São Paulo, domingo, 31 de agosto de 1997.



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Marcelo Soubhia/Folha Imagem


Representantes das minorias sexuais, como o Rô-Rô Pedalada de "Zazá" (Marcos Breda, na foto), se tornam cada vez mais frequentes em novelas da Globo: estão ar atualmente um bissexual, uma lésbica e um pansexual

DANIEL CASTRO
da Reportagem Local

Os homossexuais Sandrinho (André Gonçalves) e Jeferson (Lui Mendes), de "A Próxima Vítima" (1995), fizeram escola.
Depois deles, a presença de representantes das minorias sexuais se tornou quase uma regra nas novelas da Globo. Sair do armário (assumir a opção sexual) virou rotina.
Estão no ar hoje, em duas novelas, três personagens ditos de sexualidade alternativa: o bissexual Rô-Rô Pedalada (Marcos Breda) e o pansexual Silas Vadan (Ney Latorraca), em "Zazá", e a lésbica Vieira (Catarina Abdala), em "A Indomada".
Antes disso, em "Salsa e Merengue", duas mulheres terminaram juntas. Depois de atravessarem a novela disputando o mesmo homem, o policial Moa (Johnny Rudge), Dayse (Rosi Campos) e Tereza (Angela Rebello) foram vistas trocando carinhos, na cama. A Globo escancarava o armário às 19h.
Hoje à noite, no quadro "A Vida Ao Vivo", no "Fantástico", Luis Fernando Guimarães vai aparecer na cama com Oscar Magrini.
Guimarães é Russo e Magrini, Roberto. Jorjão (Pedro Cardoso) desconfia que sua mulher está tendo um caso com Russo. Mas descobre que Russo gosta mesmo é de Roberto.
"Esse tipo de personagem reflete uma mudança de mercado: os homossexuais e os bissexuais são consumidores, têm poder aquisitivo. O capital não tem moral", afirma Marcos Breda, 36, o Rô-Rô Pedalada, personagem dividido pelo amor de homens e de mulheres.
"Uma vez que a novela retrata a realidade, todo contexto humano interessa a ela. É a abertura dos costumes", afirma Mauro Alencar, consultor de novelas da Rede Globo.
"Há uma tendência nas novelas de se abrir o leque, de se criar todo tipo de pessoa", diz Lauro Cesar Muniz, autor de "Zazá".
Muniz diz que Rô-Rô, um personagem secundário, do núcleo de humor na novela das sete, é pouco. "Está faltando um protagonista homossexual."
Ele prepara, junto com Alcides Nogueira (autor de "O Amor Está no Ar") uma minissérie em que os dois principais personagens são homossexuais.
Baseada no livro "Risco de Vida", de Alberto Guzik, a minissérie (em 12 capítulos, ainda não confirmada pela Globo) retrata um casal gay, que enfrenta a Aids e a morte.
Enquanto a minissérie não vinga, Muniz se ocupa de Rô-Rô e de Silas Vadan. Há duas semanas, foi ao ar uma cena em que Silas se declarava pansexual -personagem inédito na teledramaturgia. "O pansexual tem disposição para tudo: homem, mulher, animal. Mas, no fundo, acho que Silas é edipiano (apaixonado pela mãe) e solitário", afirma o dramaturgo Muniz.
Em "A Indomada", Vieira (Catarina Abdala) anda chorando de amores por Zenilda (Renata Sorrah), porque a "amiga" se apaixonou por Pedro Afonso (Claudio Marzo).
"Há uma pesquisa mostrando que telespectadores querem que a Vieira se acerte com uma mulher. Fico contente de ter quebrado o preconceito sem explicitar a relação", diz Ricardo Linhares, co-autor da novela. "A Vieira tem de terminar com uma mulher", diz, torcendo, a atriz Catarina Abdala.



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