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TV NO MUNDO
Globo de Ouro premia julgamentos
ESTHER HAMBURGER
em Austin
O julgamento moral está na pauta na televisão nos
Estados Unidos, no noticiário e nos seriados. Numa mais que espichada novela, o Congresso examina
as evidências, convoca testemunhas, se delicia com a
publicidade advinda do
exame da vida amorosa do
presidente Bill Clinton.
Como que seguindo a
onda, "Ally McBeal" e
"O Desafio", seriados que
a Fox exibe nos EUA e no
Brasil às segundas-feiras,
lideraram as premiações
do Globo de Ouro, no último domingo. Os dois seriados versam sobre batalhas jurídicas em torno da
legitimidade de condutas
morais.
A investigação criminal,
os procedimentos da acusação e da defesa e o embate regulado pelas armas da
lei estruturam o debate sobre a propriedade ética de
determinadas condutas
não claramente previstas
no texto legal. O julgamento oferece um instrumento
legítimo, reconhecido por
todos como capaz de encontrar padrões adequados do certo e do errado.
Os julgamentos da ficção
são também pretextos para
o comentário de costumes.
Conversas íntimas e situações engraçadas acontecem entre colegas no banheiro do escritório dos jovens advogados.
Os desajustes e inadequações da mulher moderna são tratados com humor. As grandes questões
morais são relacionadas ao
universo mais barra-pesada dos assassinatos violentos. A firula da lei em geral
é evocada para garantir a
vitória dos mais justos.
No Brasil, as investigações criminais são conhecidas por não reconstituírem os fatos e por embasarem julgamentos nem
sempre confiáveis. Uma
Justiça lenta, tida como
corrupta e incapaz de ditar
rumos a serem realmente
adotados, não serviu de
metáfora para a ficção.
Ao sul do Equador, o romantismo e o personalismo do melodrama se desenvolveram mais do que o
seriado legal. Aqui a vida
pública talvez nunca tenha
chegado mesmo a ser regida pelos mecanismos impessoais que garantiriam a
lisura da vida coletiva.
Nos Estados Unidos, a
investigação criminal vinha servindo de metáfora
para ilustrar a pesquisa em
busca da verdade. O procedimento burocrático dos
processos jurídicos parecia
ser capaz de terminar em
veredictos confiáveis.
Mas a narrativa infindável da soap-opera parece
ter contagiado a lisura racionalista dos processos
jurídicos. Casos como o de
O.J. Simpson mobilizaram
o mundo.
E no interminável julgamento de Bill Clinton, as
minúcias da lei chegam ao
limite do absurdo. Aqui
trata-se de discutir definições conceituais para os
atos mais essenciais. O seriado legal aqui parece ter
perdido a força para uma
narrativa mais do tipo
soap-opera, as novelas
americanas que não têm
fim porque seguem o ritmo
da vida.
E-mail: ehamb@uol.com.br
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