a Pata dá direito às crianças morenas e negras de brincar de interpretar alguém da TV que é parecida com elas", diz Aretha.
Seu sucesso levou a Telefe (produtora da novela) a lhe conceder algumas regalias. Aretha mudou com a família para o elegante bairro de San Isidro, em Buenos Aires, tem escola particular, dois empregados e até o transporte escolar pago pela emissora.

"Disney Club"
Líder em 97, vice-líder em 98, "Disney Club" foi concebido por idealizadores do "Castelo Rá-Tim-Bum" (Cultura).
"O "Disney Club' existe em cerca de 30 países, mas o modo como está sendo exibido no Brasil é único e é um dos mais bem-sucedidos do mundo", conta Renato Fernandes, 34, diretor do programa.

Loiras
Ciente do fenômeno, Angélica afirma que seu programa está se atualizando e retificando os erros cometidos no passado. A principal modificação, até agora, foi a estréia de "Teletubbies". A próxima será a estréia de "A Turma da Mônica".
"Estamos mudando, mas não acho que a cor do cabelo é o que influencia. O que define a audiência é o formato do programa e o carisma do apresentador", afirma a apresentadora.
Cao Hamburger, 36, consultor do programa de Angélica, não acredita que a fórmula de programas infantis apresentados por loiras esteja desgastada.
"As crianças crescem, e, assim, o público se renova muito rapidamente. A criança não se dá conta de que essa fórmula existe há tantos anos como nós, adultos", analisa.
Hamburger, no entanto, explica que o programa de Angélica e toda a programação infantil da Globo está sendo repensada.
Eliana Michaelichen, da Record, não crê que a queda de audiência das loiras seja um fenômeno. "Prefiro definir esses casos isolados de sucesso no mundo da TV como fases, como já tivemos "Bozo', "Carrossel' e outros", define.
Procurada pela Folha, por meio de sua assessoria, a apresentadora Xuxa não foi localizada.



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