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INVASÃO
Delegado apreende cápsulas de armas encontradas por sem-teto, inclusive de escopetas, utilizadas pela PM mineira
Polícia vistoria local de conflito em MG
CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte
A Polícia Civil de Minas Gerais,
acompanhada pelo Ministério Público, fez ontem a primeira investigação na fazenda Bandeirinhas,
em Betim (região metropolitana
de Belo Horizonte), local da morte
de dois sem-teto baleados durante
um conflito com a PM mineira na
última segunda-feira.
O promotor Gregório Assagra de
Almeida disse que não foi possível
fazer a investigação antes porque
os sem-teto "estão muito assustados e não havia possibilidade da
presença da polícia" sem que a
tensão voltasse a aumentar.
A tensão só diminuiu depois que,
anteontem, a prefeitura aceitou a
proposta do Ministério Público de
assentar 200 famílias em dois lotes.
Os sem-teto têm até a próxima segunda-feira para dizer se também
concordam com essa solução.
Nem a polícia nem o Ministério
Público puderam entrar no acampamento, se restringindo a inspecionar a área em volta, onde ocorreu o conflito de segunda. Na entrada, foi montada uma barricada
de galhos.
Ontem, na fazenda Bandeirinhas, o delegado Hélcio de Sá Bernardes apreendeu cápsulas de armas de fogo que foram encontradas pelos sem-teto acampados no
local, há 48 dias.
Segundo o delegado, foram
apreendidas entre oito e dez cápsulas, inclusive de escopetas, armas utilizadas pela PM mineira.
Segundo o laudo de balística, os
projéteis que mataram os sem-teto
podem ter saído de escopeta, cartucheira ou arma artesanal.
O major Alexandre Lucas Alves,
da Polícia Militar de Betim, disse
que os policiais tinham munição
verdadeira, mas não a usaram.
Segundo o delegado, as cápsulas
serão examinadas e comparadas
com as armas da PM, que foram
recolhidas após o confronto. Os
sem-teto dizem não ter armas.
Depois do conflito com a Polícia
Militar, os sem-teto fizeram do terreno invadido uma verdadeira
"ilha". Os cerca de 600 acampados
-com exceção de aproximadamente 200 crianças- se revezam
dia e noite para garantir a segurança do lugar. Nenhum desconhecido entra e o trânsito dos próprios
sem-teto é cuidadosamente controlado.
O comportamento do grupo, articulado no discurso e na ação, assustou a PM e a prefeitura, que
comparam a prática adotada por
eles à de organizações guerrilheiras. Os rostos cobertos por tecidos,
improvisando capuz, e a troca da
identidade por codinomes até para
falar entre si não são as únicas atitudes vistas com estranheza.
Faixas e cartazes estendidos na
cerca culpam o prefeito petista Jésus Lima pelas duas mortes resultantes do conflito.
A "porta" que dá acesso ao
acampamento é uma espécie de labirinto, também de paus e arames.
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