São José dos Campos, Sábado, 1 de maio de 1999

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INVASÃO
Delegado apreende cápsulas de armas encontradas por sem-teto, inclusive de escopetas, utilizadas pela PM mineira
Polícia vistoria local de conflito em MG

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

A Polícia Civil de Minas Gerais, acompanhada pelo Ministério Público, fez ontem a primeira investigação na fazenda Bandeirinhas, em Betim (região metropolitana de Belo Horizonte), local da morte de dois sem-teto baleados durante um conflito com a PM mineira na última segunda-feira.
O promotor Gregório Assagra de Almeida disse que não foi possível fazer a investigação antes porque os sem-teto "estão muito assustados e não havia possibilidade da presença da polícia" sem que a tensão voltasse a aumentar.
A tensão só diminuiu depois que, anteontem, a prefeitura aceitou a proposta do Ministério Público de assentar 200 famílias em dois lotes. Os sem-teto têm até a próxima segunda-feira para dizer se também concordam com essa solução.
Nem a polícia nem o Ministério Público puderam entrar no acampamento, se restringindo a inspecionar a área em volta, onde ocorreu o conflito de segunda. Na entrada, foi montada uma barricada de galhos.
Ontem, na fazenda Bandeirinhas, o delegado Hélcio de Sá Bernardes apreendeu cápsulas de armas de fogo que foram encontradas pelos sem-teto acampados no local, há 48 dias.
Segundo o delegado, foram apreendidas entre oito e dez cápsulas, inclusive de escopetas, armas utilizadas pela PM mineira. Segundo o laudo de balística, os projéteis que mataram os sem-teto podem ter saído de escopeta, cartucheira ou arma artesanal.
O major Alexandre Lucas Alves, da Polícia Militar de Betim, disse que os policiais tinham munição verdadeira, mas não a usaram.
Segundo o delegado, as cápsulas serão examinadas e comparadas com as armas da PM, que foram recolhidas após o confronto. Os sem-teto dizem não ter armas.
Depois do conflito com a Polícia Militar, os sem-teto fizeram do terreno invadido uma verdadeira "ilha". Os cerca de 600 acampados -com exceção de aproximadamente 200 crianças- se revezam dia e noite para garantir a segurança do lugar. Nenhum desconhecido entra e o trânsito dos próprios sem-teto é cuidadosamente controlado.
O comportamento do grupo, articulado no discurso e na ação, assustou a PM e a prefeitura, que comparam a prática adotada por eles à de organizações guerrilheiras. Os rostos cobertos por tecidos, improvisando capuz, e a troca da identidade por codinomes até para falar entre si não são as únicas atitudes vistas com estranheza.
Faixas e cartazes estendidos na cerca culpam o prefeito petista Jésus Lima pelas duas mortes resultantes do conflito.
A "porta" que dá acesso ao acampamento é uma espécie de labirinto, também de paus e arames.



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