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ENTREVISTA
Ator cansou do "Arquivo X"
David Duchovny
MILLY LACOMBE
FREE LANCE PARA A FOLHA EM LOS ANGELES
O ator David Duchovny está se despedindo
do agente Fox Mulder, de "Arquivo X", depois de oito anos. Aos 40, esse nova-iorquino filho de pai judeu e mãe escocesa quer
iniciar uma nova fase em sua carreira com o
filme "Evolução", uma comédia que chega
ao Brasil em 13 de julho. Nela, interpreta um
professor universitário que se vê às voltas
com... seres extraterrestres. Num hotel de
Los Angeles, o ex-sr.X disse à reportagem do
TV Folha que o nascimento da filha foi fundamental para a decisão de sair da série.
Não teremos Mulder na nona temporada de "Arquivo X"?
Não. E dessa vez, nem em participações
especiais. Em minha última cena como
Mulder, estou, finalmente, dando o tão
aguardado beijo em Scully. Pelo menos
saí em grande estilo, não?
Mas o que vai acontecer com Mulder se
essa foi sua última cena?
Boa pergunta. Estou tão curioso quanto você. Gravei essa cena, peguei minhas coisas, esvaziei meu camarim e fui embora. Não sei como eles [os produtores] vão
explicar meu desaparecimento.
Você saiu assim, sem abraços, sem festa
de despedida?
Mais ou menos. Quando o diretor gritou "corta!", comecei a arrumar minhas coisas para ir embora, mas as filmagens
continuaram. O trabalho, para eles, não
podia parar.
O que você sentiu?
Fiquei triste, claro. Quando estávamos
filmando o tão esperado beijo, eu não
queria que a cena terminasse.
Vai sentir falta de Gillian Anderson?
Eu e Gillian sempre fomos bons colegas
de trabalho, mas nunca grandes amigos.
Não nos visitamos nos fins de semana,
não vamos jantar juntos regularmente,
nada disso. Mas não me entenda mal,
gosto muito dela.
E o futuro, já está planejado?
Quero escrever, dirigir e atuar em um
filme só meu, mas, para isso, preciso de
um tempo, preciso trabalhar em outros
filmes, esquecer Mulder.
Vai ser fácil deixar Mulder para trás?
Interpretar Mulder é como um jogo;
quando você esta ganhando, não quer
sair. Você sabe que é hora de colocar um
ponto final, mas continua inventando
desculpas. Finalmente, tive maturidade
para conseguir tomar uma atitude. Infelizmente, quanto mais tempo associado a
um personagem, mais difícil é se livrar
dele. Preciso me desligar de Mulder.
Você decidiu que era hora de sair quando sua filha nasceu, em 99?
Depois de seis anos fazendo a mesma
coisa, você acaba ficando cansado. No
fim, fazia só por dinheiro, sem criatividade, isso não é bom. Quando minha filha
nasceu, tempo passou a valer mais que
dinheiro e decidi sair. Mas os produtores
pediram para que fosse uma saída gradual e acabei tendo que fazer meia dúzia
de episódios na oitava temporada.
Como sua vida mudou desde que sua filha nasceu?
No começo da existência de uma criança, o homem tem participação limitada.
Ficava por perto, trocava fraldas, mas o
resto era peito, peito, peito. Hoje ela já
tem dois anos e tenho participação mais
ativa. Ter um filho é como estar apaixonado pela primeira vez, uma sensação de
alegria incontida. Quero ir para casa só
para brincar com ela, para vê-la sorrir
para mim.
O que Mulder fez por você?
Ele foi um dos grandes eventos de minha vida, foi um marco em minha carreira. O problema é que Mulder está comigo diariamente há oito anos e eu já
não sei mais dar a ele seu devido valor.
Às vezes, me pego pensando o que teria
acontecido comigo se não fosse por ele.
Talvez tivesse acabado como professor
de literatura em alguma cidadezinha no
interior do país. Opção que, por sinal,
me atrai até hoje.
Você gosta de assistir televisão?
A primeira coisa que faço quando chego em casa é ligar a TV, às vezes só pelo
barulho. Adoro ver reprises de seriados
e filmes. Todos os domingos [dia em
que "Arquivo X" vai ao ar nos Estados
Unidos] eu e Téa [Leoni, esposa de Duchovny e atriz que atuou em filmes como "Um Homem de Família" e "Impacto Profundo"" sentamos na frente da TV
com sorvete e assistimos ao seriado.
Gosto de ver não só os episódios novos,
mas também os antigos. Adoro sacar como eu trabalhava mal, como era duro e
inexperiente no começo da série. O que
"Arquivo X" me deu de mais importante
foi a chance de atuar todos os dias por
oito anos. Dinheiro e fama são secundários, porque a oportunidade de me aperfeiçoar como ator em doses diárias é impagável.
Você vai continuar a assistir ao
programa?
Claro. Desconectei-me como ator,
mas continuarei a
ser fã, sempre.
Existe vida fora daqui?
Seria muita pretensão se achasse
que estamos sós
nessa imensidão.
Imagino que o FBI
tenha provas da
existência de vida
lá fora. Não sei se
já fomos contactados ou se já fizemos algum tipo de conexão, mas imagino que
o FBI saiba de coisas que ainda não podem ser divulgadas.
Então é "nunca mais" para Mulder?
Olha, já que você insiste, vou dizer o
seguinte: se me derem um tempo para
que eu sinta falta dele, um tempo para
que tire Mulder de minhas entranhas,
posso até considerar uma volta. Não
posso dizer que não serei mais Mulder.
ARQUIVO X - Record, sexta, 23h30, e Fox,
quarta, 21h
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