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MAKING OF
Com imagens da Cinemateca Brasileira, programetes trazem cenas da Segunda Guerra e da construção de Volta Redonda
Cinejornal traz de volta os anos 40 e é o lado sem cor de "Aquarela"
CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO
EM "TERRA Nostra", todo capítulo
trazia uma imagem antiga. De repente, aquela paisagem do início do século "ganhava vida" quando figurantes e
atores da novela entravam em cena. A
bossa com imagens do passado, bolada
pelo diretor Jayme Monjardim, reaparece em seu novo trabalho, "Aquarela do
Brasil", macrossérie que estreou na última terça-feira, na Globo.
Dessa vez, as imagens antigas são de cinejornais. O objetivo é ilustrar, com notícias da época, os temas abordados pela
trama, ambientada nos anos 40. Para não
misturar com a ficção, os cinejornais são
exibidos ao final de cada capítulo.
Há cenas da Segunda Guerra Mundial,
de Getúlio Vargas, do cassino da Urca, da
construção da usina de Volta Redonda.
Tudo garimpado na Cinemateca Brasileira, de São Paulo. O material é, sobretudo, do Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP) do Estado Novo e do
Ministério do Exército.
A responsável por essa arqueologia de
imagens é a consultora de criação Madalena Prado de Mendonça. "Grande parte
da pesquisa foi feita em vídeo, pois vários
rolos de película, originais, estão perdidos", conta. Uma parceria com a Cinemateca Brasileira garante o acesso a essas
imagens. Em troca, a Globo faz uma retelecinagem das fitas de VHS e U-Matic e
devolve no formato Beta, mais moderno.
As imagens que vão ao ar, porém, passam por mais um processo: a digitalização. "A definição é muito superior", diz o
editor José Carlos Monteiro, ressaltando
que, desde a novela "Explode Coração",
em 1995, todos os programas da Globo
são gravados e exibidos digitalmente.
A pesquisa para "Aquarela do Brasil"
vasculhou 20 horas de cinejornais. Isso
para selecionar pouco mais de 40 segundos para cada um dos 68 capítulos. Como a Globo paga cerca de R$ 1.000 por
minuto em direitos à Cinemateca, o pacote custará em torno de R$ 60 mil.
Algumas modificações nos cinejornais
foram necessárias. Os filmes que estavam em película foram lavados. Aqueles
que apresentavam um tom azulado foram padronizados para o preto-e-branco. O áudio original foi cortado. "Havia
vários filmes sem áudio ou com palavras
"comidas". Optamos por retirar o som,
decupar o texto da notícia e pôr um locutor, reproduzindo a linguagem da época.
Ficou muito fiel", afirma Madalena.
Para chegar aos cinejornais de que precisava, Madalena seguiu uma indicação
curiosa, que a levou ao Ministério do
Exército. "Por telefone, eles diziam que
os filmes não existiam. Mas um diretor
de TV me garantiu que havia assistido a
um filme quando serviu o Exército. Dias
depois, eles encontraram o cinejornal."
Outra curiosidade foi encontrada no
Cedoc (Centro de Documentação) da
própria Globo. É o filme "Rio de Janeiro,
Capital City of Brazil". "Esse curta, de
uns 15 minutos, foi feito pelos americanos em 1942. Ele mostra vários pontos da
cidade. Era uma forma de o governo
americano justificar para seus contribuintes onde estava aplicando US$ 20
milhões, destinados à construção de
Volta Redonda, em troca do apoio brasileiro na Segunda Guerra", diz Madalena.
Diferentemente dos cinejornais, cenas
do filme vão entrar na trama de "Aquarela". "O filme está sendo colorizado por
computador, com textura de aquarela.
Temos todo o cuidado com a forma, mas
sempre preservando o conteúdo", diz
Teresa Lampreia, assistente de direção
de Jayme Monjardim e responsável pela
pós-produção dos cinejornais.
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