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CRUZ-CREDO
Líderes evangélicos e católicos carismáticos condenam o misticismo que permeia as atuais tramas da emissora, "Estrela-Guia", "Um Anjo Caiu do Céu" e "Porto dos Milagres"
Grupos religiosos "excomungam" as novelas da Globo
Beto Barata/Folha Imagem
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Para o frei Marcos Pereira da Silva, ligado à Renovação Carismática, "o católico praticante não deve ver as novelas"
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BRUNO GARCEZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O MISTICISMO que permeia as
atuais tramas de novela da Globo está desagradando a diferentes correntes
religiosas, dos evangélicos aos católicos
carismáticos. Na última semana, os bispos líderes da Igreja Metodista do Brasil,
que possui cerca de 270 mil membros,
divulgaram um manifesto recomendando a seus fiéis não ver as novelas globais.
Segundo o texto, as atuais novelas das
das 20h, "Porto dos Milagres", e das 18h,
"Estrela-Guia", mostram práticas que
"não combinam com a formação cristã
do povo brasileiro... Uma das novelas
exalta o candomblé e o culto a Iemanjá.
Outra promove o esoterismo." De acordo com o documento, como as novelas
contam com atores de grande popularidade, elas "acabam influenciando milhares de pessoas, particularmente os fãs
adolescentes, a aceitarem uma espiritualidade mágica...". Na conclusão, o texto
pede que as demais igrejas "cerrem fileiras no combate à programação de TV".
Diferentes expressões místicas servem
de mote às atuais tramas globais. Em
"Estrela-Guia", Sandy é Cristal, jovem
que vive em comunidade hippie que cultua a natureza e segue ritos de purificação. Na novela das 19h, "Um Anjo Caiu
do Céu", Tarcísio Meira vive um fotógrafo que sofre um atentado e é salvo pelo
anjo Rafael (Caio Blat), que lhe dá mais
seis meses de vida, desde que ele dê jeito
em sua confusa vida familiar. A trama
das 20h, "Porto dos Milagres", é protagonizada pelo pescador Guma (Marcos
Palmeira), que é adepto do candomblé e
fiel seguidor de Iemanjá.
As três novelas são desrecomendadas
aos católicos por Reinaldo Beserra dos
Reis, presidente do Conselho Nacional
da Renovação Carismática, movimento
católico conservador que prioriza a espiritualidade à ação social. "Um Anjo Caiu
do Céu", a novela menos visada pelos religiosos, não é poupada por ele.
"Ela mostra uma atividade angelical
que é uma caricatura. Não condiz com
nossa doutrina. Não estamos em campanha, mas boicotamos as novelas que ferem a nossa fé." Outros carismáticos seguem essa visão. É o caso do frei Marcos
Pereira da Silva, titular da paróquia Santo Antonio, em Cidade Ocidental (GO),
que recomendou aos seus cerca de 25 mil
fiéis a não assistir às novelas globais.
Outro religioso, metodista, o pastor
Ronan Boechat de Amorim, que comanda a Igreja Metodista de Vila Isabel (zona norte do Rio), que tem cerca de mil fiéis,
julga que o problema das atuais novelas é
que, "quando certos ritos são especificados via TV, você fere outros grupos religiosos. Estão vendendo valores que não
são os da maioria da população", diz. O
pastor Paulo Lockman, presidente nacional da Igreja Metodista e um dos signatários do documento feito por bispos
dessa denominação, chega a propor um
dia em que os brasileiros desliguem seus
televisores. No entender dele, "a Globo
está fazendo propaganda religiosa em
um Estado laico".
"Discordo dos bispos metodistas. Usamos o candomblé como elemento dramático, não como propaganda religiosa.
A novela se baseia em dois livros de Jorge
Amado ("A Descoberta da América pelos
Turcos" e "Mar Morto'), nos quais o candomblé tem papel de destaque. Aliás, eu
sou católico", diz Aguinaldo Silva, um
dos autores de "Porto dos Milagres".
O co-autor da trama, Ricardo Linhares,
diz que muito da religiosidade da novela
é de tom farsesco. "Não defendemos nada. A novela traz situações absurdas que
abordamos em tom cômico. Tomamos
licenças poéticas com o culto de candomblé. Não o seguimos ao pé da letra."
A autora de "Estrela-Guia", Ana Maria
Moretzsohn, possui argumento semelhante. Segundo ela, a comunidade de
Cristal segue conceitos presentes em todas as religiões. A autora conta que em
breve a trama terá um personagem evangélico altamente positivo. "Fora isso, não
digo que viver em comunidade é melhor.
Não faço apologia de nada. Sou cética,
não esotérica."
Se a autora é cética, os evangélicos afirmam que a novela não é. "É absolutamente esotérica", diz o pastor Eli Fernandes, da Igreja Batista Liberdade, de
São Paulo. Para ele, a Globo tem a intenção de "forjar uma propaganda". A
emissora nega veementemente tal intenção (leia texto ao lado). O pastor Fernandes não recomenda a seus fiéis deixar de
ver as novelas, mas aconselha-os a terem
senso crítico. O pastor presbiteriano José
Antonio Pereira, da Igreja Presbiteriana
Independente de Londrina, é mais enfático. "Não recomendo vê-las. Usam uma
pessoa querida por todos, como Sandy,
para vender um produto, uma idéia."
Polêmicas à parte, as tramas globais
têm alcançado um índice de audiência
expressivo. Na última segunda, no capítulo de "Porto dos Milagres" que exibiu
uma disputa entre beatas e adeptos do
candomblé, a novela atingiu 46 pontos
de média no Ibope (cada ponto equivale
a cerca de 80 mil telespectadores na
Grande São Paulo) e 50 de pico.
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