São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 1998.



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MISTICISMO
Novelas "adotam' cartomantes


Personagens de "Anjo Mau" e"Por Amor" procuram esotéricos para solucionar problemas


da Reportagem Local

As cartomantes estão cada vez mais requisitadas na teledramaturgia. Na última semana, a personagem Clô, vivida pela atriz Beatriz Segall em "Anjo Mau", procurou Alzira (Regina Dourado) para saber o que o destino lhe reservava no campo afetivo.
Em "Por Amor", Branca (Suzana Vieira) e Eduarda (Gabriela Duarte) se consultaram recentemente com a madame Zorayde (Lady Francisco) para descobrir o que estava errado nos relacionamentos e nos negócios da família Barros Mota.
Nas duas tramas, os autores demostram uma preocupação em retratar a espiritualidade do brasileiro. "Eu me sinto muito à vontade com o assunto porque me consulto periodicamente. No Brasil, quem diz não gostar da coisa é hipócrita", diz Maria Adelaide Amaral, autora de "Anjo Mau".
Apesar de não se identificar com cartomancia, tarô, quiromancia e outros métodos de adivinhação, Manoel Carlos, 64, autor de "Por Amor", destaca a importância do misticismo no cotidiano das pessoas.
"Principalmente no Rio de Janeiro, onde se passa a novela, o que mais se vê são cartomantes nas ruas, anúncios de leitura de tarô nas portas e oferendas aos orixás na praia", diz o autor, que criou personagens cartomantes em duas de suas novelas anteriores: "História de Amor" e "Felicidade".
Para os especialistas na área, existem alguns exageros nas interpretações dos atores e outras explicações para a inclusão desses elementos espirituais na ficção.
Noédi Castanho, 45, que se dedica à leitura do tarô há 24 anos, considera um pouco "afetada" a atuação de Lady Francisco como madame Zorayde -seu próximo cliente na trama das oito será o empresário Arnaldo (Carlos Eduardo Dolabella).
"Apesar de interpretar as cartas corretamente na leitura, ela carrega nas expressões na hora de se concentrar. Isso é um recurso usado apenas pelos charlatões", observa.
Outro aspecto que incomoda a taróloga é a insistência dos autores em representar as cartomantes como pessoas da classe mais baixa. "Em "Por Amor', por exemplo, a personagem Branca chamou a casa da cartomante de espelunca. O autor se esquece que já existem bruxos muito bem-sucedidos financeiramente."
Na opinião da vidente Cléa Rodrigues Lima, que atua há mais de 20 anos, os elementos espirituais devem ser utilizados cada vez mais na teledramaturgia com a aproximação do terceiro milênio.
"As pessoas estão passando por um período de desencontro total. Assim como o indivíduo procura um médico e um dentista, ele vai precisar buscar regularmente ajuda espiritual."
O astrólogo e esotérico Mauro Augusto Correa, 41, diz que o atual movimento do Sol é o responsável por esse período de "renovação e transformação".
"O Sol está caminhando para entrar em Aquário, o signo que representa o abstrato e o intuitivo. Isso facilita o florescimento de novas técnicas de autoconhecimento e promove o misticismo", conta. "É natural que seja refletido na ficção." (ELAINE GUERINI)



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