São Paulo, domingo, 27 de maio de 2001

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ENTREVISTA/ ROGÉRIO BRANDÃO

"TV a cabo está ficando igual à aberta"

A operadora de TV paga via satélite DirecTV vai aumentar de 18 para 24 horas diárias a programação do canal 605, de conteúdo elaborado no Brasil. O gerente de programação, Rogério Brandão, 47, ex-Cultura, Band e Globo, diz que o cardápio das operadoras a cabo (leia-se Net e TVA) está ficando parecidíssimo com o da TV aberta - muitos, e cada vez mais longos, intervalos comerciais. Ele aposta na diversidade de seus 150 canais.

MARCELO MIGLIACCIO
DA REDAÇÃO

Qual é a posição da DirecTV no mercado de TV paga hoje?
Temos 500 mil assinantes no Brasil, dados oficiais de dezembro de 2000, e cerca de 1,3 milhão na América Latina. Nos Estados Unidos, onde a empresa começou, em 1994, são 8,7 milhões.

O maior pacote de assinatura tem 150 canais, e o canal 605 conta com uma programação elaborada no Brasil. O que vai mudar nele?
Procuramos colocar neste canal tudo o que há de interessante em termos culturais para nosso público, que, por enquanto, se concentra na chamada classe A+. Hoje, o 605 fica 18 horas no ar, com uma média de um evento principal por semana e pré-programas dos eventos que virão. A idéia é buscar parcerias para que esse canal fique 24 horas no ar.

Que tipo de eventos o canal transmite?
Coisas que não têm espaço na TV aberta e que, do jeito que as coisas estão caminhando, nem na TV paga via cabo. Costumo dizer que somos um portal televisivo, em que o telespectador não deve ficar trocando de canal freneticamente. O processo ideal é de navegação, com seleção prévia de programas. É o mundo novo que eu esperei durante toda a minha vida profissional.

E os eventos?
Transmitimos o São Paulo Fashion Week, as produções mais elogiadas do Festival Mundial do Minuto e da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. No carnaval da Bahia, montamos um aparato no trio elétrico do Gilberto Gil. Na ocasião, por exemplo, ficamos 24 horas no ar. No Rock in Rio, colocamos a Tenda Brasil em um canal, a Tenda Eletro em outro, inclusive com o sistema multicâmera, em que cada canal mostra um ângulo do mesmo ambiente e o telespectador atua como um diretor de TV, fazendo os cortes. Essa é uma das possibilidades que só a TV por satélite tem. Agora vamos mostrar o Chiva's Festival, de jazz e blues, e estamos negociando o 8º Mix Brasil, um evento de cinema, vídeo e música GLS em novembro. Neste, por sinal, poderemos programar os filmes mais picantes no canal 607, no sistema "pay-per-view".

Quais os outros diferenciais de uma TV via satélite?
É possível interagir nos jogos eletrônicos, saber como está o tempo em duas mil cidades do mundo e quatrocentas do Brasil, fazer transações bancárias em determinadas instituições e ter acesso a canais de áudio com som de CD e as programações mais ecléticas.

Não há anúncios no canal 605?
Não, e esse é outro diferencial fundamental. O assinante já é bombardeado por publicidade nas ruas, nas TVs aberta e por cabo também. Alguns canais a cabo estão com intervalos comerciais de quase três minutos. Nós temos parceiros em nossos eventos; na verdade estamos buscando um novo formato. Estreitamos relações com as gravadoras, por exemplo, que nos permitem resgatar grandes nomes da MPB, como o João Donato, que nunca tinha tido um especial para a TV. Quando fomos procurá-lo, ele até riu. Disse: "Mas a TV nunca quis nada comigo..."

E que informações vocês têm em relação à audiência?
Com o avanço da tecnologia, acho que em dois ou três anos poderemos saber a que programa cada telespectador nosso está assistindo. Hoje, nosso marketing faz pesquisas com os assinantes, recebemos e-mails e temos retorno dos parceiros sobre o desempenho de seus produtos no mercado. Outra maneira de saber como está nossa audiência é pelos empresários dos artistas que apresentamos.

Vocês pensam em produzir programas em estúdio, nos moldes das emissoras convencionais?
Por enquanto, não. Trabalhamos com equipes terceirizadas, a TeleImage, que opera em sistema digital, e a Inova Produções, nosso braço artístico. Mas se formos produzir programas em estúdio, eles terão que ser inusitados, experimentais, coisas que, a princípio, podem até assustar. Nosso papel é surpreender.

E o futebol?
Tivemos um grande êxito com a Copa do Nordeste, que a Globo comprou e não tinha espaço para mostrar fora da região em que aconteciam os jogos. Quebramos o paradigma de que não sabíamos fazer futebol. Transmitimos os três jogos de cada rodada simultaneamente em canais distintos. Pegamos comentaristas nordestinos, equipes locais e foi um investimento que compensou. Baianos, pernambucanos do Brasil inteiro puderam ver seus times pela DirecTV, já que a Globo não exibia os jogos no Sul e no Sudeste, por exemplo. Vamos transmitir pelos próximos três anos. O Nordeste foi nosso campeão de vendas de assinaturas no período do campeonato.



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