São José dos Campos, Sexta-feira, 20 de Abril de 2001

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O PODER DO CRIME
A médica Eulália Pedrosa Almeida, 44, que passou 42 horas em poder de sequestradores, está bem
Filha de diretor da Custódia é libertada

Clarice Santos/Folha Imagem
A médica Eulália Pedrosa Almeida, 44 (ao centro), ao deixar helicóptero que a levou para Taubaté


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A Polícia Civil libertou ontem a médica Eulália Pedrosa Almeida, 44, filha do diretor afastado da Casa de Custódia de Taubaté, José Ismael Pedrosa, que havia sido sequestrada na terça-feira, provavelmente por integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).
A médica passou 42 horas no cativeiro, em um morro em Santos (SP), e, segundo um investigador, disse que os sequestradores comentavam que ela poderia ser trocada por presos, provavelmente da Casa de Custódia.
O cativeiro, no morro Nova Cintra, foi descoberto após informações recebidas pela polícia na tarde de anteontem.
Pedrosa, que foi afastado temporariamente do cargo pelo secretário Nagashi Furukawa (Administração Penitenciária), disse ontem que ainda não decidiu se vai voltar à direção da Custódia.

Sem negociações
O secretário da Segurança Pública, Marco Vinício Petrelluzzi, declarou que o Estado suspeita da participação do PCC na ação, mas não tem ainda provas concretas para confirmar a versão.
Segundo ele, a médica foi encontrada por uma ação da Polícia Civil. Petrelluzzi disse que não houve participação de informantes ligados ao PCC para a descoberta do cativeiro. O governo do Estado, segundo Petrelluzzi, em nenhum momento negociou com facções criminosas.
"O Estado não abriu mão de sua autoridade e não há a hipótese de agir de outra forma", disse.
Para o delegado-seccional de Taubaté, Roberto Martins de Barros, a polícia já tem indícios da ligação dos suspeitos com o PCC, o que reforçaria a autoria do grupo no sequestro.
Além da localização do cativeiro, as denúncias apontaram também a localização da casa de outros dois suspeitos, no Guarujá, que integravam o grupo.
Em uma ação simultânea no cativeiro e no Guarujá, foram presos S.L.S., 20, C.S., 38, e F.V.A., 28, acusados de participar do sequestro.
A polícia está realizando ainda buscas no litoral paulista para encontrar um fugitivo do grupo e outros seis suspeitos.
Segundo o depoimento de Eulália à polícia, a médica foi levada após o seu sequestro para uma favela em São Paulo, onde permaneceu até as 19h da terça. Ela não se alimentou no período.
Em seguida, quatro homens encapuzados a levaram para um barraco em Santos, onde Eulália permaneceu isolada assistindo TV, sem contato com os sequestradores.
Na Deas (Delegacia Anti-sequestro), em São Paulo, S.L.S., C.S. e F.V.A. negaram a ligação com o PCC e disseram à polícia que foram pagos somente para cuidar da médica.

Flores e aplausos
Eulália chegou a Taubaté em um helicóptero da Polícia Civil e seguiu até a casa de Pedrosa, localizada ao lado da Custódia, por volta das 15h de ontem, quando foi recebida com aplausos de amigos e familiares.
Pedrosa declarou que a filha está bem, apesar de muito abalada com o sequestro. "Foi tudo muito emocionante, principalmente por causa da expectativa", disse.
Segundo ele, Eulália foi medicada com tranquilizantes e aproveitaria a tarde para descansar.
O marido de Eulália, o engenheiro Luiz Alberto de Almeida, afirmou que havia falado com a mulher por telefone logo após a descoberta do cativeiro e que ela estava bem e com muita saudade da família.
Durante todo o dia, a família de Pedrosa recebeu a visita de parentes, amigos e colegas de trabalho. A movimentação começou pela manhã, quando a família recebeu a notícia da libertação. (KEILA RIBEIRO, CAROLINA FARIAS, ROBERTA MEDEIROS E DEBORAH COSTA)


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