São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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ENTREVISTA CLÁUDIO PAIVA

O chefe da "Grande Família"

"Eles nunca vão dizer, mas a emissora [Globo] não tem orgulho desses "reality shows". Faz para a concorrência não fazer"

Cláudio Paiva, 44, foi cartunista do antigo "Pasquim", jornal de oposição ao governo militar nos anos 70, participou da revista humorística "Planeta Diário", e, na TV, foi redator-chefe do "TV Pirata", que inovou os humorísticos. Hoje, depois de seis anos no "Sai de Baixo", comanda a equipe de roteiristas de "A Grande Família", que recentemente mudou de horário e vem aumentando seu ibope. Ele falou ao TV Folha

MARCELO BORTOLOTI
FREE LANCE PARA A FOLHA

A nova montagem de "A Grande Família" seguiu o original dos anos 70?
No começo, a gente aproveitou alguns episódios. Pegamos todos os originais do Vianinha [Oduvaldo Viana Filho, dramaturgo que criou o seriado", selecionamos os melhores e adaptamos para os dias atuais. Mas, mesmo trabalhando com liberdade na adaptação, ainda sentíamos um certo peso da época. O tempo era outro, e o ritmo da televisão também, tudo era mais lento.
"A Grande Família" tem alguma fórmula que desperta a empatia do público?
A gente trabalha numa rotação muito próxima à do público. São sempre histórias cotidianas, fáceis de assimilar. Não tem nenhum grande herói ali, são pessoas normais, tentando sobreviver e enfrentar as dificuldades debaixo do mesmo teto. Na versão atual, temos também outra coisa que é essa idéia de flertar com o público da novela. Queremos roubar um pouco desses espectadores. Os melhores ibopes são nos episódios em que a gente deixa um pouco a comédia e adota uma linha sentimental.
Como está a audiência?
"A Grande Família" hoje tem uma característica própria, que é a audiência fixa até o final. Os programas geralmente têm perdas, o que é natural, mas, quando a gente começa, por exemplo, com uma média de 24 pontos, vamos com 24 até o final. Quer dizer que o público é cativo, e também que estamos conduzindo bem a história. Tivemos um teste maravilhoso em janeiro, quando entramos logo depois da novela. Foram três programas e, no terceiro, batemos 38 pontos.
O que você acha do Big Brother?
Eles nunca vão dizer oficialmente, mas a emissora, na verdade, não tem orgulho desses "reality shows". A Globo tem uma cara e uma linguagem próprias. Hoje em dia, diante da possibilidade de as grandes empresas de mídia invadirem o Brasil, a Globo, que ironicamente já foi uma grande inimiga da inteligência brasileira, é defendida pelos artistas. Porque eles percebem que é uma das poucas emissoras que criaram um núcleo de dramaturgia, desenvolveram técnicas de autores, atores, e diretores. Esses produtos, tipo "Big Brother", a emissora faz para a concorrência não fazer.
Mas atrasa a entrada do seu programa...
Eu reclamo muito, mas acho que o problema vem de antes. Com a popularização da televisão, desde que o Ratinho começou a dar ibope, e era um terror para a Globo, a emissora passou a espichar as novelas. A minha queixa é que o Ratinho caiu, porque era fogo de palha mesmo, e a Globo continua sacrificando toda essa faixa da programação.
Como foi a experiência do "TV Pirata"?
Aquele programa foi um momento único, porque a gente agrupou uma geração de criadores muito boa. Pessoas que já estavam fazendo o humor da época, mas que partiam de várias correntes. Gente da televisão, outros de revista como o "Planeta Diário", que foi de onde eu saí, o "Casseta Popular", além dos principais ícones do teatro besteirol.
Por que ele saiu do ar?
Acho que é uma característica dessa atual geração que está fazendo televisão. Nós fomos alternativos, já não somos mais, agora nós somos a televisão. Essa turma tem uma certa ansiedade de fazer coisas novas.
Como foi para você, que veio da mídia impressa, se adaptar à TV?
A televisão é muito estressante, você tem que ter fôlego. Seu trabalho é julgado a cada programa. Se deu certo numa semana, você é um herói, se não, você é um cachorro [risos]. Hoje, os produtores já perguntam se "A Grande Família" vai ter fôlego para o ano que vem.
E realmente vai ter fôlego?
Acho que sim. O fôlego na verdade vai depender muito do entusiasmo da equipe, dos atores, autores, e da direção.


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