São José dos Campos, Domingo, 05 de Novembro de 2000

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RELIGIÃO 3
Pesquisa feita na Unitau (Universidade de Taubaté), em dois anos, aponta que fenômeno deve-se à modernização
Católicos abandonam imagens de santos

DA FOLHA VALE

As igrejas do Vale do Paraíba e litoral norte estão diminuindo o uso de imagens em altares, o que está provocando uma "privatização" de santos, segundo pesquisa desenvolvida por alunos de pós-graduação da Unitau (Universidade de Taubaté).
De acordo com a pesquisa, o fenômeno é provocado pela modernização da Igreja Católica.
Pressionada pelo crescimento dos evangélicos, que na maioria dos casos abominam o culto a imagens, a Igreja Católica está procurando verbalizar a crença.
Os católicos estão deixando de lado as imagens, para privilegiar as pregações com o culto à palavra.
As imagens de santos estão sendo trocadas por reproduções de passagens bíblicas.
Um dos motivos, segundo o professor da Unitau José Rogério Lopes, é a tentativa da Igreja Católica de se aproximar dos evangélicos.
Se trata, segundo o professor, de uma guinada ao ecumenismo, que vem prevalecendo no final de século.
""A igreja está se modernizando para se recuperar das cisões que sofreu com o surgimento do Protestantismo", afirmou o professor.
Embora, do ponto de vista geral, a mudança possa parecer positiva para a sociedade, é, na verdade, de acordo com a leitura do professor, uma forma de desrespeito aos católicos mais tradicionais, aqueles que ainda mantêm a crença nos santos e cultuam as imagens.
""Essa ótica provoca uma privatização dos santos. É um desrespeito à crença dos fiéis que ainda se mantêm devotos aos santos", afirmou.
A pesquisa foi realizada com depoimentos de leigos, padres e fiéis, durante cerca de dois anos.
Além da chamada ""privatização" dos santos, de acordo com Lopes, a mudança no perfil da igreja levou à proliferação de altares domésticos.
""Já que não os encontram nas igrejas, os católicos passaram a espalhar santos pela casa. Só não há nos banheiros", afirmou.

Divergência
O resultado da pesquisa é contestado, pelo menos em parte, pelo padre Rinaldo Roberto de Rezende, assessor das pastorais da Diocese de São José dos Campos.
Segundo o padre, a igreja está se modernizando, mas não impede a devoção aos santos, embora recomende cautela na crença.
""Não queremos que as pessoas associem as imagens a Deus. As imagens são como um álbum de família, estão aí para lembrar as pessoas e servir de exemplo", afirmou o padre à Folha. (KEILA RIBEIRO)

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