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São Paulo, domingo, 30 de março de 2003

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Táticas de guerra

Lalo de Almeida/Folha Imagem
Homem assiste o pronunciamento de George W. Bush em loja de eletrodomésticos de São Paulo


FERNANDA DANNEMANN
RODRIGO RAINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

EM TEMPOS de guerra, a programação das emissoras de TV se transforma num território sem lei: até um jogo da Copa Brasil, transmitido ao vivo pela Record, foi invadido, no último dia 19, quando o conflito no Iraque foi deflagrado. Palmeiras e Criciúma saíram de cena para dar lugar a um flash de quatro minutos sobre os ataques. O flash, aliás, é a grande arma dos canais na guerra da audiência. Na Gazeta, mais de 50 foram mostrados em uma semana. Curto por definição, ele atinge, num momento como este, proporções impensáveis, como aconteceu no dia 21, quando a Globo veiculou o seu boletim mais longo até agora: 18 minutos. Na Cultura, a primeira a exibir imagens dos bombardeios, graças ao convênio com a lusitana RTP, a ordem é não exagerar. "Essas cenas viraram rotina. Não queremos mostrar a guerra de forma sensacionalista", afirma Marco Antônio Coelho, diretor de jornalismo. Na sexta, 21, porém, quando Bagdá foi atacada, mais de 70% do "Jornal da Cultura" foram dedicados ao conflito. Na Band, o percentual foi de 90% e, atualmente, oscila entre 60% e 80%. "A guerra e o Datena aumentaram nossa audiência", afirma o diretor Fernando Mitre. Na Globo, o "Jornal Nacional" teve edição de uma hora no dia 20, e até a novela "Mulheres Apaixonadas" foi invadida pelos bombardeios.

Subida
O canal pago Globo News, 24h por dia no ar, vem registrando um aumento de telespectadores desde dezembro. Em fevereiro, quando a guerra já era iminente, teve o dobro da audiência registrada no mesmo mês do ano passado. "A medida da nossa cobertura é dada pelo interesse do público e pela dimensão do fato", informou a emissora. Para segurar o telespectador, o canal se voltou inteiramente para a cobertura do conflito, alterou horários de estréias e cortou programas gravados. No BandNews, a tática também é não dar tempo para os telespectadores mudarem de canal. "Nossa audiência triplica em eventos trágicos, por isso até derrubamos os intervalos", diz Humberto Candil, diretor de jornalismo do canal. Na TV aberta, a programação oscila ao sabor dos bombardeios. Na Band, o "Diário da Guerra" (22h), apresentado por Roberto Cabrini, criado para ser um programete de dez minutos, ficou no ar por quase cinco horas no dia 19, quando estreou. Graças aos picos de 12 pontos, virou um programa com 20 minutos de duração (cada ponto equivale a 47 mil domicílios na Grande SP). "Há a possibilidade de eu viajar para o Iraque, e uma idéia seria fazer o programa de lá", diz Cabrini. A Rede TV! se antecipou e mandou na semana passada dois jornalistas para o Oriente Médio.

Tarde bélica
Nem os programas de fofoca resistem. Na tarde do dia 20, a Band armou-se de José Luis Datena, que invadiu o "Melhor da Tarde" e o "Hora da Verdade" e ficou em segundo lugar na audiência das 15h às 19h40.
No dia seguinte, a Rede TV! foi à forra e atacou com Marcelo Rezende, que turbinado com 45 minutos a mais no "Repórter Cidadão", mostrou os pronunciamentos dos chefões das tropas americanas. Resultado: foi sua vez de ficar em segundo lugar na audiência e, com isso, até as pegadinhas de João Kléber tiveram menos espaço.
No mesmo momento, convocado às pressas, Datena mais uma vez entrou em cena no "Melhor da Tarde", na Band, e elevou o ibope de 2,2 para 3,4 pontos em menos de cinco minutos.
À noite, depois que Luciana Gimenez pulou de seis para oito pontos de média por mostrar o conflito, a Record quer que Adriane Galisteu aborde o assunto: ela mostrará reportagens e transmissões ao vivo até o final da guerra.


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