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ENTREVISTA/ ROGÉRIO BRANDÃO
"TV a cabo está ficando igual à aberta"
A operadora de TV paga via satélite DirecTV
vai aumentar de 18 para 24 horas diárias a
programação do canal 605, de conteúdo elaborado no Brasil. O gerente de programação,
Rogério Brandão, 47, ex-Cultura, Band e
Globo, diz que o cardápio das operadoras a
cabo (leia-se Net e TVA) está ficando parecidíssimo com o da TV aberta - muitos, e cada vez mais longos, intervalos comerciais.
Ele aposta na diversidade de seus 150 canais.
MARCELO MIGLIACCIO
DA REDAÇÃO
Qual é a posição da DirecTV no mercado
de TV paga hoje?
Temos 500 mil assinantes no Brasil, dados oficiais de dezembro de 2000, e cerca
de 1,3 milhão na América Latina. Nos Estados Unidos, onde a empresa começou,
em 1994, são 8,7 milhões.
O maior pacote de assinatura tem 150
canais, e o canal 605 conta com uma programação elaborada no Brasil. O que vai
mudar nele?
Procuramos colocar neste canal tudo o
que há de interessante em termos culturais para nosso público, que, por enquanto, se concentra na chamada classe
A+. Hoje, o 605 fica 18 horas no ar, com
uma média de um evento principal por
semana e pré-programas dos eventos
que virão. A idéia é buscar parcerias para
que esse canal fique 24 horas no ar.
Que tipo de eventos o canal transmite?
Coisas que não têm espaço na TV aberta e que, do jeito que as coisas estão caminhando, nem na TV paga via cabo. Costumo dizer que somos um portal televisivo, em que o telespectador não deve ficar
trocando de canal freneticamente. O
processo ideal é de navegação, com seleção prévia de programas. É o mundo novo que eu esperei durante toda a minha
vida profissional.
E os eventos?
Transmitimos o São Paulo Fashion
Week, as produções mais elogiadas do
Festival Mundial do Minuto e da Mostra
Internacional de Cinema de São Paulo.
No carnaval da Bahia, montamos um
aparato no trio elétrico do Gilberto Gil.
Na ocasião, por exemplo, ficamos 24 horas no ar. No Rock in Rio, colocamos a
Tenda Brasil em um canal, a Tenda Eletro em outro, inclusive com o sistema
multicâmera, em que cada canal mostra
um ângulo do mesmo ambiente e o telespectador atua como um diretor de TV,
fazendo os cortes. Essa é uma das possibilidades que só a TV por satélite tem.
Agora vamos mostrar o Chiva's Festival,
de jazz e blues, e estamos negociando o
8º Mix Brasil, um evento de cinema, vídeo e música GLS em novembro. Neste,
por sinal, poderemos programar os filmes mais picantes no canal 607, no sistema "pay-per-view".
Quais os outros diferenciais de uma TV
via satélite?
É possível interagir nos jogos eletrônicos, saber como está o tempo em duas
mil cidades do mundo e quatrocentas do
Brasil, fazer transações bancárias em determinadas instituições e ter acesso a canais de áudio com som de CD e as programações mais ecléticas.
Não há anúncios no canal 605?
Não, e esse é outro diferencial fundamental. O assinante já é bombardeado
por publicidade nas ruas, nas TVs aberta
e por cabo também. Alguns canais a cabo estão com intervalos comerciais de
quase três minutos. Nós temos parceiros
em nossos eventos; na verdade estamos
buscando um novo formato. Estreitamos relações com as gravadoras, por
exemplo, que nos permitem resgatar
grandes nomes da MPB, como o João
Donato, que nunca tinha tido um especial para a TV. Quando fomos procurá-lo, ele até riu. Disse: "Mas a TV nunca
quis nada comigo..."
E que informações vocês têm em relação à audiência?
Com o avanço da tecnologia, acho que
em dois ou três anos poderemos saber a
que programa cada telespectador nosso
está assistindo. Hoje, nosso marketing
faz pesquisas com os assinantes, recebemos e-mails e temos retorno dos parceiros sobre o desempenho de seus produtos no mercado. Outra maneira de saber
como está nossa audiência é pelos empresários dos artistas que apresentamos.
Vocês pensam em produzir programas
em estúdio, nos moldes das emissoras
convencionais?
Por enquanto, não. Trabalhamos com
equipes terceirizadas, a TeleImage, que
opera em sistema digital, e a Inova Produções, nosso braço artístico. Mas se
formos produzir programas em estúdio,
eles terão que ser inusitados, experimentais, coisas que, a princípio, podem até
assustar. Nosso papel é surpreender.
E o futebol?
Tivemos um grande êxito com a Copa
do Nordeste, que a Globo comprou e
não tinha espaço para mostrar fora da
região em que aconteciam os jogos.
Quebramos o paradigma de que não sabíamos fazer futebol. Transmitimos os
três jogos de cada rodada simultaneamente em canais distintos. Pegamos comentaristas nordestinos, equipes locais
e foi um investimento que compensou.
Baianos, pernambucanos do Brasil inteiro puderam ver seus times pela DirecTV, já que a Globo não exibia os jogos
no Sul e no Sudeste, por exemplo. Vamos transmitir pelos próximos três
anos. O Nordeste foi nosso campeão de
vendas de assinaturas no período do
campeonato.
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