São Paulo, domingo, 24 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O 'Titanic' da Globo

Rosane Beklerman/Folha Imagem
Tony Ramos, que emagreceu 8 kg pra viver o personagem José Clementino em "Torre de Babel"



"Torre de Babel" é a produção mais cara da Globo em todos os tempos e aposta em efeitos especiais importados para retratar tragédia em shopping


RUI DANTAS
enviado especial ao Rio

O maior elenco da história da teledramaturgia, os maiores cenários e a produção mais cara de todos os tempos.
Tudo isso faz "Torre de Babel", que estréia amanhã às 20h40, estar destinada a um só fim: ou resgata a audiência que as novelas das oito na Globo davam há alguns anos, ou se torna um grande fiasco.
"É a primeira novela catástrofe da TV brasileira. Só espero que não seja uma catástrofe de novela", diz o autor, Silvio de Abreu.
O principal acontecimento da história será a explosão do shopping center Tropical Towers, conhecido por Torre de Babel, inserido virtualmente na avenida Brasil (zona sudoeste de São Paulo).
O orçamento da novela é inchado. O custo total dos 180 capítulos previstos é de US$ 17 milhões, segundo a direção de produção.
Cada capítulo, então, consome cerca de US$ 95 mil, valor 20% acima do custo dos episódios de "Por Amor", e cinco vezes e meia mais caro que um capítulo de "Fascinação", do SBT.
Mas esse valor serve apenas como prévia. O shopping cenográfico, por exemplo, teve o orçamento extrapolado em US$ 400 mil somente porque o local exigia escadas rolantes e elevadores panorâmicos.

Audiência

Segundo Carlos Manga, um dos responsáveis pela programação de ficção da Globo, a meta de audiência não leva mais em conta os pontos no Ibope. Cada ponto equivale a 80 mil espectadores na Grande SP.
Manga, 70, explica que o importante agora é o índice de "share", isto é, o número de aparelhos sintonizados na emissora em relação aos televisores ligados.
"Por Amor", por exemplo, que se manteve "fora dos trilhos", ou seja, não atingiu a média mínima de 45 pontos no Ibope, obteve média de share considerada satisfatória.
"Essa meta foi composta melhor. Nossa meta é no mínimo 60% de share", afirma Manga.
O elenco de "Torre de Babel" é estelar, considerando os "astros" da Globo. Na trama central, todos já protagonizaram uma novela das oito da Globo, de Tarcísio Meira a Adriana Esteves.
Ninguém admitiu, no entanto, que tenha sido intimado a participar da novela, em virtude da perda de audiência que a emissora enfrenta no horário.
Mas é visível que a emissora se preocupa com isso.
Quando perdeu audiência para "Pantanal", da Manchete, em 1990, a Globo também anunciou a produção de uma novela "com o maior elenco de todos os tempos".
A trama foi "Rainha da Sucata", com Tony Ramos, Glória Menezes, Cláudia Raia. O autor, Silvio de Abreu.
A diferença de "Torre de Babel" é que a maioria dos personagens centrais é retratado de modo diferente do que sempre foi.
Tony Ramos, que sempre interpretou "mocinhos", viverá o vilão José Clementino da Silva.
"Emagreci 8 kg para viver o personagem. Combinei uma dieta sem carboidratos receitada por um médico com exercícios na esteira", explica o ator.
Já Glória Menezes, o paradigma da heroína, vai se descobrir lésbica e, o mais surpreendente, vai se separar de Tarcísio Meira.
Cláudia Raia, por exemplo, que sempre interpretou personagens que resvalavam para o humor, viverá uma executiva séria.
"Ela é masculinizada, sem ser homossexual. Ela é chiquérrima, do tipo que só usa Calvin Klein e ternos Armani", afirma.
A atriz diz que se inspirou em Marluce Dias da Silva, a grande executiva da Globo, para caracterizar Ângela Vidal, sua personagem. "A diferença é que Marluce é meiga."
Carlos Manga diz que mudou os perfis dos atores para quebrar estigmas. "Quero contrariar as regras. É por isso que a Maitê (Proença) vive uma mulher despida de beleza."
A diretora da novela, Denise Saraceni, 43, considera que essa pode ser uma nova tendência na Globo, isto é, mudar os conceitos.
"Isso passa pelo pensamento de quem faz a política da casa. Essa novela foi encomendada para ser diferente do que está no ar."

Microcosmo

A escolha do shopping center para ser o principal cenário da trama passa a idéia de microcosmo, segundo o autor.
"Eu escrevo sobre São Paulo. E os shopping são o símbolo de uma cidade como ela, com pobres, pessoas de classe média e milionários", afirma.
Abreu se inspirou na história do Unabomber (Theodore Kaczynski, terrorista que cometeu atentados a bomba nos EUA, entre 1978 e 1995).
O shopping cenográfico construído para "Torre de Babel" será transformado em um centro cultural, após o término da novela.
Parte de seu cenário será usado para a produção de outros programas.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.