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GENTE COMO A GENTE
Religiosos de "A Indomada", "Xica da Silva" e "O Amor Está no Ar" mostram imperfeições
Novelas retratam padres 'humanos'
CRISTIANA COUTO
da Reportagem Local
"Sou um homem como outro
qualquer". A fala do rabino Davi, que vai ao ar no capítulo desta
quinta de "O Amor Está no Ar"
(Globo, 18h), sintetiza uma tendência da teledramaturgia atual:
criar figuras religiosas mais humanas.
Na novela das oito da Globo,
"A Indomada", padre José é um
religioso que bebe, vai ao cassino, dorme no confessionário e se
irrita com as beatas da cidade. O
rabino Davi é atraente, jovem e
questionador. Padre Eurico, em
"Xica da Silva" (Manchete,
22h), está dividido entre a batina
e o amor de uma mulher.
"Queria fazer um padre 'gente', diz Aguinaldo Silva, o autor
de "A Indomada". Silva, que já
criou um padre progressista em
"Roque Santeiro" (85) e outro
negro em "Pedra sobre Pedra"
(92), diz que a Igreja é representada como entidade, nunca como pessoa. "José dá amparo e
proteção aos humanos e ofendidos, é um padre do bem."
Na novela, José (Pedro Paulo
Rangel) defendeu o amor entre
Mirandinha (Betty Faria) e Egídio (Licurgo Spinola), considerado escandaloso pela diferença
de idade. Ainda vai realizar o segundo casamento de uma prostituta, Dinorah (Carla Marins).
"Ele tem uma relação de amor
e acolhimento, sem preconceito", avalia o padre Júlio Lancelotti, que cuida de crianças com
Aids. Lancelotti diz que nem a
cachaça destrói a imagem de
amor do padre, mas considera
besteirol e prosaico "tirar as calças e não dormir na cama".
No capítulo que vai ao ar na
terça, José ameaça mostrar o
"bundão" às beatas se elas insistirem em transfornar um velório em "show hollywoodiano".
"Comparado às maldades de Altiva (Eva Wilma), ameaçar mostrar o bundão e tomar um drink
não é nada", comenta Rangel.
Inspirado em rabinos judeus liberais, como o paulistano Henry
Soebel e surfista Nilton Bonder
(RJ), Davi (Caco Ciocler) tem até
cabelos compridos, presos por
baixo do kipá (pequeno chapéu
que simboliza humildade). Davi
viverá sua dúvida "humana":
casar-se com a mulher que lhe foi
prometida desde criança ou seguir seu coração. "Queria mostrá-lo com dilemas de paixão e
sexualidade", diz o autor Alcides Nogueira, que faz uma homenagem à religião judaica.
O ator Caco Ciocler, que é judeu, diz receber reclamações.
"Na comunidade judaica, as
pessoas comentam que um rabino jovem gera desconfiança".
Menos contemporâneo, mas
tão humano quanto Davi e José,
Eurico (Alexandre Lippiani) é,
para o diretor Walter Avancini,
"um padre em luta interna para
confirmar sua vocação". Progressista para a época (a novela
se passa em 1750), Eurico já se
divide entre largar a batina ou ficar com Eugênia (Andrea Avancini). "As pessoas se identificam, pois o amor por Eugênia o
tornou bom", acredita Lippiani.
Monsenhor Arnaldo Beltrami,
vigário episcopal da Arquidiocese de São Paulo, considera alienação não ver o lado negativo
dos religiosos. "É importante
mostrar o lado humano, com
perfeições e imperfeições".
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