São Paulo, domingo, 27 de agosto de 2000


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MAKING OF
Com imagens da Cinemateca Brasileira, programetes trazem cenas da Segunda Guerra e da construção de Volta Redonda
Cinejornal traz de volta os anos 40 e é o lado sem cor de "Aquarela"

CRISTIAN KLEIN
DA SUCURSAL DO RIO

EM "TERRA Nostra", todo capítulo trazia uma imagem antiga. De repente, aquela paisagem do início do século "ganhava vida" quando figurantes e atores da novela entravam em cena. A bossa com imagens do passado, bolada pelo diretor Jayme Monjardim, reaparece em seu novo trabalho, "Aquarela do Brasil", macrossérie que estreou na última terça-feira, na Globo.
Dessa vez, as imagens antigas são de cinejornais. O objetivo é ilustrar, com notícias da época, os temas abordados pela trama, ambientada nos anos 40. Para não misturar com a ficção, os cinejornais são exibidos ao final de cada capítulo.
Há cenas da Segunda Guerra Mundial, de Getúlio Vargas, do cassino da Urca, da construção da usina de Volta Redonda. Tudo garimpado na Cinemateca Brasileira, de São Paulo. O material é, sobretudo, do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) do Estado Novo e do Ministério do Exército.
A responsável por essa arqueologia de imagens é a consultora de criação Madalena Prado de Mendonça. "Grande parte da pesquisa foi feita em vídeo, pois vários rolos de película, originais, estão perdidos", conta. Uma parceria com a Cinemateca Brasileira garante o acesso a essas imagens. Em troca, a Globo faz uma retelecinagem das fitas de VHS e U-Matic e devolve no formato Beta, mais moderno.
As imagens que vão ao ar, porém, passam por mais um processo: a digitalização. "A definição é muito superior", diz o editor José Carlos Monteiro, ressaltando que, desde a novela "Explode Coração", em 1995, todos os programas da Globo são gravados e exibidos digitalmente.
A pesquisa para "Aquarela do Brasil" vasculhou 20 horas de cinejornais. Isso para selecionar pouco mais de 40 segundos para cada um dos 68 capítulos. Como a Globo paga cerca de R$ 1.000 por minuto em direitos à Cinemateca, o pacote custará em torno de R$ 60 mil.
Algumas modificações nos cinejornais foram necessárias. Os filmes que estavam em película foram lavados. Aqueles que apresentavam um tom azulado foram padronizados para o preto-e-branco. O áudio original foi cortado. "Havia vários filmes sem áudio ou com palavras "comidas". Optamos por retirar o som, decupar o texto da notícia e pôr um locutor, reproduzindo a linguagem da época. Ficou muito fiel", afirma Madalena.
Para chegar aos cinejornais de que precisava, Madalena seguiu uma indicação curiosa, que a levou ao Ministério do Exército. "Por telefone, eles diziam que os filmes não existiam. Mas um diretor de TV me garantiu que havia assistido a um filme quando serviu o Exército. Dias depois, eles encontraram o cinejornal."
Outra curiosidade foi encontrada no Cedoc (Centro de Documentação) da própria Globo. É o filme "Rio de Janeiro, Capital City of Brazil". "Esse curta, de uns 15 minutos, foi feito pelos americanos em 1942. Ele mostra vários pontos da cidade. Era uma forma de o governo americano justificar para seus contribuintes onde estava aplicando US$ 20 milhões, destinados à construção de Volta Redonda, em troca do apoio brasileiro na Segunda Guerra", diz Madalena.
Diferentemente dos cinejornais, cenas do filme vão entrar na trama de "Aquarela". "O filme está sendo colorizado por computador, com textura de aquarela. Temos todo o cuidado com a forma, mas sempre preservando o conteúdo", diz Teresa Lampreia, assistente de direção de Jayme Monjardim e responsável pela pós-produção dos cinejornais.


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