São Paulo, domingo, 24 de junho de 2001

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ENTREVISTA

Ator cansou do "Arquivo X"

David Duchovny

MILLY LACOMBE
FREE LANCE PARA A FOLHA EM LOS ANGELES

O ator David Duchovny está se despedindo do agente Fox Mulder, de "Arquivo X", depois de oito anos. Aos 40, esse nova-iorquino filho de pai judeu e mãe escocesa quer iniciar uma nova fase em sua carreira com o filme "Evolução", uma comédia que chega ao Brasil em 13 de julho. Nela, interpreta um professor universitário que se vê às voltas com... seres extraterrestres. Num hotel de Los Angeles, o ex-sr.X disse à reportagem do TV Folha que o nascimento da filha foi fundamental para a decisão de sair da série.

Não teremos Mulder na nona temporada de "Arquivo X"?
Não. E dessa vez, nem em participações especiais. Em minha última cena como Mulder, estou, finalmente, dando o tão aguardado beijo em Scully. Pelo menos saí em grande estilo, não?
Mas o que vai acontecer com Mulder se essa foi sua última cena?
Boa pergunta. Estou tão curioso quanto você. Gravei essa cena, peguei minhas coisas, esvaziei meu camarim e fui embora. Não sei como eles [os produtores] vão explicar meu desaparecimento.
Você saiu assim, sem abraços, sem festa de despedida?
Mais ou menos. Quando o diretor gritou "corta!", comecei a arrumar minhas coisas para ir embora, mas as filmagens continuaram. O trabalho, para eles, não podia parar.
O que você sentiu?
Fiquei triste, claro. Quando estávamos filmando o tão esperado beijo, eu não queria que a cena terminasse.
Vai sentir falta de Gillian Anderson?
Eu e Gillian sempre fomos bons colegas de trabalho, mas nunca grandes amigos. Não nos visitamos nos fins de semana, não vamos jantar juntos regularmente, nada disso. Mas não me entenda mal, gosto muito dela.
E o futuro, já está planejado?
Quero escrever, dirigir e atuar em um filme só meu, mas, para isso, preciso de um tempo, preciso trabalhar em outros filmes, esquecer Mulder.
Vai ser fácil deixar Mulder para trás?
Interpretar Mulder é como um jogo; quando você esta ganhando, não quer sair. Você sabe que é hora de colocar um ponto final, mas continua inventando desculpas. Finalmente, tive maturidade para conseguir tomar uma atitude. Infelizmente, quanto mais tempo associado a um personagem, mais difícil é se livrar dele. Preciso me desligar de Mulder.
Você decidiu que era hora de sair quando sua filha nasceu, em 99?
Depois de seis anos fazendo a mesma coisa, você acaba ficando cansado. No fim, fazia só por dinheiro, sem criatividade, isso não é bom. Quando minha filha nasceu, tempo passou a valer mais que dinheiro e decidi sair. Mas os produtores pediram para que fosse uma saída gradual e acabei tendo que fazer meia dúzia de episódios na oitava temporada.
Como sua vida mudou desde que sua filha nasceu?
No começo da existência de uma criança, o homem tem participação limitada. Ficava por perto, trocava fraldas, mas o resto era peito, peito, peito. Hoje ela já tem dois anos e tenho participação mais ativa. Ter um filho é como estar apaixonado pela primeira vez, uma sensação de alegria incontida. Quero ir para casa só para brincar com ela, para vê-la sorrir para mim.
O que Mulder fez por você?
Ele foi um dos grandes eventos de minha vida, foi um marco em minha carreira. O problema é que Mulder está comigo diariamente há oito anos e eu já não sei mais dar a ele seu devido valor. Às vezes, me pego pensando o que teria acontecido comigo se não fosse por ele. Talvez tivesse acabado como professor de literatura em alguma cidadezinha no interior do país. Opção que, por sinal, me atrai até hoje.
Você gosta de assistir televisão?
A primeira coisa que faço quando chego em casa é ligar a TV, às vezes só pelo barulho. Adoro ver reprises de seriados e filmes. Todos os domingos [dia em que "Arquivo X" vai ao ar nos Estados Unidos] eu e Téa [Leoni, esposa de Duchovny e atriz que atuou em filmes como "Um Homem de Família" e "Impacto Profundo"" sentamos na frente da TV com sorvete e assistimos ao seriado. Gosto de ver não só os episódios novos, mas também os antigos. Adoro sacar como eu trabalhava mal, como era duro e inexperiente no começo da série. O que "Arquivo X" me deu de mais importante foi a chance de atuar todos os dias por oito anos. Dinheiro e fama são secundários, porque a oportunidade de me aperfeiçoar como ator em doses diárias é impagável.
Você vai continuar a assistir ao programa?
Claro. Desconectei-me como ator, mas continuarei a ser fã, sempre.
Existe vida fora daqui?
Seria muita pretensão se achasse que estamos sós nessa imensidão. Imagino que o FBI tenha provas da existência de vida lá fora. Não sei se já fomos contactados ou se já fizemos algum tipo de conexão, mas imagino que o FBI saiba de coisas que ainda não podem ser divulgadas.
Então é "nunca mais" para Mulder?
Olha, já que você insiste, vou dizer o seguinte: se me derem um tempo para que eu sinta falta dele, um tempo para que tire Mulder de minhas entranhas, posso até considerar uma volta. Não posso dizer que não serei mais Mulder.


ARQUIVO X - Record, sexta, 23h30, e Fox, quarta, 21h



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